Folha de S. Paulo


Pesquisa eleitoral e realização de lucros levam Bolsa brasileira a queda

O resultado de nova pesquisa eleitoral deu a tônica do mercado financeiro no pregão desta quarta-feira (23). Influenciada pelas principais estatais, a Bolsa brasileira interrompeu uma sequência de três altas consecutivas e para pontuações recordes no ano e fechou em queda.

O Ibovespa, o principal índice de ações da Bolsa brasileira, caiu 0,97%, em 57.419 pontos, puxado principalmente por Petrobras e Eletrobras -os papéis das duas estatais estiveram entre as dez maiores baixas do dia.

As ações da Eletrobras recuaram 3,8%, para R$ 6,58. As preferenciais da Petrobras, mais negociadas, se desvalorizaram 3,75%, fechando em R$ 20,26. Ações ordinárias da petrolífera estatal, com direito a voto, caíram 2,41%, em R$ 19,01.

A pesquisa da vez foi a realizada pelo instituto Ibope, que mostrou a presidente Dilma Rousseff (PT) vencendo o senador Aécio Neves (PSDB) por oito pontos em eventual segundo turno das eleições presidenciais. O resultado foi diferente dos apresentados por Datafolha e Sensus nos últimos dias, que apontavam empate técnico entre os dois candidatos na simulação de um segundo turno.

As pesquisas têm influenciado os mercados acionários, especialmente sobre os preços de papéis de estatais. Bons desempenhos da presidente Dilma num levantamento estimulam em geral a queda dessas ações, como aconteceu na leitura sobre a pesquisa do Ibope; quando Dilma vai mal na pesquisa ou seus adversários melhoram, por outro lado, elas em geral sobem, como foi observado nos três pregões anteriores.

Segundo analistas, agrada o mercado a possibilidade de mudança de gestão nas estatais, pois investidores consideram que a atual administração tem tomado medidas intervencionistas.

"O mercado estava posicionado para um cenário mais positivo para a oposição na pesquisa do Ibope. Como veio diferente do que esperavam, os investidores aproveitaram para realizar lucros", disse Lucas Marins, analista da Ativa Corretora.

Entre sexta (18) e terça (22), o Ibovespa havia subido nada menos do que 4,22%, rompendo por três vezes consecutivas a maior alta do ano e chegando ao maior índice desde março do ano passado. De qualquer forma, ele continua com ganho de 11,47% no ano.

Marins lembrou ainda que a pesquisa teve mais influência pela ausência de indicadores relevantes aqui e no exterior nesta quarta.

Mas Julio Hegedus, economista-chefe da Lopes Filho, tem uma visão distinta do resultado da pesquisa: "O mercado só viu o retrato, a diferença no segundo turno, não analisou que houve queda dessa diferença".

De toda forma, segundo ele, "o mercado está totalmente focado em eleições. Até outubro, é o fator que tende a exercer maior influência na nossa Bolsa", disse ele.

OUTRAS AÇÕES

O mercado acionário operou em baixa como um todo nesta manhã, num movimento de realização de lucros. Às 12h50, apenas 17 das 72 ações que compõem o Ibovespa subiam.

Uma das maiores baixas do foi registrada pela CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), cuja cotação da ação recuou 2,24%, para R$ 11,30. Segundo Hegedus, da Lopes Filho, a companhia sofria após relatório do Goldman Sachs recomendar venda de seus papéis.

Das poucas altas do pregão, destaque para a Fibria, que anunciou seus resultados na manhã da quarta-feira. A empresa, que havia registrado prejuízo no 2º trimestre de 2013, reportou lucro líquido R$ 631 milhões entre abril e junho deste ano. As ações da companhia fecharam o pregão valendo R$ 21,85, com alta de 4,54%.

"O bom resultado de Fibria trouxe a reboque a Suzano, por ser correlata, do mesmo setor", disse Marins, da Ativa Corretora. A Suzano subiu 3,16%, para R$ 8,46.

CÂMBIO

O dólar, por sua vez, encerrou o dia em alta, após três baixas seguidas. A moeda à vista, referência para os negócios no mercado financeiro, fechou cotada em R$ 2,2219, com elevação de 0,47% em relação ao dia anterior.

O dólar comercial, usado em transações de comércio exterior, encerrou o dia negociado a R$ 2,22, subindo 0,36% em relação ao fechamento de terça.

"O dólar não está com muita força para subir", disse Mauriciano Cavalcanti, diretor de operações de câmbio do Grupo Ouro Minas. Segundo ele, a pesquisa eleitoral foi, também no mercado de câmbio, o principal fator de influência.

"A desconfiança do empresariado em relação à presidente é o que tem influenciado o mercado. Por isso, quando ela melhora numa pesquisa, o dólar sobe", afirmou.

Ele destaca que essas eleições estão diferentes das duas anteriores. "Na segunda eleição do Lula e na primeira da Dilma, acontecia o contrário: melhora dos dois nas pesquisas trazia melhoria para o mercado de câmbio e o dólar caía".

O Banco Central deu continuidade ao seu programa de intervenções diárias no câmbio, por meio do leilão de 4.000 swaps cambiais (operação que equivale a uma venda futura de dólares), sendo 3.000 com vencimento em 2 de fevereiro de 2015, por um total de US$ 149,2 milhões e 1.000 contratos que vencem em 1º de junho de 2015, por US$ 49,5 milhões.

A autoridade também promoveu outro leilão para rolar os vencimentos de contratos de swap previstos para 1º de agosto, e negociou 7.000 contratos no total, por US$ 346,4 milhões.

Na visão de Hegedus, da Lopes Filho, a manutenção desse programa de intervenção diária é o que tem mantido a oscilação do dólar menos forte do que a da Bolsa. "A regularidade amortece uma maior oscilação", disse.


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