Folha de S. Paulo


Mercado reduz previsão de alta do PIB brasileiro em 2014 para 0,33%

Após novos sinais de fraqueza do setor varejista no início do terceiro trimestre, economistas de instituições financeiras reduziram a perspectiva para a expansão da economia brasileira neste ano e no próximo, ao mesmo tempo em que passaram a ver o início do ciclo de aperto monetário mais tarde em 2015.

Pesquisa Focus do Banco Central divulgada nesta segunda-feira (15) mostrou que a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014 caiu pela 16ª semana seguida, a apenas 0,33%, contra 0,48% na semana anterior.

A expectativa é de alguma recuperação em 2015, mas a estimativa para a expansão foi reduzida a 1,04%, sobre 1,10%.

As vendas no varejo no Brasil recuaram 1,1% em julho sobre o mês anterior, contrariando expectativas de alta e destacando a dificuldade da economia em se recuperar após entrar em recessão no primeiro semestre.

Nesta segunda-feira, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu suas projeções para a economia brasileira e estima expansão de 0,3% neste ano. Para 2015, vê crescimento de 1,4%.

NOTA DE CRÉDITO

O baixo crescimento do país, aliado aos baixos investimentos e à dificuldade para cumprir o superavit primário, levaram a agência Moody's a rebaixar a perspectiva da nota de crédito do Brasil, de estável, para negativa.

A mudança não implica em uma mudança na nota de crédito do país, mas indica que esta poderá ser revisada caso a economia do país não apresente sinais de melhora em dois anos.

Para evitar a queda na nota, a Moody's afirma que o Brasil deverá demonstrar uma recuperação econômica conduzida por investimentos e cumprir metas de superavit primário no intervalo de 2% a 3% do PIB. Para 2014, a meta atual é de 1,9% e pode ser reavaliada, segundo o Tesouro Nacional.

A agência estima que o país tenha um potencial de crescimento de 3% ao ano, embora não esteja conseguido apresentar este resultado.

A mudança na perspectiva da nota brasileira aconteceu após os resultados do PIB brasileiro no segundo trimestre. De abril a junho, a economia do país encolheu 0,6%, segundo o IBGE. Como o resultado para o primeiro trimestre também foi revisto, para baixa de 0,2% ante alta de igual proporção, o país entrou em recessão técnica, de acordo com alguns economistas.

Apesar das críticas aos erros das agências de risco na crise econômica mundial, essas avaliações ainda servem de parâmetro para grande parte do mercado internacional.

JUROS

Neste cenário de atividade mais fraca, o Focus indicou que os especialistas passaram a ver que um novo ciclo de aperto monetário vai começar mais tarde.

Agora, acreditam que a Selic subirá apenas em julho de 2015, e não mais em março, e que a taxa básica de juros encerre o próximo ano a 11,50%. Até então, a estimativa era de que ela ficasse em 11,63% no período.

Para este ano, foi mantida a expectativa de que a Selic encerre nos atuais 11%.

Na ata de sua última reunião, o BC reforçou a perspectiva de que a taxa básica de juros continuará em 11% ao menos até o fim de 2014. Ao mesmo tempo, vê a pressão sobre os preços elevada, mas não mais "resistente".

Os analistas consultados no Focus mantiveram a perspectiva para a alta do IPCA tanto em 2014 quanto em 2015 em 6,29%. Já para os próximos 12 meses, a perspectiva para a inflação foi elevada em 0,04 ponto percentual, a 6,28%. O último resultado mensal do índice, divulgado pelo IBGE, apontou para alta de 0,25% em agosto.

O Focus mostrou também que os especialistas consultados reduziram suas expectativas para o dólar pela segunda semana seguida. Para 2014, veem a moeda norte-americana encerrando a R$ 2,20 (sobre R$ 2,33 no levantamento anterior) e para 2015, a R$ 2,45, sobre R$ 2,49.

Na semana passada, o dólar acumulou alta de 4,26%, a maior em um ano, após pesquisas eleitorais mostrarem recuperação da presidente Dilma Rousseff (PT), que tem sido criticada pelo mercado pela condução da atual política econômica, nas intenções de voto.


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