Folha de S. Paulo


Bolsa opera em baixa, puxada por queda nas ações da Vale e Petrobras

A Bolsa de Valores brasileira opera em leve queda nesta quinta-feira (21), no aguardo da conferência de líderes de bancos centrais dos Estados Unidos e de outros países em Jackson Hole, que começa hoje.

Às 12h45, o índice Ibovespa, o principal da Bolsa, seguia em queda de 0,40%, aos 58.643 pontos.

Depois de dias avançando a partir da especulação dos investidores com o cenário eleitoral, a Petrobras recua no pregão desta quinta. Às 12h45, as ações ordinárias da companhia, que dão direito a voto, caíam 0,94%, cotadas a R$ 19,93. Já os papeis preferenciais, de maior liquidez, recuavam 0,93%, a R$ 21,16.

Nem mesmo o discurso de efetivação da candidatura de Marina Silva (PSB), em favor do tripé econômico (câmbio flutuante, meta de inflação e responsabilidade) e da independência do Banco Central, animou os investidores.

"Na verdade, isso seria bem positivo para o mercado", afirma Lucas Marins, analista da Ativa Corretora, "Mas os eventos lá fora estão repercutindo bastante, com os discursos da Janet Yellen, presidente do Fed, e do Mario Draghi [presidente do Banco Central Europeu] em Jackson Hole".

O discurso do Draghi ganhou importância com a divulgação de um índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) industrial da zona do euro nesta quinta. O PMI composto preliminar do Markit, considerado um bom indicador para o crescimento da região, caiu para 52,8 em agosto, ante 53,8 em julho.

Para o PMI, qualquer número acima de 50 é positivo e sugere crescimento, mas o resultado deste mês foi mais fraco, o que indica uma possível desaceleração na zona do euro.

"Isso deixou os investidores bastante ansiosos e esperando alguma medida de política monetária ou até fiscal de Draghi para aquecer a economia, incluindo algo similar ao programa de compras de ativos dos Estados Unidos", diz Marins.

CHINA

A Vale foi afetada negativamente por dados industriais da China divulgados nesta quinta.

O PMI preliminar do HSBC indicou que a indústria do país registrou a mínima dos últimos três meses. O índice ficou em 50,3 em agosto, ante os 51,7 apurados em julho, quando o indicador teve a máxima dos últimos 18 meses. A previsão dos especialistas ouvidos pela Reuters era de que o resultado fosse de 51,5.

Refletindo o dado, as ações da Vale, que têm peso significativo na composição do Ibovespa, seguem em baixa nesta quinta. Os papeis ordinários recuam 0,56%, a R$ 31,59, e os preferenciais tinham queda de 0,53%, a R$ 28,14, às 12h45.

"Apesar dos dados, acredito que os desdobramentos das próximas pesquisas [eleitorais] e os debates [entre candidatos] devem guiar o sentimento do investidor", diz Marins.

DÓLAR

O dólar não teve grandes oscilações ante o real na manhã desta quinta, refletindo as expectativas dos investidores com a conferência em Jackson Hole.

O dólar comercial, utilizado em operações de comércio exterior, caía 0,22% às 12h45, cotado a R$ 2,258. Já o dólar à vista, referência no mercado financeiro, avançava 0,20%, a R$ 2,257.

O mercado de câmbio ainda sofre influência da especulação em torno da ata do Fed, divulgada nesta quarta. No documento, os integrantes do Fomc, comitê de política monetária americano, notam que houve melhorias no mercado de trabalho do país, mas demonstram preocupação com a capacidade ociosa dos trabalhadores.

A ata pode ser um indicativo de que o Fed poderá aumentar os juros dos Estados Unidos antes do previsto, desde que a inflação se mantenha sob controle.

"O dólar está subindo forte lá fora, impulsionado por indicadores da economia norte-americana", afirma Newton Rosa, economista chefe da SulAmérica Investimentos, "Isso tem relação com a ata [do Fed], sendo que os mercados praticamente ignoraram as notícias [negativas] da China e os PMIs da Europa".

"Há uma expectativa em relação a Jackson Hole também, mas isso ainda é uma interrogação", diz.

Para Mário Battistel, gerente de câmbio da Fair Corretora, o dólar permanece estável no mercado brasileiro. "Está basicamente próximo do fechamento de ontem, salvo algum fluxo de mercado", afirma.

BANCOS

Depois das medidas anunciadas pelo Banco Central nesta quarta para tentar ampliar a oferta de crédito no Brasil, as ações dos principais bancos do país têm leve queda no pregão desta quinta.

Às 12h45, os papeis do Bradesco subiam 0,15%, a R$ 37,76, enquanto as ações do Itaú Unibanco recuavam 0,76%, a R$ 37,40. O Santander, que nos últimos dias teve movimento contrário aos dos concorrentes, sobe 1,45%, para R$ 15,35.

Para Marins, da Ativa Corretora, as decisões do BC para ampliar o crédito no país não tiveram um impacto grande no mercado financeiro. "Para que isso ocorra, é preciso ter demanda por crédito. E o cenário para consumo, que é a marca de crescimento do Brasil e o maior alavancador da concessão de crédito, não está positivo".

O analista ressalta ainda que a ampliação do crédito ainda pode pressionar a inflação que, atualmente, está no teto da meta de 6,5% no acumulado em 12 meses.

LEILÕES

Nesta quinta, o Banco Central realizou o leilão de sete milhões de Letras do Tesouro Nacional (LTN) e três milhões de Notas do Tesouro Nacional - Série F (NTN-F).

Todas as letras do Tesouro foram negociadas. Destas, 1,5 milhão têm vencimento em outubro de 2016 e juros médios de 11,59%. Outros 2,5 milhões de títulos atingem a maturidade em abril de 2015, com juro a 11,04%. Os três milhões restantes têm vencimento em julho de 2018 e juro de 11,81%. As letras ofertadas somam R$ 5,49 bilhões.

O BC também conseguiu propostas para todas as notas do Tesouro emitidas. Foram 2,5 milhões de papeis com vencimento em 2025 e taxa média de juros de 11,81%. Os 500 mil restantes têm maturidade em 2021 e juro de 11,72%. Juntas, as notas somam R$ 2,75 bilhões.

O BC também deu continuidade ao seu programa de intervenções diárias no mercado de câmbio, negociando 4.000 contratos com vencimento em setembro de 2015, no valor de US$ 197 milhões.

A autoridade monetária também rolou o vencimento de 10 mil contratos que devem vencer no próximo dia 1º, numa negociação que alcançou US$ 494,1 milhões.


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