Folha de S. Paulo


OMC eleva projeção para comércio mundial, mas alerta para risco geopolítico

A OMC (Organização Mundial do Comércio) elevou sua projeção para o crescimento do comércio mundial este ano a 4,7%, alertando que riscos como a desaceleração nas economias em desenvolvimento e as tensões geopolíticas cada vez mais intensas, o que inclui a situação da Ucrânia, ameaçam solapar a recuperação.

Diversos economistas que estudam o comércio internacional antecipavam que a OMC viesse a reduzir sua projeção de crescimento de 4,5% para este ano.

Em entrevista ao "Financial Times", na semana passada, Roberto Azevêdo, o diretor-geral da OMC, disse que ele ainda não havia detectado sinais de uma recuperação significativa do comércio mundial no primeiro trimestre de 2014.

Ao divulgar suas mais recentes projeções, na segunda-feira, a OMC declarou que a recuperação mundial e a alta na atividade econômica nos Estados Unidos e especialmente na Europa provavelmente resultariam em crescimento superior ao esperado.

Mas a organização também acautelou que a recuperação de 4,7% que havia antecipado estava bem abaixo das tendências históricas e, especialmente, dos 6% de crescimento anual que prevaleceram pela maior parte dos anos 90 e 2000.

"As perspectivas para o comércio e a produção mundial em 2014 e 2015 estão melhores do que vinha sendo o caso recentemente, mas economias as mais importantes continuam frágeis, o que inclui alguns dos países em desenvolvimento mais dinâmicos, que até recentemente estavam sustentando a demanda mundial", escreveram os economistas da OMC.

"Existem muitos riscos adversos para o comércio internacional."

Embora os Estados Unidos e a Europa pareçam estar se recuperando, "as economias em desenvolvimento agora são foco de diversos possíveis riscos", escreveram.

A lista de perigos incluía grandes deficit em conta corrente em países como Índia e Turquia, crises cambiais em lugares como a Argentina, e a tentativa chinesa de reequilibrar a economia do país, privilegiando o consumo interno e reduzindo a dependência quanto às exportações.

A organização sediada em Genebra também alertou que "riscos geopolíticos introduziram um elemento adicional de incerteza na projeção. Conflitos civis e disputas territoriais no Oriente Médio, Ásia e leste da Europa podem provocar um aumento nos preços da energia e prejudicar os fluxos de comércio, caso se agravem".

Denis Balibouse/Reuters
Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC, durante reunião em Genebra
Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC, durante reunião em Genebra

RODADA DOHA

Azevêdo usou as novas projeções a fim de apelar aos 159 países membros da OMC que acelerem seus esforços para destravar a rodada Doha de negociações de comércio internacional, que está em um impasse.

Em Bali, em dezembro do ano passado, a OMC chegou ao primeiro acordo de sua história - um acordo relativamente modesto para reduzir a burocracia nas fronteiras de todo o mundo. O brasileiro está tentando usá-lo como forma de reanimar as negociações da rodada Doha, iniciadas 12 anos atrás.

Na reunião ministerial em Bali, membros da OMC se deram prazo até o final deste ano para desenvolver um plano que permita levar adiante a agenda da rodada Doha. No entanto, Azevêdo está entre as vozes que expressaram preocupação, nas últimas semanas, de que o processo possa não estar avançando com rapidez suficiente.

"Está claro que o comércio internacional vai melhorar à medida que a economia mundial melhore. Mas sei que apenas esperar por um avanço automático no comércio não bastará para os membros da OMC", disse ele na segunda-feira.

"Concluir a rodada Doha ofereceria uma forte fundação para o comércio internacional no futuro, e um poderoso estímulo no ambiente de lento crescimento que temos hoje. Estamos atualmente desenvolvendo novas ideias e novas abordagens que nos ajudarão a realizar o trabalho - e fazê-lo rapidamente", ele acrescentou.

A OMC também anunciou que o comércio mundial cresceu menos do que os 2,5% calculados em setembro passado para 2013, ficando em 2,1%.

O motivo para a revisão, segundo a organização, foi "um declínio maior que o esperado nos fluxos comerciais das economias em desenvolvimento, no segundo semestre do ano passado". No entanto, a OMC acrescentou que as recentes pesquisas sobre negócios e dados sobre produção industrial apontam para um começo mais firme em 2014, nos Estados Unidos e na Europa.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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