Folha de S. Paulo


Alta do dólar pressiona subsídios a combustíveis em países emergentes

A crise cambial dos mercados emergentes causou disparada nos preços do petróleo, em termos de moeda local, nos países em desenvolvimento de todo o planeta, elevando o custo das importações de energia e ameaçando desacelerar o crescimento.

Ainda que o preço do petróleo cru tipo Brent esteja bem abaixo de seu pico de 2008 em termos de dólares, ele é recorde em rands sul-africanos e liras turcas.

Nas moedas de Índia, Indonésia e Brasil –os demais integrantes do grupo dos "cinco frágeis", as economias expostas a grandes custos de importação– o Brent chegou a cotações recordes no final do ano passado.

O resultado é um dilema para os governos dos mercados emergentes. Ou eles permitem que os custos do combustível subam, o que alimenta a inflação e desencoraja o consumo, ou absorvem os aumentos de preços por meio de subsídios, o que coloca ainda mais pressão sobre seus orçamentos já distendidos.

"Moedas em queda e custos mais altos de importação de petróleo estão pressionando os padrões de crescimento de todos os países emergentes, dependentes de consumo pesado de energia", diz Amrita Sen, presidente da consultoria Energy Aspects.

IMPORTAÇÕES

Muitas economias em desenvolvimento se tornaram grandes importadoras de petróleo cru nos 10 últimos anos, à medida que sua industrialização avançava. Isso ajudou a manter os preços do petróleo acima de US$ 100 por barril, em um momento no qual os avanços no uso eficiente de combustível reduziam a demanda por petróleo nos Estados Unidos e Europa.

Mas à medida que suas moedas enfraquecem, os governos dos mercados emergentes podem enfrentar dificuldades para manter importações elevadas.

O governo da África do Sul anunciou que os preços do petróleo estavam em nível recorde na sexta-feira, depois que o Brent atingiu um pico histórico de mais de 1.210 rands por barril, na semana passada, enquanto na Turquia –onde a energia responde por mais de metade do deficit comercial–, o custo do petróleo subiu em 40% em termos de liras de abril para cá.

"Esse é um grande arrasto para os mercados emergentes, nos quais transporte e alimentos respondem pela maior parte dos gastos para muitas pessoas. Preços mais altos para os combustíveis significam que sobra menos dinheiro para outros gastos", disse Walter de Wet, diretor de pesquisa de commodities do Standard Bank, em Joanesburgo.

SUBSÍDIOS

Os operadores de petróleo dizem que até o momento a maioria dos mercados emergentes não reduziu importações, em larga medida porque programas de subsídios –que fixam os preços de venda ao consumidor– protegem os consumidores contra os preços mais altos.

Mas os subsídios começam a pesar demais nos orçamentos. Em outubro passado, a Indonésia previu que 11% de seu orçamento de 2014 seria gasto em subsídios aos combustíveis. Mas a rúpia indonésia está hoje sendo negociada 20% abaixo das projeções do governo, o que eleva significativamente o custo da medida.

Quando os altos preços do petróleo são repassados aos consumidores, isso pode exercer efeito imediato sobre a atividade econômica.

Na Índia, onde o governo elevou os preços do diesel depois da queda da rúpia na metade do ano passado, o consumo de combustível industrial caiu ante a marca do período do ano anterior em seis dos últimos sete meses. (AJAY MAKAN, BEN BLAND e *DANIEL DOMBEY)

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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