Folha de S. Paulo


Reino Unido dá luz verde a carros sem motorista

O governo do Reino Unido, nesta quarta-feira (30), deu luz verde à circulação de carros sem motorista nas vias públicas do país, a partir de janeiro.

O secretário de Negócios anunciou medidas de revisão dos regulamentos viários e lançou um concurso de 10 milhões de libras para que até três cidades se tornem local de teste para os carros sem motorista.

Os testes devem começar em janeiro de 2015, e sua conclusão requererá de 18 a 36 meses.

O Reino Unido não é o primeiro país a permitir a circulação de carros sem motorista. Três Estados norte-americanos, entre os quais a Califórnia, já o permitem. David Raistrick, especialista em automóveis da Deloitte UK, disse que polos regionais como as cidades de Birmingham, Leeds ou Milton Keynes seriam locais ideais de teste.

"Não veremos um surto súbito de carros sem motoristas nas ruas", ele disse. "Colocar o carro na rua é parte fácil - mas obter a tecnologia ao preço certo para que as pessoas possam adquirir esses carros será muito mais difícil".

Os ministros estão revisando os regulamentos viários britânicos para garantir que eles sejam apropriados para o teste e uso de carros sem motorista.

O anúncio foi feito por Vince Cable em Nuneaton, onde ficam as instalações de teste e pesquisa da MIRA.

O concurso de 10 milhões de libras será bancado conjuntamente pelo Departamento de Negócios e pelo Departamento do Transporte do governo.

COMPETIÇÃO

Veículos sem motoristas são um dos setores de maior competição na indústria automobilística, e são encarados como o próximo grande centro de lucros, opondo montadoras tradicionais de automóveis como a GM a gigantes da tecnologia como o Google.

Esta semana a Baidu, companhia chinesa de buscas online, anunciou que estava testando um carro que se autodirige e que seria "altamente autônomo", em lugar de ser um carro sem motorista, e incluiria um "assistente inteligente" para ajudar o motorista.

Isso se segue ao anúncio pelo Google, em maio, de que produziria 100 protótipos de um carro sem motorista, que dispensariam volantes e pedais.

Os carros elétricos de dois lugares têm velocidade máxima de 40 km/h e capôs de espuma, a fim de minimizar o impacto em caso de colisão.

Cada carro tem dois motores, de modo que se um deles falhar o veículo possa ser levado a um lugar seguro pelo segundo. O Google disse ter a esperança de operar modelos piloto dos carros nas vias públicas da Califórnia "dentro de um ou dois anos".

Nick Connor, diretor executivo da Volvo Cars no Reino Unido, disse que a companhia examinaria com interesse os detalhes do anúncio do governo britânico.

"Estamos no momento trabalhando com as autoridades da Suécia para um teste semelhante perto de Gotemburgo", ele disse. "O apoio dos governos locais e nacionais é essencial se desejamos demonstrar o potencial dessa tecnologia e encorajar sua adoção pelo público".

Ele acrescentou que carros sem motorista não são "inovação sem propósito", mas "um meio de tornar as ruas mais seguras, o ar menos poluído e as cidades menos congestionadas".

TESTES

Usar cidades inteiras como centrais de teste foi uma das recomendações sobre estratégia de robotização feitas em um relatório divulgado este mês pelo Conselho de Estratégia Tecnológica do Reino Unido. O estudo examina como o Reino Unido deve agir para conquistar maior fatia do mercado mundial de robótica, que deve atingir os 70 bilhões de libras em 2025.

"A capacidade de testar carros sem motorista em larga escala, quando acoplada às vantagens únicas do Reino Unido em tecnologia do transporte e planejamento urbano, atrairá novos investimentos", disse Iain Gray, o presidente do conselho estratégico.

George Osborne, chanceler do Erário [ministro das Finanças] britânico, prometeu 10 milhões de libras para apoiar essa tecnologia em um discurso no final do ano passado.

O governo de coalizão britânico quer muito promover o Reino Unido como polo de produção de veículos de luxo ou alta tecnologia, encorajado pela decisão da Nissan de fazer de Sunderland a central europeia para a produção de seu modelo elétrico Leaf.

A Nissan anunciou que colocará um carro sem motorista no mercado em 2020, mas veículos autônomos demorariam muito mais, na opinião de alguns analistas, que mencionam os obstáculos legais e legislativos que podem surgir em caso de acidentes.

OUTROS PAÍSES

Outros países não demoraram a cortejar os desenvolvedores de tecnologia dessa área. Os Estados Unidos norte-americanos da Califórnia, Nevada, Michigan e Flórida aprovaram testes de veículos "autônomos".

Os carros sem motorista do Google já percorreram quase 500 mil quilômetros nas vias da Califórnia, principalmente rodovias. A companhia também os testou em Mountain View, onde fica sua sede, e mapeou as ruas da cidade com o nível de detalhe necessário a operá-los.

No ano passado, a Nissan executou seu primeiro teste de um carro autônomo em uma rodovia japonesa, e a cidade sueca de Gotemburgo já deu à Volvo permissão para testar mil carros sem motorista em uma experiência que começará em 2017.

Outras companhias do setor que estão criando carros sem motoristas, como a Toyota, montaram grandes centros de pesquisa com vias privativas de rodagem.

Mas organizações do setor de seguros expressaram preocupação com a tecnologia, dizendo que os legisladores precisam enfrentar questões difíceis, como a de quem seria judicialmente responsável por uma colisão.

Em relatório recente, analistas do mercado de resseguros Lloyd's, de Londres, escreveram que "embora, no futuro imediato, carros semiautônomos possam ser desenvolvidas com base na estrutura legal já existente, em níveis mais avançados dessa tecnologia poderá surgir a necessidade de uma reavaliação prolongada e complexa".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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