Folha de S. Paulo


Crise no Grupo Espírito Santo derruba ações da Oi na Bovespa

Os problemas por que passa o Grupo Espírito Santo, um dos principais acionistas da Portugal Telecom –empresa que está em processo de fusão com a Oi–, derrubaram as ações do Banco Espírito Santo nesta quinta-feira (10) e levaram à suspensão das negociações dos papéis na Bolsa de Lisboa.

Os papéis caíram quase 19% nesta quinta, com analistas receosos quanto à saúde financeira do grupo da família Espírito Santo. O principal índice da Bolsa de Lisboa fechou em queda de 4,18%, a 6.105 pontos.

A suspensão irá valer até que o grupo emita à CMVM (Comissão de Mercado de Valores Mobiliários de Portugal) um comunicado ao mercado explicando suas dificuldades.

A queda do BES afetou cotação da Oi na BM&FBovespa nesta quinta-feira. As ações da companhia brasileira despencaram 14,46%, para R$ 1,42.

Foi a maior queda entre as ações listadas no Ibovespa, principal índice do mercado nacional, que subiu 1,79%, para 54.592 pontos.

Editoria de Arte/Folhapress

A PT comprou 897 milhões de euros (cerca de R$ 2,7 bilhões) em notas promissórias da Rio Forte Investiments, que controla o Grupo Espírito Santo, cujo banco homônimo é um dos maiores acionistas da operadora.

A dúvida é sobre como esse "empréstimo" será pago.

A Folha apurou junto a fontes próximas às negociações que a principal proposta para pôr fim ao imbróglio que se tornou o "empréstimo" –e a solução para que a fusão entre as teles não pare ou sofra atrasos– é diminuição em cerca de 8% da parte dos sócios da Portugal Telecom (PT) na "nova Oi".

A Oi disse na semana passada que não foi informada pela PT sobre a compra dos títulos da Rio Forte e afirmou que solicitou esclarecimentos à portuguesa.

Oficialmente, a PT informou que usou o dinheiro para comprar, em abril, notas promissórias da Rioforte, dona do BES, que está em dificuldade financeira.

Parte dessas notas vencem em julho e, ainda segundo apurou a reportagem, a Rioforte quer renegociar.

O "empréstimo" não foi submetido ao conselho de administração da PT, porque se tratava de uma "aplicação" feita pela SPGS, empresa que controla a Portugal Telecom.

Para os sócios brasileiros da PT –a Andrade Gutierrez e a La Fonte– isso não alivia.

O "empréstimo" ocorreu no momento em que ambas as partes definiam o aumento de capital de quase R$ 14 bilhões na "Nova Oi" e que, na prática, selou a fusão.

Uma possível baixa desse "empréstimo" após aumento de capital afetará o valor das ações da "Nova Oi" -e, segundo eles, por uma decisão unilateral dos portugueses. Por isso, deixaram o conselho da PT.

Agora, a saída será reduzir a participação dos sócios da PT na "nova Oi". Ainda segundo apurou a reportagem, a "nova Oi" deverá assumir a dívida com a Rioforte, transformando-a em ações que ficarão na tesouraria (não estarão circulando).

BNDES

Após a insatisfação dos sócios privados, agora é o BNDES, um dos principais acionistas da Oi, que critica a gestão da Portugal Telecom.

O BNDES diz que solicitou informações detalhadas sobre essa "aplicação", ou seja, o empréstimo.

O banco disse ainda que "não considera nenhuma alternativa que não seja a preservação dos interesses dos acionistas da Oi" -inclusive o próprio banco, alinhando-se ao discurso dos acionistas brasileiros. Pondera, porém, que "ao mesmo tempo", "renova sua confiança na atual gestão da companhia."

SURPRESA

Esta é segunda grande surpresa que a Oi encontra em companhias adquiridas. Em 2010, a empresa paralisou o processo de troca de ações da BrT (Brasil Telecom) -adquirida pela Oi em 2008- após descobrir aumento de R$ 1,235 bilhão em pendências judiciais da BrT que não haviam sido reveladas anteriormente.

Isso ajudou a complicar ainda mais o endividamento da Oi, que hoje é de quase R$ 30 bilhões.

Com reportagem de São Paulo e Rio


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