Folha de S. Paulo


Banco central chinês injetará US$ 81 bilhões no sistema bancário

O banco central da China planeja injetar 500 bilhões de yuan (US$ 81 bilhões) no sistema bancário, de acordo com operadores e analistas locais, na mais recente tentativa pontual de Pequim de restaurar o crescimento deteriorado na segunda maior economia do planeta.

A iniciativa é vista por muitos como resposta à desaceleração da economia, no mês passado. Entre outros dados insatisfatórios, a produção industrial de agosto não impressionou, com crescimento anualizado de 6,9%, o número mais baixo desde a crise financeira mundial.

Os números fracos também surgem ao final do trimestre fiscal e antes dos feriados nacionais que se iniciam em 1º de outubro– dois momentos de aperto peculiarmente intenso na liquidez.

EMPRÉSTIMO

O banco central chinês ofereceu fundos discretamente aos cinco maiores bancos comerciais do país, em base temporária e com prazo de três meses, por meio de um mecanismo relativamente novo conhecido como linha de empréstimo permanente.

O montante equivale a um corte de 0,5% na razão de reserva de capital (RRR) que as instituições financeiras comerciais chinesas precisam manter por meio de depósitos junto ao banco central, de acordo com os analistas.

O banco central e a principal autoridade regulatória do sistema bancário chinês se recusaram a confirmar a medida, o que sublinha o desejo do governo de não enviar um sinal forte de relaxamento ao mercado.

Enquanto as ações H, cotadas em Hong Kong, subiram em 1% com o anúncio, as ações A, cotadas na China, subiram em menos de 0,5% ontem, o que indica um nível mais baixo de empolgação entre os investidores internos.

Analistas e operadores disseram que dirigentes do banco central haviam confirmado a medida em conversas privadas, e que os grandes bancos já haviam iniciado novas e fortes aquisições de títulos interbancários.

REAÇÕES CONTROLADAS

Na semana passada, o primeiro-ministro chinês Le Keqiang disse que Pequim não reagiria de forma exagerada a flutuações de curto prazo nos indicadores de crescimento.

"As autoridades estão tentando evitar o envio de uma mensagem forte demais ao mercado, mas não querem ver escassez de liquidez com a aproximação do feriado longo e do início do trimestre", disse Wang Tao, economista chefe do UBS para o mercado da China.

"Dada a fraqueza continuada na economia, acreditamos que o governo deva intensificar suas medidas de apoio e provavelmente reduzirá as taxas de juros de referência até o final do ano".

Medidas de apoio adotadas nos últimos meses incluem cortes no RRR para as instituições de crédito rural, um relaxamento nas restrições a aquisições locais de moradias, e acesso mais fácil a fundos para os incorporadores de imóveis e as pequenas e médias empresas.

"[As autoridades] têm um dilema", disse Qiao Liu, diretor assistente da Escola Guanghua de Administração de Empresas, na Universidade de Pequim.

"Por um lado elas desejam manter o crescimento econômico, o que requereria uma política monetária mais frouxa".

"Por outro, elas querem promover um reequilíbrio e ajuste estrutural. Mas há uma contradição entre as duas coisas", ele afirmou.

PACOTE DE GASTOS

A China lançou um pacote de gastos de quatro trilhões de Yuan –na época o equivalente a US$ 570 bilhões– depois da crise financeira do começo de 2009, entre cujos efeitos colaterais negativos estavam imensas dívidas e um excesso crônico de atividade no setor de construção.

Andy Rothman, diretor de investimento da Matthews Asia, uma administradora de ativos, minimizou a importância da injeção de capital, definindo-a como "sinal fraco" de que as autoridades estão de olho na economia.

"Se eles estivessem preocupados, teriam aproveitado a oportunidade para tomar medidas mais concretas, como o corte da taxa básica de juros", disse.

Jian Chang, economista do Barclays, disse que as medidas de curto prazo eram provavelmente um ataque preventivo para evitar escassez de caixa nas próximas semanas.

É comum que haja escassez de liquidez no final do trimestre e durante feriados longos como o da "Semana Dourada", e novas ações nos mercados e mudanças na regulamentação bancária podem agravar o problema este ano, ela acrescentou.

"As medidas terão papel limitado quanto ao aumento da liquidez na economia real, porque as empresas estão hesitando em captar recursos junto aos bancos devido aos altos custos dos empréstimos", disse Qi Yifeng, do grupo de pesquisa CEBM.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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