Folha de S. Paulo


Gestão de Botín determinou a compra das ações do Santander Brasil

Sob a gestão de Emilio Botín, que morreu nesta terça-feira (9), o grupo Santander adotou, em 2014, a estratégia de comprar as ações do banco no Brasil e nos EUA. O objetivo é concentrar a liquidez dos papéis na Espanha.

Com isso, o Santander Brasil não fará mais parte do nível 2 de governança corporativa da BM&FBovespa (indicador de empresas com boas práticas de gestão), passando a ser listado no segmento tradicional da Bolsa brasileira.

Nesta terça (9), a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) autorizou o grupo a adquirir a totalidade dos papéis que ainda não controla da filial brasileira, que correspondem a 25% do total.

Em abril, a matriz espanhola do banco ofereceu um prêmio aos acionistas do Santander Brasil de 20% sobre o fechamento dos papéis em 28 de abril, quando encerraram o pregão cotados a R$ 12,74.

A compra será paga com ações do próprio Santander espanhol, que deverá emitir, no máximo, 665 milhões de novos papéis para a operação (4,686 bilhões de euros).

Os acionistas que aceitarem a oferta receberão, para cada unit do Santander Brasil, 0,7 papel do Santander Espanha, que pode ser ADR (recibos de ações brasileiras negociados em Nova York) ou BDR (recibos de ações estrangeiras negociados na Bovespa). Eles serão cotados tanto na Bolsa de São Paulo quanto na de Nova York.

Se todos os acionistas do Santander Brasil aceitarem a oferta, os acionistas do Santander na Espanha sofrerão uma diluição de 5,8%.

A morte de Botín, vítima de ataque cardíaco, foi comunicado nesta quarta (10) à Comissão de Valores Mobiliários da Espanha. Investidores acreditam que sua filha Ana Patricia Botín, que comanda o Santander britânico, será indicada à Presidência.

O conselho de administração do banco vai se reunir com a comissão de nomeações e retribuições nesta quarta para decidir quem passará ao comando global da entidade financeira.

SUCESSÃO

A passagem do comando do Santander para Ana Patricia Botín poderá provocar polêmica. A sucessão seria realizada em um momento em que as dinastias bancárias ibéricas enfrentam duras críticas aos seus modelos de gestão.

Dentre eles o banco português Espírito Santo, com empresas da família fundadora sendo investigadas por irregularidades financeiras.

"A sucessão não deve consistir apenas em dizer 'minha filha vai tomar conta'", disse à Reuters um especialista em governança corporativa de uma gestora global de ativos que detém ações do Santander, falando sob condição de anonimato.

BIOGRAFIA

Nascido em 1º de outubro de 1934, em Santander, Botín foi herdeiro da tradição financeira de sua família, já que seu avô e seu pai também foram presidentes do banco. O executivo começou a dirigir a entidade bancária em 1986 e foi um dos responsáveis pela sua expansão internacional.

Formado em Direito e Economia pela Universidade de Deusto, Emilio Botín ingressou aos 24 anos no Santander. Em sua carreira na companhia, Botín passou por diversos cargos, dentre eles o de conselheiro (1960), diretor-geral (1964) e vice-presidente (1977). Nove anos depois, com a saída de seu pai da presidência, Botín passaria a comandar o Grupo Santander globalmente.

Sua gestão se caracterizou pela estratégia de conquista do mercado internacional e por um processo de fusões e aquisições nacionais para conseguir a liderança entre os bancos espanhóis. O feito foi alcançado em 1994, quando o Santander adquiriu o Banesto.

Emilio também foi responsável pela fusão com o banco Central Hispano (1999), a primeira grande operação do tipo desde a instauração do euro, e a compra conjunta do ABN Amro (2007) com o The Royal Bank of Scotland e a belga Fortis. Deste último negócio resultou a compra do banco Real, no Brasil, pelo Santander.

O banco espanhol também adquiriu o Banespa, privatizado em 2000, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

O processo de expansão global liderado por Emilio fez com que o banco passasse a prestar serviços a 107 milhões de clientes, atendidos em mais de 13 mil agências por 185 mil funcionários.

Emilio Botín era casado com Paloma O'Shea Artiñano desde 1958, com quem teve seis filhos: Ana Patricia, Carolina, Paloma, Carmen, Emilio e Francisco Javier. A mais velha, Ana Patricia, dirige a filial britânica do Grupo Santander, Santander UK, e comandou o Banesto entre 2002 e 2010.

com REUTERS


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