Folha de S. Paulo


Investimento fora do Brasil é caro e requer cuidados extras

Quando conhecidas empresas internacionais resolvem lançar ações, especialmente nos EUA, o investidor brasileiro pode achar que é uma oportunidade para embarcar no bom desempenho dessas companhias.

Foi assim com o Facebook e, mais recentemente, com a chinesa Alibaba, em que a demanda de investidores pela compra de ações na abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) foi tão grande que a levou a encerrar o período de reservas antes do previsto.

Mas, antes de se aventurar em uma aplicação internacional, é preciso saber que investir diretamente no exterior em ações ou em outros papéis, como títulos ou debêntures, não cabe em todos os bolsos.

Editoria de arte/Folhapress

Apesar de ser uma alternativa interessante de diversificação, o processo é caro, devido aos altos custos envolvidos, como tarifas para envio de recursos para fora do país.

Se a intenção for comprar ações listadas na Bolsa de Nova York, por exemplo, o procedimento exige trâmites burocráticos, começando pela abertura de conta em uma corretora de valores naquele país -não precisa necessariamente ser em uma instituição que também tenha operações no Brasil.

É preciso ter passaporte válido, comprovar renda e preencher uma série de formulários cadastrais, como o "Form W-8", no qual o investidor deve informar não ser residente nos EUA e, assim, não recolher impostos lá.

Em seguida, o investidor terá de procurar o seu banco no Brasil e informar que quer fazer uma transferência internacional para a conta da corretora no exterior -a parte mais cara do processo.

"Essas transações cobram taxas altas e, portanto, acabam não compensando para quem possui um volume limitado de recursos, como
R$ 5.000 ou R$ 10 mil", diz Rodrigo Jabali, sócio da XP Securities em Miami.

PRAZO

O tempo de conclusão da transação, ou seja, o prazo para que o dinheiro caia na conta no exterior, varia conforme cada instituição, mas pode levar mais que um dia.

É preciso considerar a demora se o objetivo for mandar recursos para aproveitar oportunidades de momento no mercado americano. Quando o dinheiro chegar lá, o investidor pode já ter perdido a hora certa de comprar o produto financeiro desejado por um preço atraente.

"Esse cuidado vale principalmente se o objetivo for participar de lançamentos de ações", diz James Gulbrandsen, sócio da gestora NCH Capital no Brasil.

Para o especialista, que é americano, será mais fácil para o brasileiro avaliar oportunidades no exterior quando a cultura de investimento estiver mais firme no país.

"Nos EUA, por exemplo, 80% das pessoas possuem uma carteira de aplicações em corretora. No Brasil, não chega a 10%."

Concluída a transferência de recursos ao exterior, o investidor poderá adquirir todos os produtos disponíveis no mercado de capitais daquele país que couberem no seu bolso, não apenas ações.

Entre os brasileiros que operam nos EUA, por exemplo, são muito procuradas as debêntures -títulos de dívidas privadas-, especialmente das empresas do Brasil.

VALOR ALTO

Não há um valor mínimo preestabelecido para investir no exterior, mas, como as taxas de transferência são altas, o investimento acaba valendo a pena apenas se o montante for significativo.

Na XP, por exemplo, US$ 100 mil costuma ser a cifra inicial para brasileiros que levam dinheiro para aplicar nos EUA pela corretora.

"Abaixo disso fica difícil para nossa equipe formar uma carteira bem diversificada", diz Rodrigo Jabali.

"Focamos em clientes com entrada mínima de recursos de US$ 300 mil porque podemos dar um atendimento mais específico. Mas avaliamos cada caso individualmente", afirma Cláudio Pacini, da Gradual.


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