Folha de S. Paulo


Colecionadores gastam milhões de dólares em carros antigos

Em 2013, dois apartamentos em Manhattan foram vendidos por mais de US$ 90 milhões (R$ 207 milhões) e um quadro de Francis Bacon saiu por US$ 142,4 milhões (R$ 327,5 milhões).

Agora vem o carro de US$ 38,1 milhões (R$ 87,6 milhões). Foi o preço de uma Ferrari 250 GTO Berlinetta 1962 vendida em agosto no leilão da Bonhams Quail Lodge em Carmel, na Califórnia.

O preço foi 28% maior que o recorde anterior, de US$ 29,7 milhões (R$ 68,3 milhões), alcançado por um carro de corrida Mercedes-Benz. Outra Ferrari 250 GTO teria sido vendida por US$ 52 milhões (R$ 119,6 milhões) em uma transação particular.

Enquanto as Ferraris são raras -apenas 32 foram construídas à mão entre 1962 e 1964-, o preço da 250 GTO não foi o único recorde durante os importantes leilões de carros em agosto.

No leilão da Bonhams Quail Lodge, nove modelos Ferrari bateram recordes, assim como um Rolls-Royce que já foi de Elvis Presley. Até um Austin Mini 1962 saiu por US$ 181.500 (R$ 417.400). As vendas totais da semana atingiram US$ 400 milhões (R$ 920 milhões), um aumento de 28% em relação a um ano atrás.

KEITH PETERSEN
Uma Ferrari 250 GTO Berlinetta em leilão no mês passado. Só 32 foram fabricadas à mão entre 1962 e 1964
Ferrari 250 GTO Berlinetta em leilão no mês passado; só 32 foram fabricadas à mão entre 1962 e 1964

"Sem exceção, estamos vendo todos os segmentos do mercado e quase todos os modelos atingirem picos inéditos", disse McKeel Hagerty, executivo-chefe da Hagerty Insurance, especializada em seguros de carros de coleção e que produz um índice de preços para colecionadores.

Seu índice de 25 carros clássicos aumentou 34,5% no último ano, superando de longe as principais médias de ações e títulos.

"Muitas pessoas estão perguntando: 'Este é o novo grande tipo de ativo?'", disse Evan Beard, diretor do grupo artístico e financeiro Deloitte nos EUA.

Mas muitas pessoas também estão perguntando se o mercado de automóveis está em uma bolha. O mercado disparou no final dos anos 1980, depois despencou.

Os carros podem ser considerados os últimos ativos em uma parada cujos valores dispararam desde que o Federal Reserve dos EUA começou sua política agressiva de dinheiro fácil para combater os efeitos da crise financeira de 2008.

Isso significa que os preços podem cair, talvez abruptamente, quando o Fed começar a apertar. Mas Hagerty disse que não viu nada das compras especulativas desinformadas que caracterizaram o aumento dos preços na década de 1980.

"Os US$ 38 milhões causaram espanto, mas são menos de um terço do preço do quadro mais caro", disse Eric Y. Minoff, um especialista em carros da Bonhams, que também vende obras de arte para colecionadores.

A Ferrari veio da coleção do italiano Fabrizio Violati, herdeiro de uma fortuna que o comprou em 1965 por cerca de US$ 4.000 (R$ 9.200) e o dirigiu e manteve até sua morte em 2010.

Mas comparar carros a arte pode ser prematuro, disse Beard. "Os carros não são um pilar da cultura ocidental."

A maioria dos carros clássicos é vendida por somas relativamente modestas. Até na venda da Quail Ridge, um Alfa Romeo Spyder Veloce 1985 conversível foi adquirido por um colecionador por US$ 13.750 (R$ 31.625).

"Se você pensa que pode fazer fortuna com carros antigos", disse Keith Martin, da revista "SportsCar Market", "provavelmente acredita que pode cronometrar o mercado de ações."


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