Folha de S. Paulo


Executivos encarregados de reestruturar BES pedem renúncia

A reestruturação do banco português Novo Banco, sucessor do BES (Banco Espírito Santo) depois de um resgate do governo no mês passado, levou um golpe neste sábado (13) com a renúncia dos três homens escolhidos a dedo pelo banco central em julho para reconstruir o negócio.

As renúncias do presidente-executivo Vítor Bento, do diretor financeiro João Moreira Rato e do vice-presidente José Honório seguem relatos de desentendimentos com o banco central português sobre a estratégia de longo prazo do Novo Banco.

O BES, maior banco listado de Portugal, teve que ser resgatado após o colapso do império empresarial da família Espírito Santo, fundadora da instituição, cujas principais holdings estão sob proteção contra credores. Analistas e auditores alertaram que perdas e passivos ainda podem ser descobertos no banco.

O jornal Expresso disse mais cedo neste sábado, antes das demissões serem anunciadas, que os executivos se opuseram ao plano do banco central de vender o Novo Banco o mais rápido possível para recuperar os € 3,9 bilhões ( US$ 5,1 bilhões) em recursos públicos utilizados no resgate.

Os executivos estavam relutantes "em executar um projeto que não era deles", disse o jornal, que não citou fontes. No entanto, os três negaram qualquer conflito.

"Nossa decisão pela renúncia é devido ao fato de que o nosso mandato mudou significativamente desde que começamos os nossos papéis, em meados de julho. Durante nosso tempo no Novo Banco, contribuímos para a estabilização do banco, tomamos medidas para normalizar as operações e melhorar sistemas e lançamos um plano de médio prazo", disseram em um comunicado conjunto.

O mandato inicial de Bento previa o resgate do BES usando capital privado, antes de o banco central decidir em 3 de agosto intervir com € 4,9 bilhões, com parte dos recursos sendo fornecidos pelo fundo de resolução bancária de Portugal para recapitalizar o Novo Banco, esculpido a partir do combalido BES.

"Um processo para uma venda rápida do banco já foi lançado e está sendo gerido pelo Fundo de Resolução e pelo Banco de Portugal. Hoje nós sentimos que a coisa certa a fazer é entregar as rédeas para outra equipa de gestão", disse Bento.

O Banco de Portugal afirmou que vai nomear em breve uma nova administração para o Novo Banco, e reiterou sua intenção de vender o banco a investidores "no menor prazo razoavelmente exigível" para garantir uma estrutura acionária estável.

SUBSTITUTO

A mídia local disse que o substituto de Bento deve ser anunciado neste fim de semana.

Bento, respeitado economista e executivo, foi escolhido pelo presidente do Banco de Portugal, Carlos Costa, para substituir Ricardo Salgado, o patriarca do clã Espírito Santo, que fundou o banco há cerca de 150 anos. Salgado renunciara sob pressão de Costa.

A nova gestão de Bento e o Banco de Portugal tinham dito que suspeitavam que atividades ilegais haviam ocorrido no BES, envolvendo o financiamento de empresas familiares usando dinheiro emprestado de clientes do banco.

No início deste mês, a KPMG alertou para possíveis novas perdas para além dos € 3,6 bilhões divulgados pelo BES em julho.


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