Folha de S. Paulo


Após mudar perspectiva de nota do país, Moody's pode rebaixar empresas

Após ameaçar rebaixar a nota dos títulos da dívida brasileira, a agência de classificação de risco Moody's também colocou em perspectiva negativa a avaliação de 22 instituições –entre elas, BNDES, Bradesco, Itaú Unibanco, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.

As agências de avaliação costumam fazer esse tipo de movimento quando acontece um rebaixamento ou uma mudança de perspectiva na nota de um país. No início do ano, quando a Standard & Poor's rebaixou a nota brasileira, ela também diminuiu a classificação de 13 empresas do país.

Na decisão desta terça-feira (9), a Moody's diz que a perspectiva dessas empresas foi alterada de estável para negativa porque uma alteração no cenário dos títulos do governo também afeta a perspectiva dos "ratings "de dívida dessas instituições.

A lista de empresas que sofrerem alteração na sua perspectiva é formada por Bradesco, Itaú Unibanco, Itaú BBA, Itaú Unibanco Holding, Banco do Brasil, Banco Votorantim, Caixa Econômica Federal, BNDES, Santander, HSBC, Banco Safra, BM&FBovespa, Banco Alfa, BNDESPar, Itausa, Itaubank Leasing, Dibens Leasing, BFB Leasing, ING Bank (agência São Paulo), além das seguradoras Chubb do Brasil, SRCSB e Munich Re.

PESSIMISMO

Os motivos para a revisão, que ocorre a menos de um mês do primeiro turno da eleição presidencial, são o baixo crescimento da economia, o abalo na confiança do investidor e a deterioração das contas do governo.

Tecnicamente, a Moody´s manteve a nota "Baa2" (considerada mediana), mas colocou em perspectiva negativa, o que significa que será reavaliada e para pior.

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

Mesmo se for rebaixado, o país e as empresas continuariam com o grau de investimento, espécie de selo de bom pagador. Estaria, porém, a um passo de se tornar "grau especulativo", de alto risco.

As agências de classificação de risco foram bastante criticadas durante a crise econômica global por não conseguirem prever o colapso das instituições envolvidas.

Suas avaliações, porém, pesam nas decisões de investidores. A perda do grau de investimento pode levar à fuga de fundos estrangeiros, cujas regras os impedem de aplicar em papéis especulativos, e elevar o custo de captação de recursos no exterior.

A rival Standard & Poor's reduziu em março a nota do Brasil, que está no limite de se tornar grau especulativo.

A terceira grande agência, Fitch reafirmou em julho a nota do país, que segue no segundo passo do grau de investimento. "Revisamos constantemente as avaliações e poderemos alterá-las se houver mudança material nos indicadores", disse Shelly Shetty, chefe de risco da América Latina.

Foi a segunda vez que a Moody's mexeu na perspectiva da nota do país em menos de um ano. Em outubro de 2013, mudou a perspectiva de positiva para estável.

Mauro Leos, responsável na Moody's por avaliar o Brasil, dissera em março que não haveria rebaixamento antes da eleição. Afirmara, na ocasião, que o processo eleitoral limita a ação do governo ao ajustar políticas públicas.

ESTAGNAÇÃO

A decisão da Moody's ocorre uma semana após o país entrar em recessão técnica, com dois trimestres seguidos de retração no PIB. A projeção dos analistas é que o Brasil cresça 0,48% em 2014.

Para a Moody's, o país tem pouco espaço para retomar o crescimento potencial de 3%. A previsão da agência é de avanço inferior a 1% em 2014.

A Moody's cita a deterioração acentuada da confiança na economia e aponta a formação bruta de capital, componente do PIB que mede investimento em máquinas e na expansão dos negócios.

O índice caiu a 16,5% do PIB, o pior desde 2006 e algo que a agência diz ser discrepante entre países similares.

"Os níveis fracos de confiança do empresariado e do investimento irão impor obstáculos à recuperação", disse Leos, em nota. O crescimento baixo, afirmou, desafia a arrecadação e dificulta gerenciar os gastos públicos.


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