Folha de S. Paulo


Investidores e analistas estão otimistas com México e cautelosos com Brasil

O Brasil não é o único país grande da América Latina cujo crescimento econômico em 2013 frustrou as expectativas.

O mesmo ocorreu em relação ao México, segunda maior economia da região.

O FMI (Fundo Monetário Internacional) esperava, em outubro de 2012, que as economias brasileira e mexicana crescessem, respectivamente, 3,9% e 3,5% no ano passado.

Os dados mais recentes apontam, no entanto, para expansão abaixo de 2,5% no Brasil e de 1,5% no México.

A diferença é que, apesar das frustrações, investidores e analistas continuam otimistas em relação às perspectivas da economia mexicana, mas adotaram um tom de cautela quanto ao Brasil.

As percepções distintas se refletem, por exemplo, nos movimentos do mercado acionário mexicano em comparação ao brasileiro em 2013. A Bolsa de Valores do México teve um recuo de 2,2% no ano passado, ante uma queda de 15,5% do Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira.

A diferença de tom em relação ao México é explicada pelo rápido avanço em uma agenda ambiciosa de reformas. Os primeiros passos mais modestos foram dados no apagar das luzes do governo de Felipe Calderón, do PAN (Partido da Ação Nacional), em 2012, mas o processo ganhou fôlego na administração atual de Enrique Peña Nieto, do PRI (Partido Revolucionário Institucional).

Editoria de Arte/Folhapress

REFORMAS

Nos últimos 18 meses, foram aprovadas reformas trabalhista, educacional, fiscal, financeira e, mais recentemente, um amplo projeto para a liberalização do setor de energia, que tem peso grande na economia do país.

"Isso foi impressionante, considerando os últimos 12 anos de paralisia legislativa", afirma Irene Mia, diretora de América Latina da consultoria EIU (Economist Intelligence Unit).

"Não consigo pensar em outro país da região -com a exceção talvez do Chile durante a era Pinochet- ou do mundo que tenha aprovado um pacote de reformas tão abrangente em tão pouco tempo."

Para analistas, o resultado das reformas aprovadas será uma elevação da capacidade de crescimento do México de cerca de 3,3% para 4,5% ou mais no médio prazo.

Segundo Gabriel Lozano, economista-chefe do JPMorgan para o México, as mudanças previstas para o setor de energia são as que têm maior potencial de puxar a expansão da economia mexicana nos próximos anos.

Ele ressalta que, embora a aprovação fosse esperada, a reforma foi mais favorável à atração de investimentos privados do que era previsto.

REGRAS DO JOGO

"Isso terá impacto positivo na atração de investimentos. Mas precisamos esperar que sejam definidas ainda algumas regras do jogo para poder avaliar melhor esse impacto", afirma Lozano.
A estatal de petróleo Pemex terá a prerrogativa de decidir, por exemplo, em que áreas vai querer atuar.

A expectativa, segundo Lozano, é que a empresa continue focada em águas rasas, na qual tem maior experiência, deixando que investidores privados entrem na exploração de águas profundas.

Rafael Amiel, diretor de América Latina da consultoria IHS Economics, destaca que o avanço do México nas reformas foi viabilizado por um pacto entre alguns partidos políticos do país.

O foco do governo na aprovação das reformas explica em parte o crescimento decepcionante da economiaem 2013.

"O novo governo não implementou nenhum projeto novo e investiu pouco, principalmente em infraestrutura", diz Amiel.

Outras barreiras à expansão da economia mexicana no ano passado foram o desempenho mais fraco do que o esperado dos EUA, principal destino das exportações do México, e uma crise no setor de construção civil.

Amiel e outros analistas ressaltam que o texto final de algumas das reformas aprovadas foi decepcionante.

O principal exemplo é a reforma tributária, considerada modesta e insuficiente para elevar o baixo nível de arrecadação do país -equivalente a apenas 10% do PIB- e reduzir a alta informalidade. O país também ainda enfrenta desafios grandes, como o impacto negativo da violência ligada ao narcotráfico.

CONSENSO

Mas existe consenso entre os especialistas de que, somadas, as mudanças estruturais aprovadas em diferentes áreas ajudarão a aumentar o crescimento.

A boa situação das contas externas do país contribui para a visão otimista de investidores.

No caso do Brasil, a deterioração das contas externas e da situação fiscal preocupa. Além disso, ao contrário do México, não tem ocorrido nos últimos anos avanço na agenda de reformas consideradas importantes para tornar o país mais competitivo.

Isso explica, segundo analistas, as expectativas diferentes em relação às duas principais economias latino-americanas.

Guillermo Arias - 9.jan.14/Xinhua
O presidente do México, Enrique Peña Nieto (centro), celebra com o presidente do Banco do México, Agustín Carstens (esquerda), e com o senador Raúl Cervantes (direita) a reforma financeira do país
O presidente do México, Enrique Peña Nieto (centro), celebra com o presidente do Banco do México, Agustín Carstens (esquerda), e com o senador Raúl Cervantes (direita) a reforma financeira do país

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