Folha de S. Paulo


Indústria rebate presidente da Vale e critica política econômica

A indústria reagiu às afirmações feitas pelo presidente da Vale, Murilo Ferreira, em entrevista" à Folha publicada neste domingo (7), na qual ele sugere a existência de um "Fla-Flu" entre os industrias paulistas e a presidente Dilma Rousseff.

Carlos Pastoriza, presidente da Abimaq (indústria de máquinas e equipamentos) diz ter ficado "indignado" ao ler as declarações do presidente da Vale.

"É muito fácil para ele dizer isso. A indústria extrativa se beneficiou sem nenhum mérito do preço das commodities. O minério de ferro triplicou em dólar nos últimos dez anos devido ao aumento da demanda chinesa."

Segundo Pastoriza, a indústria de transformação, como a de máquinas, enfrenta "uma macroeconomia que deixou o país caro para produzir, devido a câmbio, juros e impostos".

O "Fla-Flu" –Flamengo X Fluminense, clássico do futebol carioca que virou sinônimo de rivalidade acirrada–, também é inadequado na opinião de Ronald Masijah, presidente do Sindivestuário.

Para ele, a derrota da indústria para a política econômica "está mais para um Brasil X Alemanha". "A indústria de vestuário é moderna, teve investimentos de R$ 3 bilhões em 2013 e 2014, mas continua em péssimas condições e tende a morrer em cinco anos se nada acontecer por parte do governo federal."

Editoria de Arte/Folhapress

Synésio Batista, presidente da Abrinq (brinquedos), diz que não há mau humor paulista com Dilma, como afirmou Ferreira, e nega que a crise global seja o causador dos problemas em seu setor.

"Temos um problema localizado. O consumidor passou a ter medo da inflação e do desemprego. Na loja de brinquedos, a mãe e o pai estão com medo porque só escutam notícias ruins da inflação."

Batista também diz que não falta tecnologia e inovação. Segundo ele, a indústria de brinquedos lança 1.500 produtos por ano, com investimentos anuais de 3% do faturamento.

Reginaldo Arcuri, presidente do Grupo FarmaBrasil, que reúne laboratórios brasileiros envolvidas em projetos de inovação, e Fabio Arruda Mortara, presidente do sindicato da indústria gráfica no Estado de São Paulo, também afirmam que a indústria paulista não está defasada.

"A segurança econômica e jurídica no Brasil é inconstante. Investidor quer segurança", diz Mortara.

Para o diretor-superintendente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções), Fernando Pimentel, as iniciativas tomadas pelo governo para estimular a indústria não trouxeram os resultados esperados.

"Eu prefiro não comentar o que o Murilo Ferreira falou. Mas posso falar sobre as dificuldades nos negócios da indústria", diz Pimentel.

A indústria de confecção está em seu quarto ano consecutivo de queda na produção. Segundo ele, só 30% dos problemas vêm de questões externas. "A crise prejudica o nosso desempenho, mas não explica a nossa inflação."

Ele também discorda do questionamento de Ferreira sobre se o empresariado paulista teria "o mesmo entusiasmo do pessoal do cerrado".


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