Folha de S. Paulo


Cresce desistência na compra de imóveis em São Paulo

O percentual de contratos de compra de imóveis novos cancelados na cidade de São Paulo em relação às vendas quase triplicou em um ano, o que leva as incorporadoras a reforçar as ações buscando a revenda de unidades.

Os distratos –como são chamados os cancelamentos– representaram em junho 17,9% da média das vendas nos últimos 12 meses. Em junho de 2013, eram 6,7%, segundo o Secovi-SP (sindicato do mercado imobiliário).

A maior parte dos cancelamentos ocorre quando os imóveis ficam prontos (cerca de três anos após o lançamento na planta), momento no qual o cliente tenta obter o financiamento bancário.

Se ele não consegue, a alternativa é pagar o restante da dívida à vista, se tiver condições, ou cancelar o contrato –o que faz o imóvel voltar para a empresa, que tentará revendê-lo.

Para Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP, alguns dos motivos para a alta no total de distratos se referem à perda da capacidade financeira dos compradores, à "pouca qualidade" na análise do crédito e à safra de imóveis com entrega atrasada.

A falta de análise do crédito pode se originar na venda de um imóvel na planta, se no plantão de vendas não é examinada com rigor a renda do comprador. Sem essa análise, não se prevê, por exemplo, a possibilidade de um cliente não ter condição de conseguir financiamento.

No caso de atrasos, a dívida costuma ser corrigida pelo INCC (Índice Nacional de Custo da Construção), ampliando o valor a ser financiado e dificultando a obtenção de crédito. O INCC tem alta de 7,52% em 12 meses até julho.

Editoria de Arte/Folhapress

PROMOÇÕES

Diante do aumento dos distratos, diversas incorporadoras e imobiliárias organizam ações promocionais neste ano, prometendo descontos principalmente para os apartamentos prontos ou em fase final de obra.

Isso porque os empreendimentos já concluídos geram custos para as empresas, que precisam arcar com valores referentes, por exemplo, à taxa de condomínio e ao IPTU.

Para Renato Ventura, diretor-executivo da Abrainc (Associação Brasileira das Incorporadoras), um endurecimento na concessão do crédito pelos bancos ou uma eventual desistência da compra por investidores não estão entre os principais fatores para a alta nos cancelamentos.

"Os bancos sempre ajustam os seus parâmetros de concessão de crédito de acordo com a economia. A gente soube que no ano passado houve algum ajuste, mas não tenho notícias de nenhum muito forte neste ano. O crédito continua disponível."

Para Ventura, embora não desejáveis, os distratos não são uma preocupação excessiva das empresas.

LANÇAMENTOS EM QUEDA

A alta nos cancelamentos ocorre em um momento de baixa no mercado imobiliário paulistano.

As vendas de imóveis novos atingiram 9.054 unidades no primeiro semestre, recuo de 48,3% ante o mesmo período de 2013.

Foi o menor volume para um primeiro semestre pelo menos desde 2004, quando se iniciou a pesquisa do Secovi-SP com a atual metodologia.

Para representantes do setor, um calendário atípico (com um Carnaval tardio e a Copa) e as incertezas econômicas são razões para os números.

Já os lançamentos caíram 19% no primeiro semestre, para 11.360 imóveis.

"Não conseguimos captar quando os empresários vão pôr na rua [os novos projetos]. Um fica esperando o outro ", diz Celso Petrucci, do Secovi-SP.


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