Folha de S. Paulo


Após balanço, ações da Petrobras caem para menor valor desde 2005

O balanço da Petrobras, divulgado na noite de ontem, não agradou analistas e investidores, e as ações da petroleira colaboraram para a perda da Bolsa brasileira nesta quarta-feira (26).

O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou em queda de 0,25%, aos 46.599 pontos. O volume financeiro movimentado foi de R$ 5,836 bilhões.

Os papéis mais negociados da Petrobras perderam 3,53% e lideraram as quedas entre os 72 papéis que compõem o índice, cotados a R$ 13,68 –menor valor desde 29 de julho de 2005, quando ficaram em R$ 13,62. Já as ações ordinárias da estatal, com direito a voto, cederam 2,86% no dia. Juntos, esses papéis representam 12,08% do Ibovespa.

A estatal obteve lucro 11% maior em 2013, de R$ 23,6 bilhões. No entanto, o reajuste de preços dos combustíveis ao final de 2013 não foi suficiente para evitar prejuízo de R$ 17,8 bilhões na divisão de Abastecimento, uma vez que a empresa continua a cobrar pelo produto menos do que paga na compra no exterior.

Para Marcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest Corretora, o lucro da empresa do ano passado subiu mais que o previsto no mercado, mas o aumento do endividamento da estatal preocupa. "O balanço demonstrou que, se tivesse havido um reajuste maior dos preços dos combustíveis, o resultado da companhia teria sido melhor", afirma.

O analista Filipe Machado, da Geral Investimentos, enfatiza que mais de 70% da dívida da Petrobras é em dólar, o que pressiona ainda mais seus balanços. "A moeda americana subiu mais de 15% em 2013 e a tendência, de acordo com o mercado, continua sendo de alta, o que deve continuar prejudicando a estatal", diz.

Para Luana Helsinger, analista do GBM (Grupo Bursátil Mexicano), o cenário para as ações da companhia só deve mudar quando ela conseguir diminuir a relação entre dívida e patrimônio líquido e reduzir ainda mais o plano de investimento. "Isso só deve ocorrer no longo prazo [pelo menos cinco anos]", avalia.
Mesmo assim, Machado, da Geral, acredita que as ações da companhia podem ter uma recuperação momentânea.

"Os papéis caíram bastante e a própria Bolsa caiu muito desde o ano passado. Isso vai deixar o mercado muito barato em dólar, atraindo estrangeiros em algum momento. Quem mais vai se beneficiar com isso são as empresas maiores, como Petrobras e Vale, que podem ver suas ações subirem momentaneamente, com base somente em preço, não em fundamentos", completa.

Segundo Pedro Medeiros, da Citi Corretora, a paridade de preços dos combustíveis e o crescimento da produção em 2014 e 2015 não serão suficientes para conter a deterioração do balanço da empresa, considerando o câmbio atual, caso os investimentos não sejam reduzidos.

Hoje, a presidente da Petrobras, Graça Foster, informou que a empresa recebeu a determinação de baixar o endividamento para os limites impostos pelo conselho de administração em um prazo de 24 meses.

Nesta noite é a vez de a mineradora Vale divulgar seus resultados. Os papéis mais negociados da empresa, que também representam mais de 8% do Ibovespa, fecharam o dia em leve alta de 0,07%.

As ações da Embraer tiveram uma das maiores alta do Ibovespa, de 4,16%. A empresa anunciou lucro líquido acima das expectativas do mercado em 2013, ultrapassando algumas de suas próprias previsões para o ano passado, com recuo em despesas e melhora no resultado operacional.

CÂMBIO

Após quatro quedas consecutivas, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, passou por ajuste e fechou em alta de 0,81% sobre o real nesta quarta-feira (26), a R$ 2,353 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 0,46%, a R$ 2,352, interrompendo uma sequência de cinco baixas, que levou a moeda ontem ao seu menor nível em mais de um mês.

A moeda americana é negociada abaixo de R$ 2,40 desde 13 de fevereiro, mas especialistas consultados pela Folha não acreditam que tenha sido criado um novo patamar para a moeda, que segue pressionada por fatores internos e externos.

"É mais como se fosse uma correção de preço por causa de uma realização de posições dos investidores", diz Alexandre Espírito Santo, economista da Simplific Pavarini e professor de economia do Ibmec-RJ, referindo-se à forte alta acumulada pelo dólar desde 2013.

No ano passado, o dólar à vista subiu 15,51%, enquanto neste ano, até 13 de fevereiro, a alta da moeda americana era de 1,80%.

"A nova meta do governo para superavit primário atendeu às expectativas das agências de classificação de risco. Há a preocupação de o Brasil sofrer um rebaixamento, que foi postergada. É como se o Brasil ganhasse o benefício da dúvida", acrescenta Espírito Santo.

Para o economista, também colaborou para o alívio momentâneo no câmbio o fato de os Estados Unidos terem reforçado que farão a retirada dos estímulos naquele país de uma forma moderada, o que ameniza o corte no volume de recursos disponíveis para investimento nos emergentes.

"Mas os fundamentos da economia em relação ao dólar são importantíssimos. As contas externas estão muito ruins. Para que o governo conserte as contas, uma das variáveis de ajuste no modelo macroeconômico é o câmbio", diz. "Não dá para trabalhar com um dólar a R$ 2,30. Não deve haver uma queda além do nível que está. A tendência é de alta, mais para R$ 2,45, R$ 2,50", completa.

Especialistas consultados pela Folha alertam que, além do risco de o Brasil não cumprir a meta de superavit e ter sua nota soberana cortada, também pressiona o dólar no médio prazo o fato de os EUA elevarem o juro básico, o que deve ocorrer somente em 2015.

"Os títulos do Tesouro americano, que são remunerados pela taxa de juro daquele país, são considerados investimentos seguros. Com um aumento da taxa, investidores que migraram para os emergentes quando o juro foi zerado, voltarão para os EUA. A saída de recursos nos emergentes forçará a cotação do dólar para cima", avalia Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.


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