Folha de S. Paulo


Com dívida bilionária, Rioforte pede proteção contra credores na Justiça

Os problemas da única dinastia de banqueiros de Portugal, a família Espírito Santo, se avolumaram nesta terça-feira (22) após outra holding do clã pedir proteção contra credores na Justiça.

O anúncio da Rioforte foi publicado menos de uma hora depois do Banco Espírito Santo, fundado pela família, revelar que dois investidores pesos-pesados dos Estados Unidos tinham assumido uma participação combinada de quase 5% no BES.

A Rioforte emprega cerca de 10 mil e possui os ativos não-financeiros da família, que incluem propriedades privadas em Portugal e participações em turismo, energia, saúde e agricultura do Brasil a Moçambique. A holding também tem uma fatia de 49,3% no Espírito Santo Financial Group (ESFG), que detém 20% do BES.

A Rioforte disse em um comunicado que pediu proteção contra seus credores porque não foi capaz de pagar algumas dívidas que tinham vencido a partir de 9 de julho.

DÍVIDAS

A empresa falhou em pagar € 897 milhões (US$ 1,2 bilhão) à Portugal Telecom na semana passada, provocando a renegociação de planejada fusão da empresa portuguesa com a operadora brasileira Oi.

"A Rioforte acredita que uma reestruturação ordenada e transparente da empresa no contexto de um processo de gestão controlada irá permitir a sustentabilidade financeira a longo prazo da companhia", disse o comunicado, acrescentando que a empresa pode optar por uma venda de ativos.

Mario Cruz - 10.jul.2014/Efe
Rioforte, holding da família fundadora do Banco Espírito Santo, pede proteção contra credores
Rioforte, holding da família fundadora do Banco Espírito Santo, pede proteção contra credores

A controladora da Rioforte, a Espírito Santo International, disse nesta terça-feira que tinha sido bem sucedida em um pedido de proteção contra credores que havia sido feito em Luxemburgo em 18 de julho.

A Rioforte devia € 220 milhões ao BES em 30 de junho, disse o banco anteriormente. Essas dívidas, além de mais € 925 milhões em empréstimos tomados do ESFG, tinham assustado alguns investidores do banco.

Os problemas nas holdings da família Espírito Santo também têm preocupado os investidores do BES, e suas ações caíram 60% no mês passado.

GOLDMAN SACHS

Alguma luz foi vista nesta terça-feira, com o anúncio de que o banco de investimento Goldman Sachs adquiriu uma participação de 2,27% no BES, enquanto o fundo de hedge norte-americano D.E. Shaw assumiu uma fatia de 2,7%.

"É positivo que outros investidores institucionais estão mostrando confiança na franquia do BES e aparecendo no registro de ações", disse Ciaran Callaghan, analista sênior da Merrion Capital, em Dublin.

"Isso pode incentivar outros a entrar no barco e apoiar a recapitalização do banco, embora ainda reste saber se esses novos investidores serão comprometidos com a organização do BES e se tomarão participações de longo prazo na instituição."

O ESFG vendeu 4,99% do banco em 14 de julho, a fim de pagar empréstimos.

O BES não pôde ser imediatamente contatado para comentar se o Goldman Sachs e o D.E. Shaw haviam comprado suas participações da família. Representantes do Goldman Sachs e D. E. Shaw em Nova York não estavam imediatamente disponíveis para comentar.

RESULTADOS SEMESTRAIS

Nesta terça, o BES também anunciou que tinha designado o Deutsche Bank para assessorá-lo sobre formas de melhorar sua estrutura de balanço e disse que estava adiando seus resultados semestrais para 30 de julho. Os números eram originalmente esperados para 25 de julho.

O ESFG disse nesta terça-feira que vendeu parte do Banque Privée Espírito Santo, sua operação na Suíça, à CBH Compagnie Bancaire Helvetique. A empresa não forneceu detalhes sobre o tamanho da fatia ou o valor da transação.

Autoridades bancárias no Panamá afirmaram na semana passada que tinham assumido a unidade bancária do ESFG no país "para proteger e defender os interesses dos depositantes e credores da instituição, dada a falta de liquidez e potencial insolvência".

EMPRÉSTIMO

No começo do mês, foi descoberta uma dívida de R$ 2,7 bilhões da PT que ameaçou o acordo com a operadora brasileira.

A dívida surgiu devido a um "empréstimo" da PT a um de seus sócios, uma empresa do grupo Espírito Santo. Como não foi paga, a PT assumiu a dívida e os termos de fusão foram revistos.

Os controladores brasileiros e os demais sócios portugueses disseram que desconheciam essa operação.


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