Folha de S. Paulo


BC vê mais inflação e diz que política monetária deve se manter 'vigilante'

Ao mesmo tempo em que elevou suas projeções para a inflação neste e no próximo ano, o Banco Central defendeu que a política monetária deve permanecer vigilante.

O BC retirou a palavra "especialmente" que vinha sendo usada até então, e entende que uma fatia importante dos efeitos do atual ciclo de aperto monetário na inflação "ainda está por se materializar".

Segundo a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada nesta quinta-feira (10), o BC argumentou que as decisões futuras serão definidas "com vistas a assegurar a convergência tempestiva da inflação para a trajetória de metas".

O BC ressaltou que a inflação ainda mostra resistência e "ligeiramente" acima do esperado e que, neste quadro, insere-se a expectativa de inflação dos agentes econômicos.

"Tendo em vista os danos que a persistência desse processo causaria à tomada de decisões sobre consumo e investimentos, na visão do Comitê, faz-se necessário que, com a devida tempestividade, o mesmo seja revertido. Dessa forma, o Copom entende ser apropriado ajustar as condições monetárias", segundo a ata.

No documento anterior, o BC defendia que era "apropriada a continuidade do ritmo de ajuste das condições monetárias ora em curso".

Veja, com "tradução", os cinco trechos essenciais da mensagem.

Na semana passada, ao completar um ano do início do aperto monetário para combater a inflação, o BC elevou pela nona vez seguida a taxa básica de juros, a 11% ao ano, e havia indicado que o ciclo poderia estar perto do fim ao mudar seu comunicado.

A autoridade monetária informou naquele momento, e repetiu na ata agora, que vai "monitorar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária".

"É plausível afirmar que, na presença de níveis de confiança relativamente modestos, os efeitos das ações de política monetária tendem a ser potencializados", acrescentou o BC na ata divulgada nesta manhã.

A alta na Selic confirmou a expectativa de analistas, que se baseavam no cenário de inflação elevada.

Editoria de Arte/Folhapress

INFLAÇÃO MAIOR

O Copom também piorou sua perspectiva para a inflação neste e no próximo ano, ainda permanecendo acima da meta, pelo cenário de referência.

O IPCA, índice oficial de inflação, acumulava alta de 5,68% quando o BC elevou a Selic. A meta oficial é de 4,5%, com teto de 6,5%. De acordo com pesquisa mais recente do Banco Central com economistas, a projeção é que o IPCA encerre o ano em 6,3%.

Ontem (9), o IBGE divulgou a inflação de março, que subiu 0,92% e levou o índice acumulado em 12 meses para 6,15%, pressionada por alimentos, casa, saúde, educação e diversão, cujas altas já superaram o teto da meta.

Sobre os preços administrados, a projeção é de alta de 5% tanto em 2014 quanto em 2015, como já havia calculado em seu último Relatório Trimestral de Inflação, no final do mês passado.

Ainda de acordo com a ata, a perspectiva é de reajuste de 9,5% na tarifa de eletricidade, mas o Copom retirou desta vez as indicações sobre os preços da gasolina neste ano.

"Os choques identificados, e seus impactos, foram reavaliados de acordo com o novo conjunto de informações disponível", trouxe o documento.

O BC citou os preços de alimentos, mas de forma temporária, e o câmbio como fontes de pressão inflacionária. Segundo a ata, a "depreciação cambial, em que pese acomodação recentemente observada, constitui fonte de pressão inflacionária em prazos mais curtos".

A inflação foi classificada internamente pelo governo de "muito ruim" e "preocupante" porque a "margem de manobra" da política econômica está reduzida.

O índice de 0,92% reforça, na avaliação de assessores, a recomendação do ex-presidente Lula de recuperar a credibilidade da ação do governo na economia, mostra reportagem da Folha desta quinta-feira.

Lula e o Palácio do Planalto temem o impacto da inflação elevada na popularidade da presidente Dilma no ano em que ela vai tentar a reeleição. O governo já trabalha com o cenário de que o teto da meta de inflação, de 6,5%, será superado no segundo semestre, às vésperas da eleição presidencial.

Um cenário mais negativo na inflação pode levar o governo a postergar para depois das eleições um aumento dos combustíveis, previsto inicialmente para junho.

Com reportagem de Brasília


Endereço da página:

Links no texto: