Folha de S. Paulo


Importadores de carros querem mais diálogo com governo

Em dezembro de 2011, os veículos cujo índice de nacionalização era inferior a 65% tiveram um aumento de 30 pontos percentuais sobre o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). A mudança, que restringia a entrada de carros importados no país, foi o embrião do programa Inovar-Auto, que estimula a produção nacional.

Após um período de rusgas, a Abeifa (associação que representa os importadores de veículos) se aproximou do governo e passou a congregar empresas que também produzirão no Brasil. Marcel Visconde, presidente da entidade, falou à Folha sobre esse período de transição.

Raquel Cunha - 25.jun.2014/Folhapress
Marcel Visconde é presidente da ABEIFA e da Porsche
Marcel Visconde é presidente da ABEIFA e da Porsche

*

Folha – Unir importadoras e fabricantes em uma mesma associação não gera conflito de interesses?
Marcel Visconde – Há, sim, um convívio de interesses. Isso nos ajudou a entender como podemos consorciar os dois temas. Entendemos que a nossa entidade pode, por estatuto, reunir as empresas importadoras que têm potencial para serem produtoras. Nosso polo industrial do futuro também precisa de atualizações, e quem oferece essa porta de entrada é a Abeifa.

É a Anfavea (associação nacional das fabricantes de veículos) quem conduz as negociações do setor com o governo. Não é a hora de a Abeifa participar desse diálogo?
Temos tentado participar, desenvolvemos uma relação muito boa com o governo. Mas levamos um puxão de orelha pelo não acompanhamento de algumas situações nos últimos anos, que resultaram em notícias muito ruins para nós.

A maneira como o Inovar-Auto foi implementado foi uma dessas notícias negativas?
Sim, isso gerou um aprendizado muito grande. Fez com que mudássemos a forma de trabalho, buscando um pouco mais de fluência, um diálogo mais rápido com o governo. A partir do momento em que mostramos à Brasília que somos uma porta de entrada importante para novas empresas, passamos a ter um peso diferente.

Essa melhora nas relações governamentais já resultou em algo?
Depois da "rasteira" que levamos por causa da sobretaxa de 30 pontos percentuais do IPI sem aviso prévio, fomos obrigados a mudar o nosso desenho de trabalho. Mas, a partir do momento que restabelecemos o diálogo, passamos a ter acesso a informações que evitam sustos como os que tomamos entre 2011 e 2012.

Mas o Inovar-Auto é bem visto pela Abeifa?
Sim. O Inovar-Auto é uma pedra bruta, que ainda passa por adequações. Aprendemos muito com esse programa, e o governo aprendeu com a indústria que é preciso ter uma visão mercadológica um pouco mais profunda.

O setor automotivo é muito dependente de incentivos governamentais. Isso é bom?
O problema é enxergar o setor automotivo de uma forma episódica, em vez de se estabelecer um planejamento mais longo. Medidas que estimulam e desestimulam acabam cansando o consumidor, geram desconfiança.

Ainda é viável estabelecer novas fábricas no Brasil?
Se a empresa pretende dar grandes passos no país, não poderá entrar apenas como importador. Para as marcas de nicho, que comercializam pequenos volumes, o governo deu a chance de permanecer por meio das cotas.

Mas a cota atual, que não chega a 5.000 carros por ano sem sobretaxa de IPI, é suficiente para um importador?
O governo já entendeu que a dose para as empresas de nicho foi muito elevada. Não existe competidor local que seja ameaçado por marcas como Porsche ou Jaguar, por exemplo. Mesmo que as cotas sejam dobradas, o volume de vendas dessas empresas continuará sendo insignificante perante o mercado.

O fato de estarmos em um ano eleitoral atrapalha o diálogo com o governo?
As agendas estão muito comprometidas. Alguns assuntos ficam em plano secundário.


Endereço da página: