Folha de S. Paulo


Em forma de ovo de Páscoa, quilo do chocolate pode custar triplo de tablete

O mesmo chocolate comprado o ano todo por R$ 15 a R$ 50 o quilo em média pode dobrar ou até triplicar de preço quando vendido em forma de ovo de Páscoa.

Em geral, nenhum deles –ovo, bombom ou tablete– é vendido por quilo ou em embalagens com esse peso, o que dificulta tal comparação.

Mas, ao fazer o cálculo, é possível constatar que chega a 240% a diferença entre os preços cobrados por quilo de ovos de Páscoa e dos chocolates que lhes dão origem.

Essa é a diferença constatada no Diamante Negro, que na forma de tablete tradicional de 170 gramas sai por R$ 31,41 o quilo. No formato especial para a Páscoa, salta para R$ 106,93 o quilo.

Entre os cinco itens de maior diferença constatada, o caso do Bis é mais particular: na tradicional caixa com 20 unidades –196 gramas–, custa R$ 3,69 (ou R$ 29,29 por quilo), contendo mais biscoito que chocolate. Embrulhado como ovo, custa R$ 79 o quilo, trazendo mais volume do doce feito com cacau.

De maneira geral, é certo considerar que ovos e tabletes de chocolate não são produtos iguais. Há diferenças no processo logístico e de fabricação (leia texto abaixo).

O levantamento feito pela Folha levou em conta apenas ovos de Páscoa dos maiores fabricantes –Nestlé, Lacta e Garoto–, excluiu os produtos com personagens de desenhos animados ou histórias em quadrinhos, que costumam ter o preço elevado devido ao pagamento de licenciamento de uso da imagem, e não incluiu os que trazem brinquedos no recheio.

Além disso, foram considerados os preços de apenas um supermercado, para que a comparação entre o valor do ovo e de seu equivalente em tablete não trouxesse a diferença das cifras cobradas por redes varejistas distintas.

Editoria de Arte/Folhapress
A FORMA E O PREÇO
A FORMA E O PREÇO

PAGA SEM PERCEBER

Nesse levantamento, foi possível constatar que o quilo do ovo de Páscoa comum, vendido no supermercado, custa R$ 75 e até mais, ultrapassando R$ 100.

O fato é que poucos percebem que estão pagando muito mais, proporcionalmente, pelo ovo de Páscoa do que pelo bacalhau, por exemplo, item de consumo tradicional da Semana Santa –cujo quilo custa até R$ 50.

Isso porque os ovos mais comuns são vendidos em embalagens contendo em geral menos de 500 gramas, o que reduz seu preço efetivo.

Assim, mesmo optando pelos mais baratos, o consumidor pode pagar mais em termos relativos pelo ovo de Páscoa do que pelo filé mignon –que, no dia e no local da pesquisa, saía a R$ 68 o quilo.

FABRICAÇÃO E TRANSPORTEM MUDAM

Um ovo de Páscoa não é o mesmo produto que seu tablete ou bombom correspondente. A forma, a embalagem, o transporte, a exposição do primeiro são em geral mais caros do que os custos dos itens mais tradicionais. Até a quantidade de chocolate entre eles pode variar.

Como explica a Lacta em nota, "a produção de um ovo de chocolate é mais artesanal e cada um deles é embalado manualmente. Os ovos são produzidos em uma área exclusiva da fábrica, com equipamentos e espaços de armazenamento dedicados apenas à Páscoa".

Esse processo todo exige pessoal extra. A Lacta, por exemplo, informa que contratou cerca de mil funcionários temporários que trabalharam desde setembro para produzir os 28 milhões de unidades colocados pela empresa no mercado. Nestlé e Garoto não se pronunciaram sobre o levantamento.

A embalagem também é bastante diferente nos dois casos. Começa pela parte interna do ovo, que é envolvido em papel-alumínio, um processo manual, de acordo com a nota da Lacta.

A seguir, ele é colocado sobre um apoio de plástico, que permite que o produto fique em pé. Depois vêm o papel colorido e a fita do embrulho, concebido para presente.

O transporte dessas duas formas de chocolate também se dá de maneira distinta. Os itens especiais de Páscoa são, devido a seu formato, mais delicados. É necessário cuidar para que cheguem inteiros ao destino. Há uma logística diferente, segundo a Lacta, em que são entregues loja a loja pelas transportadoras contratadas.

Por fim, a montagem dos corredores de ovos de Páscoa em varejistas, formato tradicional de exposição desses produtos, como "parreira", fica a cargo da indústria –com custo extra de contratação de temporários.


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