Folha de S. Paulo


Governo vai esperar conclusão de sindicância sobre IBGE para agir

A ministra Miriam Belchior (Planejamento) afirmou, em coletiva de imprensa neste sábado (20), que o governo só vai adotar providências a respeito do "erro gravíssimo" cometido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) após a conclusão de uma sindicância que trabalhará por 30 dias, prorrogáveis pelo mesmo período.

O instituto informou na sexta-feira (19) que a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada um dia antes, continha erros e retificou uma série de dados. O problema teria ocorrido porque o peso das regiões metropolitanas foi superestimado em alguns Estados.

"Criamos uma comissão de sindicância, tem um prazo para analisar e estabelecer a recomendação ao governo. Só depois disso, o governo tomará qualquer providência. Gostaria de não fazer juízos antecipadamente", disse a ministra quando questionada sobre a permanência da atual presidente do instituto, Wasmália Bivar. O IBGE é uma entidade vinculada ao Planejamento.

Belchior afirmou que a rápida correção "não apaga o erro, que de fato é gravíssimo", mas mostrou transparência do instituto –que foi alertado, após a divulgação dos primeiros dados, por "uma série de órgãos, de dentro e fora do governo", segundo a ministra.

Alan Marques/Folhapress
Ministra Miriam Belchior (Planejamento) fala sobre os índices de desenvolvimento divulgados pela PNAD
Miriam Belchior, ministra do Planejamento, fala sobre os erros do IBGE na Pnad em coletiva de imprensa

Entre as informações alteradas pelo IBGE estão o índice de Gini do trabalho, que mede a distribuição de rendimentos do trabalho. A taxa corrigida ficou em 0,495 em vez de 0,498; em 2012, como comparação, o índice foi 0,496 (quanto mais perto de 1, maior é a desigualdade).

Outra correção feita foi em relação à estimativa de alta da renda do trabalho. Na quinta (18), foi divulgado um aumento de 5,7%, percentual que agora cai para 3,8%. O próprio IBGE classificou como um erro grave a divulgação de dados incorretos, calculados com base em projeções erradas de sete Estados.

PERPLEXIDADE

A ministra disse que a presidente Dilma Rousseff foi alertada sobre os equívocos na sexta (19), antes de viajar para o Rio de Janeiro, e que reagiu com perplexidade frente "a um erro tão básico".

"Ela reagiu, como a gente tem dito, absolutamente perplexa que o IBGE possa ter cometido um erro tão básico que é não ter feito de forma completa a checagem e rechecagem. Perplexidade", disse Belchior.

A ministra já havia concedido uma coletiva, na noite de sexta, em que anunciava as ações do governo para apuração do erro do IBGE.

Na ocasião, disse que o governo federal estava "chocado" com o erro cometido pelo instituto.

TENDÊNCIA

Além de Belchior, participaram da coletiva deste sábado os ministros Henrique Paim (Educação), Tereza Campello (Desenvolvimento Social) e Marcelo Neri (Assuntos Estratégicos).

Neri disse estar convencido que os dados de 2014, que serão divulgados no próximo ano, apontarão queda significativa na desigualdade.

"A estabilidade da desigualdade não veio para ficar, repito o que falei. Se em 2011 e 2013, a desigualdade apresentou ligeira queda, em 2014 será uma queda muito forte, [indicada previamente] pelos dados da PME [Pesquisa Mensal do Emprego]."

Para Campello, o episódio serve de lição para que se olhem as tendências. "Todo mundo que se apegou a microvariações para tirar consequências dramáticas acabou errando. Vamos olhar a tendência."

E completou, resumindo sua avaliação: "A renda cresce para todos os brasileiros, o salário real cresce. O mundo em crise, e o Brasil continua mantendo o crescimento da renda por dois anos consecutivos."


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