Um thriller financeiro envolvendo a elite indiana nos EUA e uma compilação de ensaios que mostra onde está e para onde deveria ir a Índia.
Juntos, os livros "The Billionaire's Apprentice" ("O Aprendiz do bilionário"), de Anita Raghavan, e "Reimagining India", ("Reimaginando a Índia"), editado pela McKinsey, pintam um abrangente retrato do lugar da índia no mundo de hoje.
O bilionário de Sri Lanka Raj Rajaratnam foi condenado em 2011 a dez anos por negociar ações com informações privilegiadas, maior pena já imposta nos EUA para esse tipo de crime.
Rajaratnam era dono do fundo de hedge Galleon, que chegou a administrar US$ 7 bilhões e tinha lucros estratosféricos valendo-se de indiano-americanos bem posicionados que forneciam informações preciosas.
Quando Rajaratnam caiu, caíram junto grandes nomes da bem-sucedida comunidade indiano-americana. E é isso o que mostra o livro "Billionaire's Apprentice".
O mais famoso foi Rajat Gupta, que personificava o sucesso da comunidade indiana nos EUA. Gupta veio de origens pobres em Kolkata (antiga Calcutá), passou pela Harvard Business School e chegou a diretor-executivo da consultoria McKinsey. Era amigo do primeiro-ministro indiano Manmohan Singh e do ex-presidente Bill Clinton.
Membro do conselho de administração da Goldman Sachs, foi pego por gravações indicando que ele deu informações para Rajaratnam sobre o investimento salvador de Warren Buffett no banco. Pegou dois anos de prisão.
O livro de Anita –que foi repórter do "Wall Street Journal" por 18 anos– é viciante. Impossível parar de ler.
Já "Reimagining India" é um prato cheio para quem quer aprofundar seus conhecimentos sobre a segunda potência emergente da Ásia, embora não seja exatamente uma leitura leve.
O livro reúne ensaios de um time impressionante de indianófilos, economistas e megaempresários. Alguns: Bill Gates, o jornalista Fareed Zakaria e Mukesh Ambani, maior empresário da Índia.
PAÍS DO FUTURO
Após a Independência do país, entre 1950 e 1980, dizia-se que a Índia estava condenada à taxa hindu de crescimento de 3,5%. Após as reformas dos anos 1990 capitaneadas por Manmohan Singh, na época ministro das Finanças, o PIB deslanchou. Em 2006 e 2007, avançou 9,2% e 9,8% –taxas chinesas. Mas, nos últimos anos, o crescimento desacelerou –3,2% em 2012 e 3,8% no ano passado, segundo o FMI.
Para o Brasil, 3% não seriam má notícia. Mas a Índia, como aponta em seu ensaio o economista Arvind Subramanian, do Peterson Institute for International Economics, precisa crescer 8% para absorver o 1 milhão de trabalhadores que entram no mercado de trabalho todo mês.
Os ensaios nos mostram que a Índia, mais que o Brasil, é o "país do futuro". A renda per capita é de apenas US$ 1.500 –no Brasil, US$ 11.300 em 2012. A inflação ficou em 10,8% no ano passado, e o deficit do Orçamento, em 8,2%. Agências de classificação de risco ameaçam rebaixar a nota do país para "junk" (lixo).
Ruchir Sharma, que adora "bater" no Brasil em seus artigos para a revista "Foreign Affairs", não poupa a Índia em seu texto para o livro. Segundo Sharma, que é chefe da equipe de mercados emergentes no Morgan Stanley, a economia indiana empacou nos últimos anos por causa da falta de disciplina fiscal, do governo central intervencionista e da corrupção endêmica.
Com todos esses poréns, o país vai ultrapassar a China como nação mais populosa do mundo antes de 2025, tem um exército de mão de obra qualificada que fala inglês e possui diplomas em ciências e sua democracia permitiu o nascimento de um time impressionante de grandes empresas em plena fase de internacionalização. Ou seja, sobram ferramentas para a Índia se transformar na grande superpotência emergente da Ásia, igualando-se à China.
The Billionaire's Apprentice - The Rise of The Indian-American Elite and The Fall of The Galleon Hedge Fund
AUTORA Anita Raghavan
EDITORA Simon&Schuster
QUANTO U$$ 21,60 (R$ 52,30, 512 págs.)
AVALIAÇÃO Ótimo
*Reimagining India: Unlocking the Potential of Asia's Next Superpower"
AUTOR McKinsey (edição)
EDITORA Simon&Schuster
QUANTI US$ 14 na Amazon (R$ 31,40, 432 págs.)
AVALIAÇÃO Ótimo