Folha de S. Paulo


Após Fed, Bolsa fecha no zero a zero mesmo com alta de 2,7% da Petrobras

Depois de ter subido até 1,5% no início do dia, o principal índice da Bolsa brasileira perdeu força durante a tarde, após a reunião do Fed (banco central americano), e fechou no zero a zero, com investidores ajustando suas posições após duas altas consecutivas.

A autoridade monetária americana manteve inalterado os juros naquele país, conforme o esperado, e cortou em US$ 10 bilhões seu estímulo mensal através da recompra de títulos. O Fed também voltou a dizer que manterá os juros perto de zero por um "período considerável de tempo".

No entanto, a presidente do Fed, Janet Yellen, disse que o comunicado não é promessa firme sobre o intervalo de tempo certo para iniciar a elevação da taxa de juros. Um aumento deixaria os títulos do Tesouro dos EUA, que são remunerados pela taxa e considerados de baixíssimo risco, mais atraentes que aplicações em emergentes, provocando uma migração de recursos desses mercados de volta à economia americana.

Assim, o Ibovespa teve ligeiro recuo de 0,01%, para 59.108 pontos. O índice havia subido 3,8% nos dois pregões anteriores. O volume financeiro movimentado no dia foi de R$ 6,166 bilhões –abaixo da média diária em setembro, de R$ 8,015 bilhões, e pouco inferior à média do ano, de R$ 6,315 bilhões.

ESTATAIS

Nem mesmo o forte desempenho das ações da Petrobras conseguiu manter o Ibovespa no azul. Os papéis preferenciais (sem direito a voto) da estatal fecharam em alta de 2,65%, para R$ 22,12 cada um. Eles chegaram a subir 4,5% durante o pregão.

Outra estatal, a Eletrobras, subiu. A ação ordinária (com direito a voto) da companhia de energia encerrou a quarta-feira com ganho de 2,75%, a R$ 7,86. Já o Banco do Brasil, que chegou a registrar valorização de 3,8% no pregão, fechou estável em R$ 33,20.

Os papéis dessas empresas, segundo analistas, refletiram o resultado da pesquisa Ibope divulgada ontem, que mostrou queda nas intenções de voto para a presidente Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB), e Aécio Neves (PSDB), o terceiro colocado na disputa pela Presidência da República, ganhando espaço na corrida eleitoral.

"O mercado subiu no boato e ajustou no fato", diz João Pedro Brügger, analista da gestora de recursos Leme Investimentos. Ontem, a Bolsa havia subido com expectativa de queda da presidente Dilma em levantamento Ibope, o que foi confirmado no final do dia.

IBOPE

A pesquisa mostrou que Dilma lidera o 1º turno com 36%, três pontos percentuais a menos que na pesquisa anterior do mesmo instituto. Já Marina alcança 30%, recuo de um ponto, enquanto Aécio subiu de 15% para 19%. Na simulação de 2º turno entre Dilma e Marina, houve empate técnico: 43% para a candidata do PSB contra 40% para a petista. Antes, os percentuais eram de 42% e 41%, respectivamente.

"Com certeza essa pesquisa foi recebida com cautela por parte da campanha da presidente. (...) Muito provavelmente a agressividade na campanha e até mesmo o 'bater' fortemente em Marina parece não fazer mais efeito e pode ter causado até um efeito negativo, tendo passado da dose", diz o analista Ricardo Kim, da XP Investimentos, em relatório.

"Já Marina, a avaliação é neutra, ela tem conseguido resistir aos ataques de Dilma e Aécio muito bem, inclusive ontem a estratégia carregada em emoção falando sobre ter passado fome deve ter um efeito positivo para ela. Tem sido a saída dela para combater os ataques e, a princípio, tem dado certo", acrescenta Kim.

Segundo Marcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest, é preciso lembrar que o mercado tem sido movido por especulações. "Pesquisa é pesquisa. O mercado aposta em mudanças, mas, depois da eleição, vamos ter que ver como essas mudanças serão aplicadas. Em termos macroeconômicos, o país está mal. O crescimento é pífio", diz.

PAPÉIS

Os papéis da Embraer ganharam 1,24%, a R$ 23,59. A fabricante de jatos anunciou uma encomenda firme da Republic Airways, operadora com a maior frota do mundo, de 50 aviões E175. O valor dos pedidos firmes, que estarão incluídos na carteira de pedidos do terceiro trimestre de 2014, é estimado em US$ 2,1 bilhões, com base nos preços de lista deste ano.

Quem liderou as maiores altas do Ibovespa foi a TIM, com avanço de 3,33%, a R$ 13,64. A Telecom Italia afirmou à sua controlada brasileira TIM que não há nenhuma discussão em curso para uma oferta de compra da rival Oi, informou a TIM nesta quarta-feira. As ações da Oi, por sua vez, subiram 2,44%, a R$ 1,68.

O conselho de administração da Oi aprovou a contratação de opção de compra de ações entre subsidiárias da companhia e a Portugal Telecom, em mais uma etapa do processo de fusão de entre os dois grupos e na sequência do escândalo envolvendo a perda de cerca de 900 milhões de euros em investimentos feitos pelo grupo português.

Do outro lado do Ibovespa, as ações da Cemig encabeçaram a lista das maiores perdas do índice, com desvalorização de 6,49%, a R$ 15,85. Ontem, o coordenador-geral do programa de governo do candidato do PT a governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, disse em entrevista ao jornal Valor Econômico que entre as intenções de um futuro governo petista está a redução da tarifa de energia elétrica no Estado.

Outra ação de muito volume que teve queda neste pregão foi a da Ambev, que recuou 1,73%, para R$ 15,95, após dois dias consecutivos de alta.

CÂMBIO

No câmbio, o dólar voltou a subir em relação ao real nesta quarta-feira, após sinalizações de Yellen sobre os juros nos EUA. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve valorização de 0,85%, para R$ 2,345 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 1,24%, para R$ 2,358.

O Banco Central deu continuidade ao seu programa de intervenções diárias no câmbio, através do leilão de 4.000 swaps (operação que equivale a uma venda futura de dólares), sendo 3.000 com vencimento em 1º de junho de 2015 e 1.000 com vencimento em 1º de setembro de 2015, pelo total de US$ 198,2 milhões.

A autoridade também promoveu mais um leilão para rolagem de 6.000 contratos de swap que vencem em 1º de outubro, por US$ 296,4 milhões. Até o momento, o BC já rolou cerca de 35% do lote total de contratos com prazo para o primeiro dia do mês que vem.

Na segunda-feira, fonte da equipe econômica do governo disse à Reuters que o Banco Central poderá aumentar o volume de rolagem de swaps para tentar amenizar a volatilidade no mercado de câmbio, mas que a autoridade não deve mexer no tamanho do programa de intervenções diárias até o fim de 2014.

Com Reuters


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