Folha de S. Paulo


Com mercado restrito, Intel investe em chips para tablets chineses

A fabricante norte-americana de chips Intel espera que os produtores chineses de tablets ajudem a salvá-la da destruição causada pela lenta extinção dos computadores.

Os chips da Intel dominam o mercado de computadores, mas são praticamente invisíveis no mercado de smartphones e tablets.

Brian Krzanich, que assumiu como presidente-executivo da companhia há cerca de um ano, está determinado a mudar essa situação, com a ajuda da multidão de marcas chinesas de baixo custo.

"Nós somos conhecidos como os caras que acionam os computadores, e também como uma empresa que fornece para centrais de processamento de dados, mas o que realmente queremos mostrar é que vamos atender a todo o espectro de produtos de computação", disse Krzanich a centenas de executivos chineses em uma palestra realizada diante de uma bancada repleta de tablets, no começo do mês.

TABLETS E SMARTPHONES

Presença maior nos tablets e smartphones é essencial para a Intel, porque o mercado de computadores continua a encolher.

Os analistas antecipam que a companhia reporte receita de US$ 12,8 bilhões este ano, 1,9% acima da auferida no ano passado.

A estimativa de produção de tablets para 2014 é de 300 milhões de unidades, e Krzanich quer que chips da Intel equipem 40 milhões deles, o que representaria "quadruplicar" a fatia de sua empresa.

Dos 300 milhões, a Intel calcula que 100 milhões serão fabricados por empresas sediadas na cidade de Shenzhen, China, e seus arredores, o que significa que Krzanich tem de conquistar os industriais que ele foi visitar na cidade.

Para fazê-lo, ele exibiu novos chips da Intel, que servem aos tablets produzidos localmente e vendidos por cerca de US$ 100. A Intel diz que seus processadores podem custar mais que os rivais, mas que a qualidade que oferecem ajudará os fabricantes de tablets a conquistar clientes.

"O ritmo de crescimento [dos tablets] é alto. Não surpreende que todos desejem estar aqui", disse Hermann Eul, gerente geral de equipamentos móveis e comunicações da Intel.

"Esse espaço sempre foi muito competitivo".

CONCORRÊNCIA

Mas analistas dizem que a façanha será muito difícil. A Intel precisa derrotar as companhias locais de chips, que oferecem preços muito mais baixos, relacionamento melhor com os fabricantes da região e um histórico de especialização em tablets e smartphones –um tipo de chip que a Intel historicamente não produzia.

Hoje, praticamente qualquer um pode encomendar modelos personalizados de tablet - a rede de restaurantes norte-americanos Applebee's, por exemplo, tem tablets para servir como cardápios, e a cadeia britânica de supermercados Tesco também tem tablets próprios.

Muitos desses equipamentos são produzidos por fábricas sem nome que aceitam pedidos a partir de apenas cinco mil unidades e conseguem produzir um lote dessa ordem em cerca de uma semana.

Até o momento, chips projetados pela Intel equipam cerca de 30 tablets diferentes, sob nomes como Teclast, Aigo e Ramos, na China, Positivo, no Brazil, e Casper, na Turquia - todos produzidos em fábricas de Shenzhen.

Muitos analistas dizem que será difícil para ela conquistar novos avanços, porém.

O mercado de chips que Krzanich deseja conquistar está sendo liderado por empresas como a Rockship, da China, e a MediaTek, de Taiwan.

Esta última já é conhecida por revolucionar o setor de smartphones ao fornecer aos fabricantes chineses chips e projetos quase completos de engenharia, o que permite que eles produzam rapidamente smartphones de baixo preço, que estão rapidamente saturando a China e outros mercados emergentes.

PREÇOS

Para acelerar sua batalha contra eles, a Intel criou um centro de inovação de produtos inteligentes em Shenzhen e criou um fundo de inovação de US$ 100 milhões, como parte da Intel Capital, a divisão de capital para empreendimentos da companhia.

A Intel não revela dados de desempenho, alegando que precisa respeitar um período de silêncio antes da divulgação de seus resultados no primeiro trimestre, marcada para a terça-feira.

Um analista, que pediu que seu nome não fosse mencionado, disse que os números "não estão onde deveriam".

O preço é parte do desafio. Os processadores da Intel para tablets são vendidos por entre US$ 35 e US$ 50 mundialmente, estima Romit Shah, analista da Nomura. Na China, a Rockship e outras companhias vendem seus produtos por entre US$ 5 e US$ 10.

"Muito poucas companhias de chips conseguem ganhar dinheiro em um mercado como esse", disse Shah.

A Intel está conquistando um pouco de mercado ao subsidiar certos fabricantes, diz Mark Li, analista da Bernstein em Hong Kong.

Ela vem conquistando sucesso notável junto a companhias que historicamente eram fabricantes de computadores, como a Lenovo e a Acer, e estão realizando sua transição para o mercado de tablets.

OUTROS INVESTIMENTOS

Se a Intel não se sair tão bem quanto espera no mercado de tablets, que vem crescendo rapidamente, diz Shah, isso não será decisivo para a companhia.

Além dos tablets, ela também está tentando ganhar mercado nos smartphones, produtos para redes e até aparelhos vestíveis, na esperança de compensar o declínio de seus produtos de computação.

"Se eles não conseguirem sucesso nos tablets, seu modelo de negócios não desabará, mas perderão uma maneira de compensar o declínio nos computadores", ele diz.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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