Folha de S. Paulo


Copa reduz atividade da indústria e desacelera serviços no PIB do 2º tri

A grande quantidade de feriados e dias parados na economia em função da Copa do Mundo contribuiu para a queda da atividade na indústria e dos serviços no cálculo do PIB do segundo trimestre deste ano.

A indústria apresentou retração de 1,5% no período de abril a junho em relação ao primeiro trimestre deste ano. Foi o pior recuo já registrado nessa base de comparação desde o primeiro trimestre de 2009, quando a retração foi de 5,6%.

As quedas dos segmentos de construção civil (-2,9%) e da indústria de transformação (-2,4%) no segundo trimestre frente ao trimestre anterior foram responsáveis pela queda. Na comparação com igual trimestre do ano passado, o recuo da indústria foi ainda maior, de 3,4%.

Sob impacto negativo do Mundial, de freada do consumo das famílias e da retração dos investimentos, o PIB do país caiu 0,6% no segundo trimestre na comparação com os três primeiros meses deste ano.

O instituto também revisou para baixo o desempenho do primeiro trimestre, para queda de 0,2%, indicando, segundo analistas -embora o termo não haja consenso sobre o termo-, que o Brasil entrou em recessão técnica.

O impacto negativo da Copa já era esperado pela área econômica do governo federal. O ministro Guido Mantega (Fazenda), em entrevista à Folha no último dia 14, afirmou que a Copa "foi um sucesso de organização, mas do ponto de vista da produção e do comércio, prejudicou".

Os motivos apresentados por ele foram que "a produção industrial caiu e o comércio cresceu pouco".

Editoria de Arte/Folhapress

BENS DURÁVEIS

De acordo com a gerente das Contas Nacionais do IBGE, Rebecca Pallis, na indústria de transformação o destaque negativo foi o segmento de bens duráveis, impactado principalmente pela produção mais baixa de máquinas e automóveis.

Além da piora do cenário geral para a aquisição de bens que demandam financiamento -devido à inflação, aos juros altos e à redução da oferta de crédito-, o cenário foi aprofundado pela grande quantidade de feriados e dias parados nas fábricas em função da Copa.

A parada forçada pela Copa do Mundo, devido aos repetidos feriados, os estoques em alta e a desconfiança do empresário levaram a indústria a acentuar sua crise em junho, quando a produção teve sua quarta queda consecutiva, na comparação anual. O emprego na indústria, por exemplo, acompanhou a queda da produção e fechou junho com redução no total de postos de trabalho.

O segmento automotivo, um dos responsáveis pelo mau desempenho dos bens duráveis, teve impacto também da redução das exportações para a Argentina e Venezuela, do fim dos incentivos de IPI no início do ano e também do aumento do endividamento da população, o que reduz o movimento de renovação da frota. Muitas montadoras, por exemplo, deram férias coletivas a seus funcionários no segundo trimestre.

A Copa nesse segmento teve impacto por conta dos dias parados nas fábricas e também da decisão dos consumidores de adquirir ou não veículos durante o mundial e no período que o antecedeu, o que impacta nos estoques e, consequentemente, na produção.

Segundo dados da Cetip, empresa responsável pelo sistema de registro de bens dados em garantia em operações de compra de veículos, os financiamentos de automóveis caíram 36% nos dias de jogos do Brasil na primeira fase da Copa.

Davi Ribeiro - 25.jun.2014/Folhapress
Restaurante em São Paulo vazio durante jogo da Copa do Mundo; mundial afetou resultado do PIB no 2º trimestre
Restaurante em São Paulo vazio durante a Copa do Mundo; Mundial afetou resultado do PIB no trimestre

O endividamento das famílias impactou negativamente o setor de construção civil, que repetiu o resultado do trimestre anterior (-2,9%), o pior desde o primeiro de 2009, quando o recuo havia sido de 5,1%. O segmento já registra demissões.

O momento ruim pode ser observado pelas vendas do setor em São Paulo, por exemplo, que, de acordo com número do Secovi-SP, o sindicato do setor imobiliário, caíram 48% no primeiro trimestre deste ano e a perspectiva é que o cenário tenha se mantido ao longo do segundo trimestre.

O Secovi-SP destacou a Copa e as incertezas econômicas como os motivos para a piora. Muitas pessoas, receosas de uma possível disparada no preço em função do Mundial, adiaram ou desistiram de adquirir imóveis.

O segmento de extração mineral foi o único do setor industrial que teve alta no período no calculo do PIB, de 3,2%, beneficiado pelo aumento de produção de minério de ferro e de petróleo.

SERVIÇOS

Os serviços tiveram queda de 0,5% no segundo trimestre frente aos três meses imediatamente anteriores. Foi o pior resultado desde os últimos três meses de 2008, quando a retração havia sido de 2,8%.

A grande quantidade de feriados contribuiu para a queda geral do segmento, um dos mais fortes no setor de serviços. A queda de 1,6% do indicador "outros serviços", que inclui serviços de saúde, alojamento e alimentação e serviços prestados às empresas, também influenciou para o desempenho menos favorável.

Na comparação anual, do terceiro trimestre com igual período do ano anterior, houve alta de 0,2%.

O comércio (queda de 2,2%) e os "outros serviços" (recuo de 0,8%), que inclui serviços prestados às empresas, saúde, alojamento e alimentação, puxaram o desempenho para baixo.

O IBGE já havia divulgado no último dia 19 que o crescimento do faturamento do setor de serviços em junho foi o pior desde janeiro de 2012.

A redução dos dias úteis foi o principal motivo para a queda, assim como a paralisação na indústria no período, já que parte dos serviços atendem justamente a esse segmento. As pessoas também não procuraram médicos, dentistas e cabeleireiros nesses dias.

As outras cinco categorias de serviços, porém, tiveram alta no cálculo do PIB, com destaque para serviços de informação, que inclui internet e TV, que subiu 1%.


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