Folha de S. Paulo


Dólar sobe a R$ 2,395 e Bolsa cai mais de 2% em dia de cautela com economia

A preocupação dos investidores com a economia brasileira voltou a afetar negativamente os mercados nesta quinta-feira (9). O movimento foi intensificado pela expectativa de divulgação de fortes dados do mercado de trabalho americano amanhã, o que pode acelerar a retirada dos estímulos nos EUA, além de dados ruins da China.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou em queda de 2,50%, a 49.310 pontos. Foi a maior baixa diária do Ibovespa desde 30 de setembro do ano passado, quando registrou desvalorização de 2,61%. Também foi a primeira vez que o índice encerrou abaixo de 50 mil pontos desde 9 de agosto, quando ficou em 49.874 pontos.

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No câmbio, o dólar á vista, referência no mercado financeiro, encerrou o dia com alta de 0,25% em relação ao real, cotado em R$ 2,395 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 0,29%, a R$ 2,397.

Este é o maior valor para o dólar desde 22 de agosto, quando a moeda chegou a bater os R$ 2,45, forçando o Banco Central do Brasil a adotar um programa de intervenções diárias no câmbio para tentar conter a escalada da cotação.

"Tivemos em 2013 a maior saída de dólares do país desde 2002, a elevação do IOF [Imposto sobre Operações Financeiras] pelo governo nos cartões pré-pagos pode não ser suficiente para frear os gastos no exterior e ainda permanecem as preocupações sobre um possível corte na nota soberana do Brasil. Tudo isso força a cotação do dólar para cima", diz Reginaldo Siaca, superintendente de câmbio da Advanced Corretora.

Segundo ele, o mercado não tem motivos para enxergar uma melhora na economia brasileira em 2014. "Com Carnaval, Copa do Mundo e eleição, o crescimento [econômico] já está comprometido", completa.

"O que piora o quadro é que ninguém do governo pode vir a público para botar panos quentes, como foi feito o ano passado inteiro, porque o governo está em recesso", avalia Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.

A alta do dólar hoje ocorreu mesmo com a intervenção programada do BC brasileiro no mercado, através da venda de 4 mil contratos de swaps cambiais tradicionais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro), por US$ 199,2 milhões.

EUA E CHINA

Na China, a inflação anual ao consumidor desacelerou com mais força do que o esperado em dezembro, para 2,5%, a mínima em sete meses. O dado sugere um consumo menor no principal parceiro comercial do Brasil, o que afeta principalmente as empresas produtoras de matérias-primas ao redor do mundo.

As ações mais negociadas da Vale, que representam mais de 8% do Ibovespa, fecharam em queda de 3,70%. A China é o principal cliente internacional da mineradora brasileira. Os papéis mais negociados da Petrobras, que também representam mais de 8% do Ibovespa, cederam 3,03%.

Apenas seis das 72 ações que compõem o índice fecharam no azul: ALL (+8,80%), Cosan (+1,06%), TIM (+0,30%), Braskem (+0,25%) e os papéis mais negociados da Oi (+0,50%).

O jornal "Valor Econômico" afirmou hoje que uma fusão entre a ALL e a Rumo Logística, companhia de transporte de açúcar da Cosan, está em avaliação como solução para a disputa judicial entre as empresas a respeito do cumprimento do transporte de volumes contratados para escoamento de açúcar.

Nos EUA, o temor é de que os dados de emprego que serão divulgados amanhã colaborem para que o Fed, banco central americano, acelere o ritmo de retirada de seu estímulo econômico. Isso enxugaria o volume de recursos disponíveis para investimento nos emergentes, como o Brasil, prejudicando tanto a Bolsa quanto o câmbio nacional.

Ontem, a ata da última reunião do Fed mostrou que os membros do banco central dos EUA consideravam no mês passado que o programa de estímulos iniciado no fim de 2012 já estava perdendo poderes e trazendo riscos para a economia.

O Fed, em dezembro, deu o primeiro passo para reduzir sua política para tirar a economia americana do buraco: diminuiu de US$ 85 bilhões para US$ 75 bilhões a injeção mensal de estímulo, via compra de títulos.

Dados da Europa, como a melhora na confiança econômica e na indústria alemã, ficaram em segundo plano. O Banco Central Europeu manteve sua principal taxa de juros na mínima recorde de 0,25% ao ano, numa medida amplamente esperada pelo mercado. A Inglaterra também manteve inalterada sua política monetária.


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