Folha de S. Paulo


Pessimismo com Argentina contém avanço maior da Bolsa; dólar sobe

A Bolsa brasileira se ressente nesta segunda-feira (27) de uma associação, por parte dos investidores, do Brasil com a Argentina que cria uma aversão generalizada a ativos de países emergentes e impede uma alta maior do mercado acionário brasileiro.

Os investidores digerem também o último relatório Focus, que reduziu a expansão do PIB (Produto Interno Bruto) em 2014 e elevou a projeção para a taxa básica de juros (Selic).

Às 13h19, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, subia 0,27%, aos 47.916 pontos.

As medidas intervencionistas do governo argentino respingam sobre os emergentes nesta segunda-feira, afirma André Moraes, analista da corretora Rico.com.vc.

Nesta segunda, o governo argentino anunciou que restringirá a compra de dólares como investimento aos cidadãos com renda mensal de no mínimo de 7.200 pesos (R$ 2.155) - o equivalente a dois salários mínimos -, registrados na Receita Federal do país.

A Casa Rosada também informou hoje que o limite para a aquisição da moeda americana será de US$ 2.000 por mês.

"O medo é de que os emergentes sejam contagiados pelo pessimismo em relação à Argentina. O investidor não quer saber se o Brasil é igual à Argentina. Ele quer tirar o dinheiro dele do jogo e ir embora", afirma.

Segundo ele, a falta de um ambiente seguro para investimento afeta a credibilidade dos outros emergentes. "O investidor gosta de segurança, e todo dia tem uma regra nova no país. A gente nunca vai saber se a regra vai melhorar ou piorar a situação", diz.

Um exemplo é o fato de o governo argentino ter voltado atrás novamente em relação à taxação sobre compra de dólares para viagens de turismo e gastos com cartão de crédito no exterior.

Na sexta-feira, o governo tinha anunciado que a alíquota cairia para 20% a partir de segunda-feira. No domingo, o ministro da Fazenda, Axel Kicillof, disse que seria mantida, por enquanto, a cobrança de 35% de imposto sobre essas operações.

Como resultado dessa instabilidade política, os investidores deixam de procurar o país. "Ninguém está investindo, o nível de reservas está baixíssimo, menos de 10% do que temos no Brasil", ressalta Moraes.

O consultor de investimentos Clodoir Vieira acredita que o investidor está associando o Brasil à Argentina. "O Brasil, querendo ou não, está caminhando para virar uma argentina. O país não faz nada para combater a inflação, continua expansionista e dando incentivo para o consumo através dos bancos oficiais", afirma.

"Tem um intervencionismo muito grande na economia. A intervenção para tentar reduzir o spread, em 2012, e as atuações sobre as elétricas estão na memória do investidor, que se pergunta qual o próximo setor que será atingido", diz.

O boletim Focus também contribui para o pessimismo com o mercado brasileiro, afirma o consultor de investimentos Clodoir Vieira. "O PIB foi reduzido ainda mais, para 1,91%, enquanto a projeção de Selic aumentou para 11%. Isso tudo gera um certo pessimismo no mercado", afirma.

Ao longo da semana os investidores prestarão atenção à reunião do Federal Reserve (Fed, banco central americano), nos dias 28 e 29, e também à temporada de divulgação de balanços de empresas. Nesta noite será divulgado o resultado da Apple.

Dados de vendas positivos nos EUA ajudam a impulsionar a Bolsa também.

O ritmo de crescimento do setor privado americano diminuiu marginalmente em janeiro, pressionado pelo declínio dos componentes de novos pedidos e de emprego, enquanto a importante leitura do setor de serviços atingiu a máxima em quatro meses, mostrou o relatório Índice dos Gerentes de Compras (PMI) do instituto Markit nesta segunda-feira.

Na Bolsa brasileira, destaque para as ações da B2W, controladora da Americanas.com e do Submarino.

Às 13h19, as ações da empresa subiam 32,96%, após a B2W ter anunciado aumento de capital privado, na sexta-feira. A estimativa é que o aumento de capital alcance R$ 2,38 bilhões, mediante emissão privada de 95,2 milhões de ações, ao preço de R$ 25 por papel.

Os papéis da empresa eram negociados a R$ 20,61.

DÓLAR

Após abrir perto da estabilidade, o dólar passou a subir com os investidores de olho na reunião do Fed. Às 13h11, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, subia 0,27%, a R$ 2,408. O dólar comercial, usado no comércio exterior, tinha alta de 0,45%, também a R$ 2,408.

Há a expectativa de que o banco central americano dê continuidade à sua política de redução dos estímulos que concede à economia dos Estados Unidos. O mercado espera um novo corte de US$ 10 bilhões em seu programa de recompra de títulos, de US$ 75 bilhões para US$ 65 bilhões mensais.

O corte dos estímulos enxugaria o volume de recursos disponíveis para investimento nos emergentes, como o Brasil, prejudicando tanto a Bolsa quanto o câmbio nacional.

Para Rodrigo Hudson, sócio-diretor da Cotar Câmbio, a tendência do dólar segue de alta, com a expectativa em torno da decisão do Fed pautando os investidores. "A crise na Argentina tem seu impacto sobre a cotação da moeda brasileira, ao aumentar a preocupação com os emergentes, mas o foco mesmo é na reunião do banco central americano", diz.

O Banco Central brasileiro deu continuidade às intervenções diárias no câmbio e vendeu oferta total de 4.000 contratos de swap tradicionais -equivalentes à venda futura de dólares. Foram 2.200 contratos com vencimento em 1º de setembro e 1.800 com vencimento em 1º de dezembro deste ano. A operação teve volume equivalente a US$ 197,2 milhões.

A autoridade monetária também realizou a oitava etapa da rolagem dos contratos de swap que vencem em 3 de fevereiro, vendendo a oferta total de 25.000 contratos. Com isso, restam apenas cerca de 10% do lote total do mês que vem, equivalente a US$ 11,028 bilhões.


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