Folha de S. Paulo


Empresa culpa 'banditismo' por demora na entrega de usina em RO

A Santo Antônio Energia, responsável pela construção da usina de mesmo nome no rio Madeira (RO), disse, à Folha, que a demora na entrega da usina deveu-se às greves e que ela não está atrasada.

Segundo o diretor-presidente da companhia, Eduardo de Melo Pinto, greves atrasaram o andamento da obra e frustraram a entrega da energia.

"O que houve em Santo Antônio não foi atividade sindical, houve banditismo", diz.

Até o momento, a empresa entregou 28 turbinas. Outras quatro entrarão em operação até setembro. Segundo a Aneel, todas já deveriam estar funcionando.

De acordo com o executivo, tecnicamente, a usina não está atrasada, pois, no cronograma original, ela deveria estar pronta apenas em 2015. "Nós antecipamos o cronograma em doze meses e, infelizmente, não conseguimos cumprir. Fomos muito ousados, mas não contávamos com o banditismo", afirma.

Ele diz que a partir de 2012, com o adiantamento das obras, a companhia firmou contratos de fornecimento no mercado livre baseado na expectativa de que ela já estaria pronta.

Avener Prado/Folhapress
Vista aérea da Usina Hidrelétrica de Santo Antonio
Vista aérea da Usina Hidrelétrica de Santo Antonio

Por causa dessa frustração, desde o início de 2013, a empresa teve de pagar mais de R$ 1 bilhão por ter de compensar a energia que não entregou comprando a diferença no mercado de curto prazo.

"Só houve um prejudicado nessa antecipação, Santo Antônio. Fomos muito ousados", diz. "Além de não estarmos atrasados, nos definiram como o protótipo do atraso do setor", complementa.

O diretor de comunicação da Central Única dos Trabalhadores de Rondônia (CUT-RO), Lodeilson Fernandes, preferiu não responder aos questionamentos da reportagem.

COMUNICAÇÃO

A Santo Antônio afirma que há um erro de comunicação entre a empresa e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que define como atrasadas as quatro turbinas que serão entregues em agosto.

Segundo o relatório de fiscalização da agência, essas turbinas deveriam iniciar a operação em março deste ano.

Porém, Pinto afirma que a Aneel cobra o cronograma antecipado, e não o original.

Tanto a Aneel quanto o Ministério de Minas e Energia (MME) contavam com a operação de Santo Antônio e Jirau para reduzir a exposição das distribuidoras de energia, situação criada com o fim de contratos entre geradoras e distribuidoras em 2013 e que não foram repostos nos leilões organizados pelo governo.

"Por termos acelerado nossas obras, chegamos a disponibilizar energia no sistema antes da hora. Na verdade, estamos ajudando o setor. Não temos qualquer relação com o problema das distribuidoras", diz.

Questionada, a Aneel afirma avaliando o cronograma da usina e que só se manifestará após reunião da diretoria.

PREJUÍZOS

O presidente de Santo Antônio afirma que os únicos valores que não estão sendo pagos pela empresa são aqueles que foram isentados por liminares. São duas em sua posse.

A primeira é por um pedido de postergação do cronograma devido às greves. Já o segundo, é porque a Aneel cobra 99,5% de disponibilidade da usina desde o início de operação da primeira turbina.

"Consigo essa disponibilidade quando estiver com as 50 turbinas previstas em operação. Com 5 usinas, caso uma pare, já são 20% de indisponibilidade. Não é possível cumprir esse fator antes da entrega de toda a usina", diz Pinto.

Conforme a Folha antecipou, em 9 de julho, o prejuízo causado pelo atraso das duas usinas do rio Madeira, Santo Antônio e Jirau, pode chegar até a R$ 5 bilhões entre abril e setembro.

Pinto afirma que o montante que deixou de ser pago devido às liminares entre abril e maio somam R$ 610 milhões.

Até setembro, quando 32 turbinas estarão em operação, o valor tende a aumentar.


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