Folha de S. Paulo


Rússia pode ser 'revolução' para carnes do Brasil, diz Agricultura

O mercado da Rússia para as carnes brasileiras, que deverá ganhar ainda mais importância após embargo russo a produtos dos Estados Unidos, poderá representar uma revolução para a indústria do Brasil.

A situação é comparável à que a China provocou nas exportações de soja do país na última década, disse uma autoridade do Ministério da Agricultura nesta quinta-feira (7).

O ministro da Agricultura da Rússia, Nikolai Fyodorov, confirmou que o país vai compensar a proibição de importação de alimentos e produtos agrícolas da União Europeia e dos Estados Unidos com um maior fornecimento de carne do Brasil e queijo da Nova Zelândia.

Na véspera, a Rússia informou que permitirá que o Brasil aumente significativamente suas exportações de carne e laticínios ao país, em meio a embargos russos aplicados a produtos alimentícios dos EUA e da União Europeia, em retaliação a medidas do Ocidente por conta da crise na Ucrânia.

"Este anúncio é uma grande oportunidade do mercado brasileiro trabalhar para conseguir exportar o nosso milho, a nossa soja e a nossa carne, seja bovina, suína ou de aves", afirmou o secretário de Política Agrícola, Seneri Paludo, durante conferência de imprensa para comentar números de safra.

Segundo ele, a Rússia também tem potencial de ser grande consumidor de commodities agrícolas.

A associação brasileira dos exportadores de carnes (Abiec) afirmou que o número de unidades habilitadas a exportar passou de 31 para 89 plantas após o movimento russo contra o Ocidente.

A Associação Brasileira para Proteína Animal (ABPA) informou que 25 unidades foram habilitadas na quarta-feira para exportar carne de frango ao mercado russo, totalizando agora 38 fábricas. Na carne suína, as unidades habilitadas passaram de oito para 12.

"Talvez, do mesmo jeito que aconteceu no processo de revolução na cadeia de grãos 10, 12 anos atrás, talvez a gente esteja vendo uma grande janela para causar uma revolução na produção de carnes brasileira", disse o secretário.

Editoria de Arte

Segundo reportagem da Folha desta quinta, a maior oportunidade para o Brasil está na carne de frango. O país poderia aumentar as suas exportações das atuais 60 mil toneladas para 210 mil em um ano, ao ocupar parte do espaço deixado pelos EUA. Ainda poderia abocanhar também parte das exportações da UE, estimadas em 40 mil toneladas.

Caso o Brasil consiga vender esse volume adicional de 150 mil toneladas, acrescentaria US$ 300 milhões de receitas à balança comercial.

Segundo a ABPA, as indústrias de frango do Brasil têm condições de atender "tranquilamente" uma demanda adicional da Rússia.

As exportações de carne de frango do Brasil à Rússia somaram 60 mil toneladas em 2013.

No mesmo ano, o Brasil exportou para a Rússia US$ 1,20 bilhão em carne bovina, o equivalente a 303 mil toneladas, segundo o Ministério da Agricultura. De carne suína, foram exportados US$ 412 milhões de dólares (134 mil toneladas) e, de produtos agrícolas, US$ 2,72 bilhões, segundo o ministério.

ESTADOS UNIDOS

O assessor econômico da Casa Branca, Jason Furman, disse nesta quinta-feira que a retaliação russa contra as sanções ocidentais impostas pelo esforço de Moscou para desestabilizar a Ucrânia vai prejudicar a economia russa.

Furman disse ainda a repórteres que as sanções ocidentais contra a Rússia, que neste ano anexou a península da Crimeia que pertencia à Ucrânia, não eleveram o preço do petróleo ou tiveram qualquer impacto nas exportações dos EUA.

Segundo um funcionário de alto escalão do Departamento do Tesouro norte-americano, os Estados Unidos estão preparados para impor novas sanções à Rússia se o país não mudar de curso no apoio aos separatistas no leste da Ucrânia.

O subsecretário do Tesouro dos EUA, Davis Cohen, disse também, em uma teleconferência com jornalistas, que Washington alertou a Rússia contra supostas trocas de petróleo por produtos com o Irã, acrescentando que qualquer um envolvido em tais trocas estaria sujeito a sanções dos EUA.

Ainda não está claro se Rússia e Irã possuem algum acordo de troca de petróleo por produtos, segundo Cohen.


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