Folha de S. Paulo


Executivos da indústria automotiva fazem previsões dos próximos 20 anos

Uma comparação entre o mercado brasileiro de automóveis de 1994 com o de 2014 mostra um grande avanço. Não apenas no montante de carros vendidos, mas também em tecnologia, segurança e nível de emissões. O que devemos, então, esperar dos próximos 20 anos?

Não haverá uma grande revolução, segundo Sérgio Habib, presidente da JAC Motors e de um dos maiores grupos de concessionárias do Brasil.

Isso porque, em duas décadas, uma montadora consegue idealizar e lançar, no máximo, duas ou três gerações de um mesmo carro, o que limita mudanças profundas.

"Como a idade média da frota brasileira é de 11 anos, podemos imaginar que, em 2034, o carro que estamos planejando fabricar hoje ainda estará circulando pelas ruas", afirma Habib.

EFICIÊNCIA EM PAUTA

Se, ao menos conceitualmente, os carros que vemos hoje não deverão sofrer grandes transformações nos próximos 20 anos, uma questão deverá variar bastante: a da eficiência energética.

Nesse aspecto, Cledorvino Belini, presidente da Fiat, acredita que o Inovar-Auto (programa de estimulo à produção nacional) terá papel fundamental.

"O programa vai muito além do incentivo à produção local. Ele estimula ainda o desenvolvimento tecnológico dos novos veículos, com ganhos em inovação, segurança e proteção ao ambiente."

A questão da eficiência energética é o ponto alto do atual regime automotivo brasileiro, que vai até 2017.

Nigel Treblin/Efe
Linha de produção do VW Golf em Wolfsburg (foto) é semelhante a que será montada em São José dos Pinhais (PR)
Linha de produção do VW Golf em Wolfsburg (foto) é semelhante a que será montada em São José dos Pinhais (PR)

CONECTADOS

Se por fora os carros não deverão mudar muito, por dentro a história é bem diferente. A conectividade dará o tom, sendo que sistemas de entretenimento e informação deverão estar cada vez mais ligados a smartphones e também a internet.

"A tendência é aproximar a relação entre o carro e seu condutor", afirma Dirlei Dias, gerente de vendas e marketing da Mercedes.

Para Habib, os carros deverão acompanhar o que existe de mais atual em tecnologia. "Os sistemas a bordo irão evoluir de acordo com o desenvolvimento da informática, permitindo grandes avanços, principalmente, em conectividade", diz.

A tecnologia da informação também deverá promover a segurança nos carros. Dias aponta que haverá cada vez mais sistemas de auxílio à condução, "para auxiliar o condutor e minimizar erros".

Já Belini vai além: "O avanço da tecnologia da informação vai conectar o veículo ao condutor, os veículos entre si e os veículos à infraestrutura de circulação, com amplo acesso a informações sobre condições de tráfego e circulação. O ato de dirigir será auxiliado pela tecnologia e planejado para ser mais eficiente e rápido", afirma. Será a vez do carro autônomo, que dispensa o motorista.

No Japão, a tecnologia será aplicada pela primeira vez na cidade de Tóquio, durante a Olimpíada de 2020.

As fabricantes habilitadas assumem o compromisso de atingir novos patamares de eficiência e redução de consumo de combustíveis. A meta é melhorar em até 18% a eficiência energética.

Essa busca também passa pela diversificação da matriz energética. "A melhor alternativa é aquela disponível ao menor custo econômico, social e ambiental. E isso varia de região para região. O motor a combustão ainda será utilizado por muitos anos, mas poderá ser abastecido por diferentes combustíveis e conviverá com elétricos e híbridos", acredita Belini.

Opinião compartilhada por William Lee, presidente da Hyundai do Brasil. "Mas as inovações ainda dependem de questões relacionadas ao mercado, como escala de produção", complementa.

Outro ponto do qual novos meios de propulsão dependem é de incentivos tributários -o governo estuda criar um pacote para os elétricos, considerados "verdes", mas que hoje pagam 25% de IPI (Imposto sobre Produtos industrializados), ante 3% dos populares flex.


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