Folha de S. Paulo


TCU é contestado por inocentar Caixa no caso Panamericano

Diretores da Caixa que atuaram na controversa compra do Banco Panamericano, em 2010, foram inocentados há duas semanas pelo Tribunal de Contas da União em um julgamento sigiloso.

A decisão, no entanto, foi questionada pela procuradoria do próprio TCU, para quem a negociação que culminou com a aquisição do braço financeiro do Grupo Silvio Santos foi irregular, "heterodoxa" e "amadora".

"Ao ver do Ministério Público, este processo cuida de uma transação extremamente ruinosa e ilegal. Trata da compra de uma instituição falida por um banco público, que trouxe benefícios exclusivos para o antigo grupo empresarial controlador e apenas prejuízos vultosos para a Caixa e para a sociedade brasileira, sem nenhum interesse público a ser atendido", afirmou o procurador Julio Marcelo, que assina o recurso, obtido pela Folha.

A Caixa nega prejuízo na operação.

Rodrigo Capote - 12.nov.10/Folhapress
Fachada de agência do banco Panamericano em São Paulo, em 2010. TCU é contestado por inocentar diretores da Caixa que atuaram na compra da instituição financeira
Fachada de agência do banco Panamericano em São Paulo, em 2010. TCU é contestado por inocentar diretores da Caixa que atuaram na compra da instituição financeira

Conforme a contestação, executivos da Caixa que trataram dos termos do contrato na época da aquisição dispensaram a exigência legal de requerer um depósito em dinheiro, também chamado de conta caução, para compensar eventuais rombos do Panamericano que fossem descobertos após a compra.

Para o MP do TCU, isso contraria a legislação da época.

DECISÃO

Na decisão tomada há duas semanas, o TCU isentou quatro executivos do banco estatal de responsabilidade por essa operação. Os ministros acompanharam o voto do relator do processo, ministro Raimundo Carreiro, que foi contrário ao parecer dos técnicos do órgão que apontavam que a conta caução não poderia ter sido dispensada.

Carreiro argumenta que um órgão superior à diretoria do banco, o conselho diretor, considerou que a aquisição do Panamericano podia ser feita com outras garantias, incluindo o patrimônio do vendedor.

O procurador aponta que a ata do conselho que a defesa da Caixa apresentou para a justificativa não tratava da caução e sim de garantia para dívidas trabalhistas e que, por isso, o depósito de garantia não poderia ser dispensado.

O recurso diz ainda que o banco pagou de forma indevida uma taxa de sucesso a uma empresa contratada como consultora para avaliar os riscos do negócio. Na argumentação, quem avaliou as vantagens do contrato tinha interesse que ele atingisse êxito e por isso não poderia haver a taxa de sucesso.

O procurador pede ainda que seja fiscalizado se a Caixa está cobrando o prejuízo deixado pelo ex-controlador.

COMPRA

A negociação para a compra do banco Panamericano começou logo depois do estouro da crise financeira mundial, em 2008, quando o governo Lula autorizou os bancos estatais a comprarem instituições de menor porte em dificuldade. Tratava-se de operações emergenciais para evitar abalos no sistema financeiro.

A aquisição teve início em 2008, mas só foi concluída em 2010. Meses depois da celebração do contrato, no qual a Caixa desembolsou R$ 732 milhões, a Caixa descobriu um rombo de aproximadamente R$ 4 bilhões na empresa.

"Todo o processo de aquisição foi conduzido de forma heterodoxa e amadora, contrariando pareceres internos da Caixa, a revelar que a decisão de adquirir participação no Banco Panamericano não foi orientada por critérios técnicos e econômicos", diz o MP do TCU.

Desde o episódio do Panamericano, a gestão da Caixa tem sido criticada. Loteamento de cargos e politização de sua cúpula são as críticas mais frequentes. Lá, PT e PMDB são os principais partidos no domínio da entidade pública.

OUTRO LADO

O diretor jurídico da Caixa, Jailton Zanon da Silveira, disse que a empresa discorda da posição do procurador porque, segundo ele, o plenário já havia decidido em processo anterior que o conselho de administração do Banco tinha poder para permitir que o negócio fosse feito sem caução e o ministério público não havia contestado.

Silveira disse ainda que a Caixa já cumpre a determinação de não fazer mais contrato com taxa de sucesso.

Ele garantiu que o banco público não ficou com nenhum prejuízo na operação, já que o ex-controlador do Panamericano, o Grupo Silvio Santos, pegou empréstimo no FGC (Fundo Garantidor de Crédito) para saldar o rombo.

Segundo ele, as críticas do procurador de que o negócio foi feito com pareceres contrários do próprio banco não procedem. "Não há parecer contrário a esta operação", garantiu.


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