Folha de S. Paulo


Fim da Copa do Mundo contribui para queda da inflação

O fim da Copa do Mundo, que provocou uma redução de preços de passagens aéreas e diárias de hotéis, foi o principal motivo que fez com que o índice de inflação medido pelo IPCA desacelerasse em julho.

A inflação mensal ficou em 0,01%, uma forte desaceleração frente ao 0,40% registrado em junho. Em 12 meses, o índice ficou em 6,50%, informou nesta sexta-feira (8) o IBGE.

Os dois valores ficaram abaixo das previsões do mercado. Segundo a Bloomberg, analistas previam alta de 0,1% em julho e de 6,60% em 12 meses.

Ainda que a Copa tenha ocorrido até o dia 13 de julho, o IBGE verificou que ao final da primeira quinzena do mês passado os preços desses dois serviços apresentaram queda, afirma a coordenadora de Índices de Preços do órgão, Eulina Nunes dos Santos.

As passagens aéreas registraram em julho queda de 26,86% em relação a junho. O recuo compensou a alta de 21,95% verificada no mês anterior.

Essa queda deu a contribuição mais forte para que a inflação dos transportes tenha recuado 0,98% em julho e permitido, junto com outros três setores que apresentaram deflação, que o índice de inflação oficial ficasse praticamente estável em julho.

Nos sete primeiros meses do ano, passagens aéreas acumulam queda de 41,62%.

Uma segunda explicação para essa queda é que neste ano muitas empresas aumentaram o número de voos com destino ou origem do Brasil, também em função do mundial. O aumento da oferta contribuiu para a redução dos preços, disse a coordenadora.

Editoria de Arte/Folhapress
Indicadores - Evolução do IPCA
Indicadores - Evolução do IPCA

DESPESAS PESSOAIS

O setor de despesas pessoais que, ainda que não tenha apresentado deflação, teve uma redução forte no ritmo de alta de preços– passou de 1,57% em junho para 0,12% em julho–, foi diretamente impactado pelas diárias dos hotéis, que à medida que a Copa se aproximava do fim davam sinais de queda.

O valor das diárias caiu 7,65% em julho. Diferentemente das passagens, a queda não compensou a alta verificada no mês anterior, quando a Copa começou e os preços dos hotéis verificados pelo IBGE saltaram 25,33%.

Segundo a coordenadora, o movimento de desaceleração dos preços após um evento como a Copa é normal, já que há um aumento de demanda nos meses anteriores e uma queda brusca logo em seguida.

Esse movimento, contudo, não deve permanecer nos próximos indicadores, já que o efeito sazonal da Copa já terá passado.

Outros fatores, como as seguidas quedas nos preços dos alimentos, fruto de uma expectativa maior com relação à safra deste ano, e o movimento de alta dos juros interrompido em maio –e que leva algum tempo a ter impacto nos preços– continuarão a pressionar a inflação para baixo.

RESULTADO POR GRUPO NO MÊS (em %)

GRUPO Junho Julho
ÍNDICE GERAL 0,40 0,01
Alimentação e Bebidas -0,11 -0,15
Habitação 0,55 1,20
Artigos de Residência 0,38 0,86
Vestuário 0,49 -0,24
Transportes 0,37 -0,98
Saúde e Cuidados Pessoais 0,60 0,50
Despesas Pessoais 1,57 0,12
Educação 0,02 0,04
Comunicação -0,02 -0,79

Fonte: IBGE

"As passagens aéreas 'devolveram' toda alta que havia sido vista no mês anterior. Já os hotéis não conseguiram devolver tudo porque muitos chegaram a triplicar seu valor de diárias antes da Copa. Nós verificamos movimento semelhante na África do Sul (sede da Copa de 2010), com a diferença que lá o preço da hospedagem caiu mais", disse Eulina, em coletiva na sede do IBGE, no centro do Rio, na manhã desta sexta-feira.

Na avaliação da coordenadora, hotéis só não recuaram o suficiente para reverter a alta do mês anterior porque há a perspectiva com a realização dos Jogos Olímpicos em 2016, no Rio. A cidade foi, inclusive, o estado que, ao invés de deflação, teve a maior alta de julho no valor das diárias, de 3,45%. Além do Rio, apenas Belém registrou alta de preços, de 0,32%.

Salvador (-22,33%), Recife (-18,58%) Porto Alegre (-16,99%), Fortaleza (-8,47%) e Curitiba (-6,18%) integram o topo da lista das maiores queda de preços nas diárias de hotéis.

Em sexto lugar, São Paulo teve queda de 5,38%.

O IBGE, disse a técnica, faz a pesquisa de preços de passagens e hotéis com dois meses de antecedência para datas nas quatro semanas do mês de referência. Depois, faz uma média dos valores e calcula a inflação do segmento.

ALIMENTOS

Um dos vilões da inflação nos últimos anos, os alimentos registraram em julho o quarto recuo de preços consecutivo em 2014. O segmento de alimentos e bebidas recuou 0,15% no mês passado, frente a igual período do ano anterior.

A variação é negativa desde junho, quando houve queda de 0,11% no índice de preços, mas a desaceleração vem desde abril, quando a inflação foi de 1,19%, apresentando menos força que março (alta de 1,92%).

A batata inglesa foi o alimento que mais teve queda de preços, 18,84% em julho, seguido do tomate (17,33%), feijão fradinho (7,54%), feijão carioca (6,42%) e cenoura (6,16%).

De acordo com a coordenadora do Índice de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, cenários agrícolas mais favoráveis ao redor do mundo e uma perspectiva de safra melhor neste ano contribuíram para a melhora dos preços.

O IBGE prevê uma safra 2,6% maior neste ano em relação a 2013, um crescimento equivalente 5 milhões de toneladas a mais.

ÁGUA

O problema de abastecimento de água em São Paulo contribuiu para o recuo do preço do setor água e esgoto do índice de inflação em julho. A taxa de água no país apresentou recuo de 1,34% em julho frente a junho. Em São Paulo e na região metropolitana da capital, essa queda foi de 9,11%.

Em fevereiro, a Sabesp iniciou um programa de incentivo de redução ao consumo de água por conta do baixo nível dos reservatórios de água do estado.


Endereço da página:

Links no texto: