Folha de S. Paulo


Banco Central confirma apostas e mantém Selic em 11%

Em seu último encontro antes das eleições, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) manteve a taxa básica de juros em 11% ao ano e reforçou a sinalização de que não vai mudar a política monetária este ano. A decisão foi unânime.

O BC já havia indicado nos últimos meses não ter a intenção de mexer nos juros. Por isso, o resultado do encontro desta quarta-feira (3) já era esperado pela maioria dos analistas.

Em seu comunicado, o Copom repetiu a afirmação, feita na reunião anterior, em julho, de que tomou a decisão "avaliando a evolução do cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação".

Retirou, entretanto, a expressão "neste momento", usada pelo BC para indicar possibilidade de mudança nos juros no futuro.

Na avaliação do mercado, o quadro de retração da economia mostrado pelos dados do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados na sexta (29) não permite elevação da taxa. Contra o aperto nos juros pesam ainda pressões em um período de disputa eleitoral.

Por outro lado, a inflação está no limite da meta fixada pelo governo, o que não deixa espaço para um corte de juros neste momento.

O comitê volta a se reunir nos dias 28 e 29 de outubro, após a data marcada para o segundo turno das eleições.

Os juros estão em 11% desde abril. Apesar de não ter mexido na taxa nesse período, o BC anunciou recentemente dois pacotes de incentivo ao crédito.

A baixa demanda por empréstimos, no entanto, faz com que a maior parte do dinheiro liberado para estimular o crescimento esteja aplicado em títulos públicos.

Reportagem da Folha desta quarta-feira mostrou que o Ministério da Fazenda calcula que o recente ciclo de alta dos juros foi responsável por um recuo de até um ponto percentual no PIB brasileiro. De seis fatores relacionados, internos e externos, a alta de juros foi a que mais reduziu o crescimento brasileiro.

O estudo foi visto, por governo e analistas, como um recado ao BC de que o aperto nos juros pode ter sido maior que o necessário. Também seria uma resposta a críticas de que a política econômica atual teria gerado inflação alta e economia estagnada.

Quando o BC iniciou o aperto monetário, a inflação acumulava alta de 6,6% nos 12 meses encerrados em março de 2013. Hoje, o IPCA está em 6,5%, com chances de superar esse patamar -teto da meta- até o fim do ano.

De acordo com a versão mais recente do relatório Focus, do Banco Central, as instituições financeiras consultadas pela autoridade esperam que o índice oficial de preços no país tenha alta de 6,27% em 2014.

Dados do IBGE divulgados na semana passada mostraram que o PIB brasileiro encolheu por dois primeiros trimestres seguidos neste ano. Ou seja, a queda do PIB não foi suficiente para derrubar a inflação. Já o aumento dos juros, segundo o BC, evitou a disparada dos preços.

Trazer os juros para o patamar mais baixo dos últimos anos era uma das principais metas do governo Dilma. A Selic, entretanto, já está acima dos 10,75% verificados no fim do governo Lula.

A Selic é um instrumento usado pelo governo para conter o consumo, uma vez que o crédito (tanto empréstimos em instituições financeiras quanto parcelamentos em lojas, por exemplo) fica mais caro/barato, conforme os juros sobem ou descem.

Editoria de Arte/Folhapress
Indicadores - Juros
Indicadores - Juros

PERSPECTIVAS

Analistas ouvidos pela Folha descartam novas elevações –ou cortes– na Selic até o final deste ano.

O economista Flávio Combat, da Concórdia Corretora, avalia que "o mais provável é que o BC promova um novo aperto monetário em 2015, tendo em vista o conjunto de preços que terão de ser ajustados (gasolina, energia elétrica, tarifas de transporte) e o seu impacto inflacionário". Assim, Combat projeta que a Selic estará em 12,25% ao ano no fim de 2015.

O comitê de acompanhamento macroeconômico da Anbima manteve a mediana de projeções para a Selic em 12% para o final de 2015. "Foi considerada a possibilidade de que um ambiente de maior confiança entre os agentes econômicos, sobretudo em função de indicativos de uma política fiscal menos expansionista, possa reduzir a necessidade de elevação de juros", indica, em relatório.

No entanto, ressalta, não há consenso em relação às estimativas, que variam de 11% a 13%, o que, de acordo com o comitê, "indica o grau de incerteza dos analistas quanto à trajetória dos juros em um contexto de baixo crescimento e de pontos ainda por serem esclarecidos em relação aos próximos passos da política econômica".


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