Folha de S. Paulo


Funcionários mais velhos de start-ups podem estranhar cultura, mas são valiosos

Edson Barbosa, 56, diz que se sente bem no emprego atual. A única coisa que estranha é ver reuniões em que a equipe está toda sentada no chão, ainda mais se o traje do dia é bermuda e camiseta.

Ex-diretor da área de câmbio de um banco, ele atualmente é o funcionário mais velho da Sonoma, start-up (empresa iniciante de tecnologia) que vende vinhos pela web. Barbosa é responsável pela área de logística.

Raquel Cunha/Folhapress
O empresário Alykhan Karim (esq), 29, sócio da Sonoma, e seu funcionário, Edson Barbosa, 56
O empresário Alykhan Karim (esq), 29, sócio da Sonoma, e seu funcionário, Edson Barbosa, 56

Apesar de, em grande parte das vezes, serem criadas por pessoas com menos de 30 anos, muitas empresas de tecnologia podem se beneficiar com a entrada de pessoas com mais experiência para ajudar a estruturar o negócio.

Esses profissionais, por serem mais experientes, costumam ter um bom conhecimento sobre o cotidiano dos negócios e uma rede de contatos maior, diz Pedro Waengertner, da aceleradora de negócios Aceleratech.

Porém há desafios para convencer alguém com mais quilometragem a deixar as grandes companhias e ir para uma novata. As menores não conseguem pagar salários tão altos, não têm processos e rotinas bem estruturados e dão menos segurança quanto ao futuro.

Como alternativa, oferecem participação na sociedade e a possibilidade de um retorno maior no longo prazo, caso os planos deem certo.

As companhias iniciantes também podem ser fonte de motivação para profissionais que gostam de construir novos negócios sem arriscar diretamente seu patrimônio, diz Cynthia Serva, professora do Insper (instituto de ensino e pesquisa). Segundo sua avaliação, empreendedores com perfil de líderes não teriam dificuldade de ter na equipe um executivo muito mais experiente que eles. Porém ela recomenda que se defina antecipadamente quais decisões cabe a cada um tomar.

Para descobrir profissionais interessados em trabalhar com eles, Serva sugere que os empreendedores comecem buscando mentores, ou seja, conselheiros informais com mais experiência. Quando virem o amadurecimento da companhia, eles podem indicar pessoas ou mesmo entrar para o negócio.

Rafael Nascente, 24, sócio do Repplica, conta que a entrada de Sérgio Paiva, 41, para comandar as vendas da empresa, há dois meses, acelerou os negócios.

A companhia de Goiânia oferece uma ferramenta para que concessionárias publiquem anúncios de carros à venda em diferentes portais de internet e os gerenciem a partir de um único site.

Como Paiva atuou por 20 anos em bancos, na área de financiamento automotivo, tem muitos contatos no setor e sabe se comunicar bem com os clientes. Com isso, vendas que precisariam de três reuniões passaram a ser fechadas em uma, diz Nascente.

BARBA BRANCA

Maíra Antunis Rabelo, 25, da empresa mineira M2Agro, conta que só de ouvir uma risada do meteorologista e analista de sistemas Eugênio Neiva, 72, já sabe que está indo para o caminho errado.

Ele foi o responsável por trazer a ideia do principal projeto da empresa, um equipamento que usará sensores para automatizar a irrigação do solo a partir de previsões meteorológicas e da necessidade do solo.

"Ele sempre conhece mais que a gente do mercado, das novas tecnologias, do que já tentaram desenvolver e por que não deu certo. Sempre que estou com uma dúvida ligo para ele e digo que preciso de sua barba branca."


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