Folha de S. Paulo


Estudo une reivindicações de manifestantes e empresários

A avenida Paulista, epicentro dos protestos contra tudo, e Davos, que abriga todo janeiro o convescote da elite global, encontraram-se nesta terça-feira (2), ao ser divulgado o Relatório Global de Competitividade para o período 2014-15, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, que capitaneia o encontro em Davos.

Explico: os protestos de junho do ano passado (e não só na Paulista) foram uma catarata de críticas ao funcionamento de praticamente tudo de que os governos deveriam cuidar. O Fórum de Davos dá razão aos protestos, ao colocar o Brasil em posições desastrosas em "eficiência do governo" (131º em 144 países listados), "funcionamento das instituições" (104º) e "corrupção" –aliás, outro foco dos protestos–, em que o Brasil fica no 130º lugar, sem falar em "educação" (126º).

Ou seja, em tudo o que depende de ação do governo, o Brasil fica entre os últimos da fila, embora, no cômputo geral de todos os itens avaliados, a posição do país seja intermediária (57º).

Mas o relatório também dá certa razão aos empresários e analistas econômicos liberais/conservadores, que não se cansam de criticar o pífio desempenho da economia na gestão Dilma Rousseff: a pobre evolução da economia coloca o Brasil no 85º posto em tal quesito, quase 30 posições, portanto, atrás da classificação geral.

Como é próprio em relatórios da corrente ortodoxa da economia, caso dos gurus de Davos, o relatório só dá como positivos os aspectos que não dependem diretamente da ação/inação governamental, tais como o tamanho do mercado e sua "razoavelmente sofisticada comunidade de negócios, com bolsões de excelência em inovação, em muitas atividades ligadas à pesquisa e à produção de valor agregado".

As dificuldades apontadas para o Brasil valem para a América Latina, a tal ponto que o relatório acaba sendo uma comprovação indireta do fracasso das políticas de integração no subcontinente, prioridade dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

Ambos apostavam em projetos de infraestrutura para integrar a região, mas o relatório aponta agora como fator que limita o crescimento a carência de "investimentos suficientes" exatamente em uma área como a infraestrutura, além de desenvolvimento de talentos e da inovação.

Não parece leviano especular que essa percepção de Davos combina com a da maioria do eleitorado brasileiro, que, em sucessivas pesquisas, manifesta-se maciçamente por "mudanças".

Ajuda a explicar as dificuldades que enfrenta a candidatura à reeleição de Dilma Rousseff (PT).


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