Folha de S. Paulo


Melhora na renda ainda deve animar crescimento do Nordeste

A economia do Nordeste tem crescido acima da brasileira nos últimos dez anos.

Enquanto o crescimento anual médio do PIB a preços constantes na região foi de 4,4% ao ano nesse período, no Brasil o crescimento foi de 3,7%. Como consequência, o PIB da região saiu de 12,8% do total nacional em 2003 para 13,6% em 2013.

Vários são os determinantes desse crescimento mais forte na região. A melhoria da distribuição de renda no país é o mais relevante deles.

NORDESTE
Infraestrutura e tecnologia movem a região

Em momentos de desconcentração de renda, as regiões que possuem proporcionalmente mais pobres tendem a crescer rápido.

Além disso, os programas nacionais de distribuição de renda, como o Bolsa Família, têm maior alcance na região.

Os aumentos do salário mínimo também tiveram maior impacto no Nordeste por possuir percentual maior de indivíduos cuja renda é diretamente afetada por ele.

Também vale salientar o papel do crescimento mais elevado do estoque de capital humano na região, como indicam estimativas recentes.

Essa constatação vem a inserir o elo que faltava para justificar o melhor desempenho relativo do PIB da região na magnitude verificada.

Apesar de haver crescimentos diferenciados também em Estados como Piauí, Ceará e Pernambuco, ou em microrregiões dentro do Nordeste, como Baixo Curu (CE), Alto Parnaíba Piauiense (PI), Suape (PE) e Macau (RN), esse desempenho positivo distribuiu-se espacialmente dentro de toda a região.

O destaque de algumas atividades econômicas específicas geralmente justificam essas ilhas de maior sucesso relativo, como polos industriais e portos em Pecém (Baixo Curu) e Suape, ou polos de produção e processamento de petróleo em Macau e Baixo Continguiba em Sergipe.

Vale destacar polos agropecuários importantes como os de Barreiras (BA) e Petrolina (PE) e microrregiões com cidades que se tornaram polos diversificados importantes como Feira de Santana (BA) e a aglomeração urbana de São Luís, no Maranhão.

De um modo geral, contudo, a maior parte das microrregiões do Nordeste passou por diversificação de atividades, com grande crescimento de serviços e comércio.

As perspectivas são as de que o crescimento diferenciado do Nordeste deva continuar nos próximos anos. Vários são os fatores para tal.

Em primeiro lugar, o impacto decorrente da melhora na distribuição de renda ainda não exauriu seu potencial.

Uma maior concentração relativa de investimentos na região deverá realocar espacialmente a produção nacional para mais eficientemente refletir a nova estrutura espacial da demanda nacional.

As perspectivas ainda são de elevação da proporção de disponibilidade de capital humano, já que as disparidades de indicadores como anos médios de estudo, alarmantes nas gerações mais velhas, tendem a ser reduzidas à medida em que elas deixam o mercado de trabalho.

Além disso, os diferenciais de qualidade da educação também vêm sendo reduzidos nos últimos anos. Entretanto, tal queda nos diferenciais de educação vai encontrar um limite. Os gastos por aluno no Nordeste ainda são muito inferiores aos que se encontram no Sudeste.

As políticas sociais atualmente ainda tendem a reproduzir as desigualdades regionais, apesar de em nível inferior às que existem hoje.

Isso significa que as desigualdades regionais vão cair no Brasil, mas deverão voltar a se estabilizar provavelmente em um patamar em que o PIB per capita no Nordeste deverá estar próximo a 60% da média nacional, superior aos cerca de 50% atuais.

ALEXANDRE RANDS BARROS é economista, doutor pela Universidade de Illinois (EUA) e presidente da consultoria Datamétrica


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