Folha de S. Paulo


Empresário brasileiro precisa deixar sua 'visão de quintal'

"É preciso descaracterizar o processo empreendedor como aventura mística da qual só sabemos os poucos exemplos que dão certo", diz Silvio Meira no livro "Novos Negócios Inovadores de Crescimento Empreendedor No Brasil".

Para Meira, que participa do mercado de tecnologia brasileiro desde a década de 1980, bem antes da atual febre das start-ups, não se pode ignorar os desastres empresariais causados "não por despreparo ou incompetência, mas pela complicação inerente ao processo de inovação e empreendedorismo no Brasil".

Ao longo do livro, o autor, que é presidente do conselho de administração do parque tecnológico Porto Digital, no Recife, mescla análises sobre as dificuldades encontradas por alguém que queira montar um negócio e dicas sobre o que ele deve questionar em suas ideias de empreendimento: montagem da equipe, formatação do serviço, formação de preços, abordagem a investidores etc.

Meira usa muita teoria acadêmica, que pode ser aprofundada por meio de documentos disponíveis na web e indicada por hiperlinks no rodapé das páginas.

A publicação se centra no que Meira classifica como "novos negócios inovadores de crescimento empreendedor": aqueles diferentes do que havia no mercado, que têm grande potencial de mudar o comportamento ao redor e crescem muito mais do que seus mercados.

Algo ainda raro no Brasil. Um dos motivos disso, diz Meira, é a própria educação dos empresários. É preciso, afirma, mudar radicalmente o sistema educacional para criar uma atitude empreendedora nos alunos e resolver, entre outros problemas, a falta de visão global do brasileiro. O Estado deveria, diz o livro, educar mais gente, com mais qualidade e "visão de mundo, não de quintal".

Para o autor, "quase qualquer estudante de graduação de informática brasileiro" poderia ter criado produtos de sucesso como Twitter e Instagram, mas "ficamos parados, mirando um mundinho onde não há nenhuma possibilidade de negócios verdadeiramente em rede, na rede".

O especialista tenta mostrar quais questionamentos devem ser feitos para inovar em diferentes pontos da cadeia de um produto ou serviço. Para ele, as maiores possibilidades de inovação estão no próprio modelo de negócios –no modo como as empresas ganham dinheiro com um sistema.

Ele cita o exemplo da Apple, que não foi a primeira a lançar um tocador de MP3 –o iPod chegou às lojas em 2001, depois de concorrentes de empresas fortes como a Sony. Mas foi a companhia de Steve Jobs que desenhou o modelo em que faturava vendendo o aparelho e também oferecendo músicas, com a loja virtual iTunes. Todo o ciclo ficou controlado por ela.

"Pena que, no Brasil, a vasta maioria dos novos (e pequenos) negócios seja uma cópia –muito malfeita, na maioria dos casos– do que existe lá fora", diz o autor.

"NOVOS NEGÓCIOS INOVADORES DE CRESCIMENTO EMPREENDEDOR NO BRASIL"
AUTOR Silvio Meira
EDITORA Casa da Palavra
QUANTO R$ 49,90 (416 págs.)
AVALIAÇÃO Bom


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