Folha de S. Paulo


Professor fatura US$ 4 mi na web e vira celebridade na Coreia do Sul

Kim Ki-hoon subiu a um estrelato que existe em poucos outros lugares fora da Coreia do Sul. Como professor de inglês mais bem pago do país, se tornou uma celebridade.

No ano passado, faturou cerca de US$ 4 milhões com suas aulas de idiomas on-line e US$ 10 milhões com sua editora de livros didáticos.

O astro do ensino diz que cerca de 1,5 milhão de sul-coreanos assistiram às suas aulas nos últimos 12 anos, e atribui seu sucesso a um estilo de ensino envolvente e a um marketing esperto: ele seleciona com cuidado suas aparições televisivas e compôs uma
canção pop dirigida a vestibulandos nervosos, com o refrão "confie em mim!"

A receita de Kim é uma fração dos US$ 20 bilhões ao ano que são gastos com aulas particulares na Coreia do Sul. Mas ele expressa inquietação com a escala do sistema. "Não deveria haver necessidade de educação privada."

O feroz debate em curso na Coreia do Sul sobre o sistema nacional de educação –especialmente o imenso setor dos cursinhos e professores particulares (hagwons)– talvez surpreenda os admiradores do sistema do país.

Figuras como o presidente Barack Obama elogiam a educação sul-coreana como modelo, apontando para o desempenho das crianças nos testes de matemática, literatura e ciência da OCDE, espécie de grupo de países ricos.

Mas na Coreia do Sul há crescente inquietação quanto aos efeitos colaterais do uso maciço de serviços educacionais privados. Para começar, muitas crianças estudam desde a manhã até bem tarde depois do final das aulas regulares, sem tempo suficiente para brincar e relaxar.

Ann Young-joon - 6.fev.13/AP
Estudantes sul-coreanos em cerimônia de graduação; ao lado, o professor de inglês Kim Ki-hoon; astro no país
Estudantes sul-coreanos em cerimônia de graduação; ao lado, o professor Kim Ki-hoon; astro no país

No ano passado, um estudo sobre crianças numa área nobre de Seul constatou que mais de 1 em 7 das crianças pesquisadas sofriam de curvatura da espinha, mais que o dobro do índice registrado 10 anos antes. Pelo menos três quartos dos alunos de segundo grau em Seul são míopes, e os médicos têm identificado mais e mais jovens com a "síndrome do pescoço de tartaruga", que leva a criança a inclinar sua cabeça para a frente ansiosamente.

E há o impacto econômico: os custos da educação privada respondem por 12% dos gastos domiciliares, e a eles é atribuída a culpa pela queda do índice de natalidade, um dos mais baixos do mundo.

Sucessivos governos vêm tentando restringir as atividades dos milhares de hagwons –agora proibidos de operar depois das 22h.

O custo por hora das aulas foi limitado e os hagwons foram proibidos de ensinar matérias à frente do estágio em que uma escola as ensinaria.

Para Min Seong-won, o mais famoso educador sul-coreano, "o sistema de educação no país está se tornando um sistema socialista".

Min é dono de um hagwon e oferece consultoria de planejamento educacional em programas de TV e por uma série de livros populares.

Para ele, o desempenho do país nos testes da OCDE prova que o sistema educacional é forte. Em 2012, eles ficaram em quinto lugar em matemática e alfabetização. Mas em 62º na solução de tarefas complexas, e em último no quesito "felicidade na escola".

Lee Ju-ho, ministro sul-coreano da Educação de 2010 a 2013, diz que isso indica o impacto do estudo excessivo sobre a saúde mental, a criatividade e a capacidade de trabalho em equipe. Se o objetivo é que a Coreia do Sul floresça, ele diz que o país precisa tratar do problema dos "altos gastos com a educação, que não conduzem a um avanço no capital humano".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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