Folha de S. Paulo


Procura por dólar em espécie sobe até 40% com IOF maior no cartão pré-pago

A procura por dólar e outras moedas em espécie aumentou até 40% desde que o governo elevou, no fim de dezembro, a cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) no cartão de débito, saques em moeda estrangeira no exterior, compras de cheques de viagem (traveler cheque) e carregamento de cartões pré-pagos com moeda estrangeira.

A demanda pelos cartões pré-pagos caiu na mesma proporção, segundo dez corretoras de câmbio e bancos consultados pela Folha. A avaliação, no entanto, é de que a queda ficará aos poucos mais amena, uma vez que este tipo de produto oferece vantagens que, para alguns consumidores, compensam o imposto maior.

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"Fazemos cerca de 4.000 operações por dia. Antes, cerca de 50% desse total era com cartões pré-pago. Hoje, o percentual caiu para 30%. Houve uma clara migração para o dólar em espécie", diz Alexandre Fialho, diretor da Cotação, corretora do Banco Rendimento.

O diretor ressalta que alguns grupos de consumidores continuarão utilizando cartões pré-pagos, mesmo com a tributação maior. É o caso das pessoas que vão fazer intercâmbio no exterior por períodos longos, de seis meses, por exemplo.

"O pai que vai mandar o filho para uma temporada de estudos de seis meses na Austrália não vai preferir que ele leve todo o dinheiro que será utilizado nesse período em espécie, pois o risco de perda ou roubo é muito grande. As facilidades do cartão pré-pago, como o recarregamento à distância e o acompanhamento do extrato on-line, falam mais alto do que o imposto, neste caso", afirma.

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Uma alternativa para quem vai passar um longo período o no exterior seria abrir uma conta em banco no país de destino para o recebimento de remessas (transferências) internacionais. A medida não está isenta de taxas, embora elas sejam menores. O consumidor teria que lidar ainda com a burocracia de manter conta em banco em outro país.

Já o acompanhamento do extrato on-line também é possível para quem utiliza o cartão de crédito comum, com imposto igualmente de 6,38%. A diferença é que no cartão pré-pago a taxa de câmbio é sabida no momento em que o consumidor recarrega o cartão e, no cartão de crédito, apenas quando a fatura estiver fechada, no mês seguinte.

"Essa é uma vantagem bastante interessante, que pesa ainda mais em um cenário de forte oscilação do câmbio, como o atual", diz Luiz Almeida, vice-presidente de marketing da Super. "Quando o consumidor vê que a cotação do dólar caiu, sabe que é um dia bom para recarregar o cartão pré-pago. Assim, evita uma surpresa no futuro", acrescenta.

Desde que o governo anunciou a elevação do IOF nos cartões pré-pagos, em 27 de dezembro, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 0,98%, tendo chegado à máxima de R$ 2,395. Hoje, a moeda fechou em queda de 0,34%, a R$ 2,359.

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Para as corretoras e bancos consultados pela Folha, a segurança é outra vantagem do cartão pré-pago, que pode ser bloqueado e substituído a qualquer momento durante a viagem, em caso de roubo ou furto. O mesmo, porém, pode ser feito com o cartão de crédito.

Algumas instituições pensam em adotar medidas para aumentar a atratividade dos catões pré-pagos. "Geralmente trabalhamos com uma margem de lucro acima de 3% sobre a cotação do dólar para as operações com os cartões pré-pagos. Estamos pensando em reduzí-la", diz o vice-presidente de marketing da Super.

Uma taxa de câmbio ligeiramente melhor para o cartão pré-pago em relação ao dinheiro em espécie é comum entre as instituições, pois o custo do papel moeda também inclui os gastos com transporte e armazenamento desse produto.

"Mesmo assim, a diferença entre as cotações não compensa o imposto. É impossível dar um desconto tão grande", diz Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

O Banco Paulista revelou que subiu em 20% seus estoques de dinheiro em espécie para dar conta da demanda crescente. "Agora, são mais de US$ 70 milhões que temos neste tipo de produto espalhados por nossas praças pelo país", diz Tarcisio Rodrigues, diretor da instituição financeira.

Colaborou GABRIEL BALDOCCHI, de São Paulo


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