Folha de S. Paulo


Europa deu 'tiro no próprio pé' com sanções, diz premiê húngaro

A União Europeia prejudicou a si mesma com as sanções impostas à Rússia por conta da crise na Ucrânia, disse nesta sexta-feira o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, pedindo por uma reconsideração.

Os comentários de Orban acontecem um dia após seu homólogo eslovaco, o premiê Robert Fico, ter criticado as sanções como "sem sentido", dizendo que elas ameaçam o crescimento econômico do bloco europeu, composto de 28 países.

"A política de sanções perseguida pelo Ocidente, ou seja, nós mesmos, uma necessária consequência ao que os russos estão fazendo, causa mais dano para nós do que para a Rússia", disse Orban em uma entrevista no rádio. "Na política, isso é chamado dar um tiro no próprio pé."

A Hungria, um país orientado para as exportações, tem uma grande dependência de importações de energia da Rússia, e no começo deste ano Budapeste fechou um acordo com a empresa russa Rosatom para expandir a única usina nuclear húngara, em um acordo de 10 bilhões de euros (US$ 13 bilhões).

A Rússia também é o maior parceiro comercial da Hungria fora a União Europeia, com exportações de 2,55 bilhões de euros em 2013.

"A UE não deve apenas compensar os produtores de alguma forma, sejam eles poloneses, eslovacos, húngaros ou gregos, que agora têm que sofrer perdas, mas como toda a política de sanções deve ser reconsiderada", disse Orban.

Ministros das Relações Exteriores da UE realizam uma reunião de emergência nesta sexta-feira para discutir os conflitos na Ucrânia e no Iraque.

Orban já sinalizou oposição às sanções econômicas contra a Rússia por medo de que o caso prejudique a economia doméstica. Nesta sexta-feira, ele disse que buscaria maneiras de facilitar uma reconsideração.

"Eu farei meu máximo - é claro que estamos todos cientes do peso da Hungria, então as possibilidades são claras - mas estou buscando parceiros para mudar a política de sanções da UE, a qual eu acho que não foi considerada com suficiente meticulosidade", disse ele.

O Ministério da Agricultura da Hungria disse nesta terça-feira que as exportações agrícolas não seria prejudicadas significativamente pelo embargo de importações da Rússia a uma grande variedade de alimentos vindos da UE.

BRASIL

A decisão da Rússia de aumentar as importações de carnes do Brasil para compensar um embargo a outros países vai contribuir para uma alta nos preços da carne suína e de frango no país, mas terá impacto mais limitado sobre a área de bovinos, apontaram analistas e representantes do setor.

O governo russo praticamente triplicou o número de unidades brasileiras habilitadas a exportar à Rússia, depois de anunciar embargo a países fornecedores de alimentos em retaliação às sanções de países como Estados Unidos, União Europeia e Austrália, por causa da crise com a Ucrânia.

Para o setor de carne bovina, porém, o impacto deve ser menos significativo, porque a demanda interna está desaquecida, ressalvou o analista da Scot Consultoria, Alex Silva.

Mesmo assim, as exportações de carne bovina do Brasil aumentaram 8,6% em julho sobre o mesmo mês de 2013, somando 144,7 mil toneladas. A Rússia foi o principal destino, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).

O faturamento no mês subiu 19%, para US$ 691,9 milhões, também favorecido por um aumento no preço médio da tonelada embarcada, indica acompanhamento da Secretaria de Comércio Exterior.

As vendas para a Rússia saltaram 79% no período comparado, para 41 mil toneladas, e a receita subiu 113% para US$ 181 milhões, informou a Abiec


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