Folha de S. Paulo


Apesar de recuo nos mercados dos EUA em julho, analistas estão otimistas

O mercado de ações dos EUA fechou o mês de julho com a mais profunda queda no índice Standard & Poor's 500 desde abril, enquanto o índice Dow Jones caía em mais de 300 pontos, o suficiente para zerar todos os seus ganhos no ano.

Os motivos para a queda não estavam inteiramente claros na quinta-feira (31). Resultados decepcionantes para algumas grandes empresas, o aparente calote argentino com os credores externos e o medo de conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio podem ter contribuído.

E os indicadores relativamente fortes quanto à economia dos Estados Unidos podem ter causado preocupação, entre os operadores, sobre a possibilidade de um aperto do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) em sua política monetária expansiva.

Mas, quaisquer que sejam as causas do declínio, ele não foi completamente inesperado e a reação de diversos estrategistas foi relativamente positiva. Diversos deles avaliaram a situação assim: O mercado caiu 2% em um dia? Era mais que hora.

"Creio que seja saudável, a essa altura do ciclo monetário", disse Liz Ann Sonders, estrategista chefe de investimento da corretora Charles Schwab. "Depois da aceleração no mercado que tivemos até o momento, seria de esperar que viesse uma correção real. Não sei dizer se esse é o começo de uma correção, mas creio que seria bastante saudável que ela viesse. E um declínio como o atual? É bom passar por ele".

Vistos isoladamente, porém, os principais indicadores de mercado parecem feios. O índice Dow Jones caiu 1,88% na quinta-feira, fechando em 16.563 pontos, o que o colocou em variação negativa pela primeira vez em 2014. O índice Nasdaq perdeu 2,09%, caindo a 4.369. E o S&P 500 recuou 2%, para 1.930. Mesmo com essa queda, o S&P 500, um barômetro sobre o mercado das ações de grande capitalização, acumulava alta de 4,45% no ano até o dia 31 de julho.

Ainda assim, se a queda precipitada dos grandes índices pareceu assustadora, pode ter sido porque o mercado vinha se mantendo sobrenaturalmente calmo por muito tempo. A última vez em que o S&P 500 caiu tanto assim, em termos percentuais, foi em abril, de acordo com Paul Hickey, co-fundador do Bespoke Investment Group.

Desde o começo da alta do mercado, em março de 2009, o S&P 500 avançou mais de 22%, incluindo dividendos, até o dia 25 de julho, de acordo com dados da Bloomberg. No entanto, não acontece uma correção –tipicamente, um declínio de pelo menos 10%– desde 2012.

Declínios muito maiores tendem a ocorrer com alguma frequência, mesmo em mercados em alta, apontou James Paulsen, estrategista-chefe de investimento da Wells Capital Management.

"Pode-se definitivamente dizer que uma queda como a que tivemos já estava por acontecer há muito", ele disse. "O que pode estar acontecendo é que boas notícias para a economia mais ampla já não são boas notícias para Wall Street, que estejamos passando por uma divergência, e o mercado terá de se acostumar a isso."

Ele apontou que o relatório da quarta-feira mostrando uma alta anualizada de 4% no PIB (Produto Interno Bruto) –uma notícia que beneficiaria a maioria das pessoas nos EUA– pode não ser visto de forma inteiramente positiva em Wall Street, porque poderia prenunciar um fim anterior ao esperado para a política monetária expansiva do Federal Reserve.

Caso se torne evidente que a economia está ganhando velocidade, Paulsen disse, "terá de haver alguma recalibragem do mercado. Pode ser que aquilo que estamos vendo seja o começo de uma, e que as taxas de juros venham a subir um pouco e o mercado se torne turbulento. Mas é lógico que não sabemos de fato".

IRRACIONAIS

Ocasionalmente as quedas nos mercados são simplesmente irracionais, ainda que não aconteçam de maneira completamente inesperada, disse Richard Bernstein, antes estrategista-chefe de investimentos do Merrill Lynch e hoje proprietário de uma consultoria de investimentos e executivo na administradora de fundos Eaton Vance.

"As pessoas ouviram muito sobre a possibilidade de que estejamos à beira do precipício de uma correção, e elas estão um tanto agitadas", ele disse. "Isso acontece às vezes quando existe uma confluência de fatores geopolíticos e econômicos, e as pessoas ficam inquietas. Mas eu vinha sendo otimista, e continuo a sê-lo. Só teremos de descobrir nas próximas semanas quem está certo e quem está errado".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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