Folha de S. Paulo


Índia contesta, e prazo para acordo da OMC expira sem consenso

Apenas sete meses depois de os membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) chegarem a um acordo em Bali, no primeiro avanço significativo nas negociações em quase duas décadas de existência do organismo, os entendimentos voltaram a fracassar.

Terminou nesta quinta-feira (31) o prazo para que um dos pilares do que foi debatido em Bali no fim de 2013, o chamado acordo de facilitação comercial para reduzir a burocracia alfandegária, fosse implementado. O prazo estourou sem que isso fosse possível principalmente em função das exigências da Índia –as decisões da OMC tem de ser tomadas por consenso entre os 180 membros.

Segundo esse país, a abertura de mercados globais pretendida pela OMC afetaria seus pequenos produtores agrícolas. O país pedia garantias de que poderia continuar com barreiras protecionistas no setor –a Índia compra até metade da sua produção agrícola, especialmente de arroz e trigo, para a formação de estoques, que são vendidos de maneira subsidiada no seu mercado interno. Para a Índia, essa é uma questão prioritária, já que 70% da sua população de 1,2 bilhões de pessoas vive no campo.

Made Nagi/Efe
Em discurso na conferência da OMC, o ministro do Comércio da Índia, Ahmad Sharma, disse
Em discurso na conferência da OMC, o ministro do Comércio da Índia, Ahmad Sharma

O fracasso é um golpe tanto na nunca finalizada rodada Doha de negociações internacionais, iniciada em 2001 pela OMC e inacabadas, quanto na credibilidade da própria entidade, que se mostra incapaz de atingir seu principal objetivo, que é reduzir o protecionismo pelo mundo via negociações multilaterais. O avanço do acordo de facilitação comercial havia sido apresentado como estímulo para prosseguir com as negociações de Doha e um sinal de que elas não estariam ainda enterradas

"Fomos incapazes de encontrar uma solução", disse o diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevêdo. "Tentamos tudo que podíamos." Ele se disse muito preocupado sobre o futuro das negociações e pediu que os membros da OMC "reflitam sobre as consequências" da falta de acordo. Ela poderia levar a OMC a uma "fase de incertezas".

A falta de avanços na OMC tem levado vários países e blocos do mundo, inclusive os Estados Unidos e a União Europeia, a negociarem acordos bilaterais –ou seja, entre nações específicas, e não multilaterais, com o mundo inteiro, como propõe a OMC. A diplomacia brasileira tem sido criticada, nos últimos anos, por não ter investido nesses acordos bilaterais.

Com "Financial Times"


Endereço da página:

Links no texto: