Folha de S. Paulo


Desempenho negativo da economia é 'momentâneo', afirma Dilma

A presidente Dilma Rousseff (PT) classificou como "momentâneo" o desempenho negativo da economia no segundo trimestre de 2014 e atribuiu o resultado a fatores como Copa do Mundo e queda no preço de commodities.

Dados divulgados nesta sexta (29) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontaram que houve retração de 0,6% no PIB do país no segundo trimestre, em relação ao trimestre anterior.

Como o resultado do primeiro trimestre foi revisado para queda de 0,2% (contra alta de 0,2% informado anteriormente), o país entrou em recessão técnica, segundo parte dos economistas.

"Eu acredito que este resultado é momentâneo. Um dos motivos que explicam esse resultado é o número de feriados que nós tivemos. Por conta da Copa tivemos a maior quantidade de feriados em toda a história do Brasil nos últimos anos", disse Dilma, para quem o país terá uma "grande recuperação" no próximo trimestre.

Em entrevista nesta sexta, Mantega negou que o Brasil tenha entrado em uma recessão.

"Não dá pra dizer [que o país está em recessão]. Não há parâmetros universalmente aceitos para definir o que é uma recessão. O segundo trimestre foi influenciado pelo primeiro e se houver uma revisão, você deixa de ter dois trimestres negativos", disse o ministro.

"Não se deve falar em recessão no Brasil pois, para mim, recessão é quando se tem uma parada prolongada, de vários meses. Aqui estamos falando de um, no máximo dois [trimestres]. E recessão é quando se tem desemprego. O emprego continua crescendo e a massa salarial também. Não dá para dizer que a economia está parada. O mercado consumidor não está encolhendo."

CANDIDATOS

Marina Silva, candidata do PSB ao Planalto, criticou a contração da economia brasileira no segundo trimestre. Em discurso durante anúncio de seu programa de governo, ela afirmou que o país vive uma situação de recessão muito preocupante.

"É lamentável que tenhamos tido por dois trimestres seguidos um crescimento que deixe o país numa situação difícil", disse.

Já o senador Aécio Neves (PSDB) disse que o governo do PT levou a economia a um cenário de recessão técnica no país. "É triste, ao final do governo, o ministro da Fazenda [Guido Mantega] entregar esse quadro extremamente perverso para os brasileiros, de recessão econômica e de inflação fora de controle", afirmou.

Segundo Aécio, o legado do atual governo será de crescimento e investimento baixos, com inflação e juros altos.

MUNDO, SECA E COPA

Mantega culpou o cenário internacional fraco, a seca -e o consequente aumento de custo da energia- e a redução de dias úteis em função da Copa pelo resultado negativo da economia brasileira no segundo trimestre.

Um dia depois de o governo divulgar previsão de alta de 3% para 2015, entretanto, o ministro afirmou que o resultado do segundo trimestre "ficou aquém das nossas expectativas" e que a previsão de crescimento de 1,8% para este ano terá de ser revista.

O IBGE também evitou considerar as duas quedas consecutivas do PIB como recessão técnica. Já uma parte dos economistas avalia que o país vive, sim, um processo recessivo.

Editoria de Arte/Folhapress

RECUPERAÇÃO

Dilma afirmou que a economia se recuperará neste terceiro trimestre. ELA esteve na tarde desta sexta em Salvador, para gravar imagens para o programa eleitoral. Visitou uma unidade do Senai que oferece cursos pelo Pronatec (Programa Nacional do Ensino Técnico), conversou com estudantes e gravou programa eleitoral. Em seguida, foi ao Pelourinho, onde visitou a sede do Olodum e também captou imagens para o horário político.

"No próximo trimestre nós teremos uma grande recuperação. O Brasil tem todas as condições para ter uma grande retomada, porque nós criamos estas condições."

A candidata citou ainda que China, Estados Unidos e Reino Unido foram os "únicos países" que registraram crescimento neste trimestre.

"Nos demais países você tem uma redução drástica do crescimento, inclusive na América Latina", disse a presidente, associando o baixo crescimento na região à queda no preço das commodities.

A desaceleração da economia internacional, segundo cálculos do Ministério da Fazenda, teve um impacto de 0,6 a 0,7% no PIB, considerando o número anualizado, e reduziu nossa capacidade de exportar.

Segundo o ministro Mantega, a maior parte dos efeitos negativos do período não deve se repetir no terceiro trimestre, que, acredita, será positivo. "No terceiro trimestre vamos ter 10% a mais de dias úteis. É como termos 10% a mais de produção e comércio."

Mas, na visão do ministro, o impacto externo não deve se repetir no segundo semestre. "Talvez tenhamos uma melhora no cenário internacional no segundo semestre", afirmou.

De acordo com o ministro, o segundo fator a puxar o PIB para baixo no trimestre, a seca e seus efeitos no aumento de custo da energia, também não devem gerar impacto no desempenho do segundo semestre. "A seca afetou a expectativa dos investidores e foi um fator importante que prejudicou o desempenho da economia", disse. "O impacto da seca já está absorvido."

Mantega disse ainda que o trimestre teve uma média de 20 dias úteis, abaixo dos 22 dias usuais, e que isso teve um impacto no comércio e na produção.

"No terceiro trimestre, vamos ter 22 dias úteis. Parece pouco, mas faz uma grande diferença. Sabemos que o terceiro trimestre será positivo e os dias úteis terão impacto nessa conta."

Segundo ele, as medidas do Banco Central para ampliar e baratear a oferta de crédito ao consumidor devem estimular a economia.

INDICADORES

O ministro disse ainda que os dados relativos ao mês de julho já indicam melhoras em relação ao segundo trimestre, em setores como papelão ondulado e vendas e produção de automóveis. Outro estímulo para a economia, segundo o ministro, virá dos investimentos nas concessões de óleo e gás, estradas e aeroportos.

"Os canteiros de obras dessas concessões já estão sendo instalados, mas vai haver um aumento do investimento na construção civil no segundo semestre."

Outro ingrediente que, na visão do ministro, vai ajudar a manter a atividade econômica é a massa salarial, que continua crescendo "de 2% a 3% na conta anualizada". "Massa salarial, mais crédito e menos inflação: pode-se dizer que o segundo semestre vai ser melhor."

Na sua opinião, parte dos problemas que afetaram a economia nos dois primeiros trimestres do ano foi "conjuntural, portanto passageira".

"A perspectiva é de crescimento moderado de forma que o ano vai terminar melhor do que começou", disse Mantega.

Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que vai rever a previsão de alta de 1,8% para este ano
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que vai rever a previsão de alta de 1,8% para este ano

Com o resultado do segundo trimestre, a economia brasileira acumula alta de 0,5% nos seis primeiros meses deste ano. Nos últimos quatros trimestres encerrados em junho, o PIB soma uma alta de 1,4%.

Do primeiro para o segundo trimestre, ditaram o tombo do PIB a indústria e os serviços, com quedas de 1,5% e 0,5%, respectivamente. A agropecuária teve leve alta de 0,2%.

Ao olhar a economia por outro ângulo (o destino da produção gerada por esses três grandes setores), o consumo das famílias, item de maior peso na composição do PIB, cresceu apenas 0,3%.

Já os investimentos em máquinas para a produção, transporte, agropecuária, energia, entre outros, e em construção civil tiveram forte retração de 5,3%. Esse componente é tido como dos mais importantes do PIB, pois sinaliza o quanto a economia terá capacidade de crescer no futuro por meio do aumento da sua capacidade produtiva e da infraestrutura.

Até mesmo o consumo do governo (na compra de insumos para saúde, educação e outros serviços públicos) recuou 0,7%.


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