Folha de S. Paulo


Crise leva MBAs a enfatizar regulação, diz economista

"A ganância é boa", proclamava Gordon Gekko, o ardiloso operador de mercado vivido por Michael Douglas em "Wall Street". Síntese de uma época, o filme de 1987 desmascarava as ideias ferozes de um capitalismo que buscava se impor sem travas para maximizar lucros.

"A ênfase, nos anos 1980, era no crescimento a qualquer custo. Fazer milhões em Wall Street era o que contava, não importando como. Hoje a visão é diferente", diz o economista Carlos Braga, 60, professor de política internacional do IMD (International Institute for Management Development), escola para executivos sediada em Lausanne, na Suíça.

Seus alunos, executivos na faixa dos 30 anos, "têm uma atitude mais voltada para ética e qualidade de vida" e buscam aprender como atuar em direções colegiadas de companhias, opina ele.

A instituição privada em que Braga leciona surgiu em 1990 da fusão entre as escolas de negócios da Nestlé e da Alcan, que existiam desde os anos 1950. É uma das mais caras nessa área: o MBA de um ano custa entre US$ 95 mil e US$ 100 mil. "Somos a número um no mundo em educação executiva", declara.

Em comparação com instituições mais tradicionais, como Harvard (EUA), Braga diz que o aluno do IMD é um pouco mais velho, em torno de 29 anos. Em outras escolas, com cursos de dois anos, a idade média é de 26 a 27 anos.

Pelo IMD passam integrantes da elite mundial. Do Brasil, ele lembra que integrantes das famílias Odebrecht e Camargo Corrêa participaram de cursos. Neste ano, são oito os brasileiros que frequentam aulas de um programa de 90 vagas. O professor assinala que no MBA só 20% dos estudantes são mulheres.

Formado em engenharia pelo ITA, com pós-graduação em economia pela USP e pela Universidade de Illinois (EUA), Braga foi diretor do Banco Mundial na Europa. Para ele, a crise iniciada em 2008 forçou as escolas de negócios a mudarem currículos.

"Há muito mais atenção à questão da regulamentação, que aumentou, com boas razões, ao redor do mundo. Há intervenção maior no mercado financeiro. É preciso ver como as empresas trabalham nesse ambiente, como se responde a isso", declara.

Na sua visão, a série de medidas tomadas nos EUA para reduzir o risco de nova crise colocam uma questão: o aumento do poder regulamentador pode ter impacto excessivo e provocar ineficiência no setor financeiro.

No confronto com a Europa, que vislumbra um cenário de estagnação e deflação, os EUA responderam de forma mais efetiva, estimulando o crédito, analisa Braga.

"Mas hoje eles estão enfrentando a possibilidade de novas bolhas especulativas, no setor imobiliário, em ativos, na Bolsa. Como isso vai impactar na economia mundial é preocupante", alerta.


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