Folha de S. Paulo


Treze setores têm crescimento de dois dígitos em ano fraco para a economia

O ano de 2013 terminou com a economia crescendo a um ritmo moderado e com alguns percalços pelo caminho, como a mudança da política de estímulos à recuperação nos EUA e a inflação ainda alta no Brasil.

Porém, não foi um ano ruim para todos. Abaixo, estão reunidas algumas das 13 histórias positivas, que se sobressaíram no ano que passou. São setores com crescimento acima de 10% e que inspiram expectativas de um futuro promissor. Para ver o resto da lista, clique nos links.

Vendas de smartphones e tablets cresceram mais que 100% em 2013
Cartões de crédito e débito e seguros cresceram acima de 10% em 2013

ENERGIA EÓLICA

Em 2013, a contratação de energia eólica em leilões públicos cresceu 16 vezes e alcançou um recorde do setor: 4,71 GW (gigawatt), ante apenas 0,281 GW no ano anterior. Segundo Elbia Melo, presidente executiva da Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), em 2012, a contratação de energia ficou muito abaixo do normal, cerca de 10% do contratado em anos anteriores (entre 3 e 5 GW). Isso explica a diferença colossal, com 1.500% de crescimento no ano passado.

Em 2011, um ano melhor para comparação, segundo ela, a contratação ficou em 2,7 GW, o que representa um aumento de 74% em 2013.

Nos leilões, ganha quem oferecer a energia mais barata. Nesse quesito, a energia eólica tem perdido apenas para as usinas hidrelétricas que, no entanto, ou tem uma produção restrita quando se trata das PCHs (pequenas centrais hidrelétricas) ou já estão saturadas em termos de lugares adequados para implantação.

A última leiloada, de São Manoel, foi a maior desde Belo Monte, em 2010. Enquanto isso, segundo Nivaldi Castro, da Coppe -UFRJ (instituto que realiza pesquisas na área de engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), o setor eólico ganhou competitividade por reunir empresas europeias de alto desenvolvimento tecnológico que, com a crise, quiseram ampliar sua abrangência territorial.

Em leilão no dia 13 de dezembro, 97 eólicas venderam sua energia por R$ 119,03 por MWh (Megawatt-hora). No mesmo leilão, os contratos por quantidade de energia para empreendimentos hidráulicos tiveram preço médio de R$ 95,4 por MWh e as térmicas, de R$ 133,75.

CAMINHÕES

Depois de registrar a maior queda de produção em 50 anos em 2012, o setor de caminhões registra aumento de 47% na fabricação de veículos até novembro.

O desempenho no ano de 2012 foi afetado pela troca da tecnologia de motores, que elevou o preço dos caminhões em 15%. A novidade mais cara, em um ano de quebra de safra e crescimento baixo, levou a produção a recuar 40,5%, a pior queda desde 1963.

As vendas também se recuperam e devem fechar o ano com aumento entre 10% e 11%, segundo estimativa do presidente da MAN –a maior fabricante do país–, Roberto Cortes. No ano passado, elas caíram 20%.

O crescimento, contudo, não foi capaz de recuperar o nível de vendas pré-2012. Só ao fim de 2014, acredita Cortes, isso será possível. O empresário prevê um crescimento das vendas entre 5% e 7% no ano que começa. Se confirmado, novamente ficará acima do conjunto da economia, que deve crescer só 2,3%.

Os dados são da Anfavea (associação que reúne os fabricantes de veículos).

Neste ano, segundo Cortes, a safra recorde e o empurrão dado por juros governamentais muito baixos (de 3,5% ao ano contra uma inflação de 5,5%) incentivaram o setor.
"Quase todo o crescimento veio o agronegócio", afirma Cortes.

A venda de caminhões pesados aumentou 33%. Um dos fatores é que, com a dificuldade para escoar a safra, os produtores agrícolas usam esses veículos como estoque, enquanto esperam na fila para exportar.

Outro setor que está contribuindo para o crescimento das vendas é o setor público. O Exército comprou 1,6 mil veículos e o PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento) absorveu outros 424 (dados até agosto).

SOJA

Depois de uma quebra de safra em 2012, provocada pela seca nas regiões produtoras ao Sul do país, a produção de soja brasileira se recuperou e cresceu 23,8% neste ano, segundo o IBGE.

Foram 81 milhões de toneladas de grãos, e mais da metade foi abastecer mercados consumidores no exterior, principalmente a China –que absorveu sozinha 32 milhões de toneladas.
A pujança desta lavoura, responsável por cerca de 40% da produção nacional de grãos, leguminosas e oleaginosas, foi um oásis na seca de boas notícias da economia neste ano. Puxada pela soja, a agropecuária registra um crescimento de 8% em 2013, contra um PIB de 2,4%.

O forte consumo chinês dita as regras deste mercado. Como o país asiático segue com crescimento ao redor de 7,5% ao ano, a expectativa é que em 2014 a produção cresça ainda mais. A estimativa da Abiove (associação que reúne os produtores) é de um aumento de 6%.

O dólar mais caro, como preveem economistas para o ano que começa, deve contribuir para uma melhor rentabilidade do agricultor, mesmo que os preços fiquem mais baixos em dólar com a maior oferta.

Em seu mais recente levantamento de safra, divulgado neste mês, o IBGE detectou expectativa de aumento de produção bem distante da região Centro-Oeste. Piauí e Bahia esperam aumentar a safra em 92% e 29%.

O nó ao horizonte é a dependência crescente das exportações para a China. A indústria de processamento, que faz óleo e farelo, recuou 2,8% em 2013. Segundo Daniel Furlan, economista da Abiove, os processadores se ressentem por não ter as mesmas vantagens tributárias para exportar do que os produtores de grãos.

RETROESCAVADEIRAS

Um mercado dominado por grandes marcas globais (CNH, Caterpillar e AGCO), com fábricas no Brasil, a produção de retroescavadeiras no país cresceu a um ritmo acelerado pelo segundo ano consecutivo.

Até novembro, segundo a Anfavea (associação que reúne os fabricantes de veículos), foram fabricados 8.549 veículos, 20,4% mais do que no mesmo período do ano passado. Em 2012, o avanço foi de 20%.

As vendas crescem em ritmo ainda mais acelerado, ao redor de 24%, sob influência da demanda governamental.

Segundo o mais recente relatório de acompanhamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), de outubro, o governo federal havia entregado 4.475 máquinas para municípios desde 2011. Mais da metade, porém, ficou concentrada entre maio e agosto deste ano (2.562).

Os municípios atingidos pela seca, no Nordeste, foram os mais beneficiados.

ÁGUA MINERAL

Embalado pelo aumento de renda da população, o setor de água mineral estima ter vendido 11 bilhões de litros em 2013, um crescimento de 14% em relação a 2012.

Segundo Carlos Alberto Lancia, presidente da Abinam (associação que reúne produtores), o setor cresce a taxas acima de 10% há cinco anos. Em 2014, a expectativa é alcançar inéditos 20% de crescimento, na esteira da Copa do Mundo.

O plano é criar uma certificação, em parceria com o Inmetro, para turbinar a venda de garrafas de 330 ml e 500 ml durante os jogos.

Inventado nos EUA, para abastecer escritórios, o garrafão de água mineral representa hoje 55% das vendas de água mineral no país. O garrafão de 10 litros, produto relativamente recente, já abocanha 8% do faturamento do setor. Para Lancia, um dos motivos da elevada procura por galões é a falta de abastecimento de água potável em áreas como favelas.

O sonho do setor é alcançar um patamar de consumo mais próximo do europeu. Lá, o consumo de água mineral por habitante é de cerca de 140 litros por ano, no Brasil é 48 litros por ano. Para tanto, será preciso enfrentar a concorrência dos filtros.

Lancia, contudo, afirma que o maior competidor com a água mineral é o refrigerante.

MÁQUINAS AGRÍCOLAS

De carona na safra recorde de grãos de 2013, o setor de máquinas agrícolas –pulverizadores, plantadeiras e arados –deve encerrar o ano com um crescimento de até 15% no faturamento. Até outubro, cresceu 18%.

O resultado é uma exceção no mercado brasileiro de máquinas e equipamentos, infestado por produtos importados que levaram os fabricantes nacionais a registrar recuo de 5% no faturamento.

Uma infestação de outra ordem, porém, é motor do crescimento do setor. A larva helicoverpa, que originalmente atacava as plantações de milho, passou a destruir também lavouras de soja e algodão. No contra-ataque, fazendeiros têm utilizado mais pulverizadores de inseticidas.

Gilberto Zancopé, presidente da Câmara de Máquinas Agrícolas da Abimaq (entidade que reúne os fabricantes de equipamentos), é dono da Montana, empresa que fabrica este tipo de máquina. Segundo ele, o agricultor vem intensificando a compra de pulverizadores para se precaver da praga.

Com pouca ou nenhuma concorrência externa, os produtores de máquinas agrícolas brasileiros registram aumento de receita há quatro anos. "2013 foi o melhor ano da história do setor", afirma.

Outro vetor de crescimento foi o crédito mais barato oferecido pelo BNDES. Quem quisesse comprar máquinas poderia pagar juros de até 3,5% ao ano, o que significa uma taxa negativa em tempos de inflação rodando a 5,5% ao ano. Pequenos agricultores, estimulados pelo governo, foram os principais interessados, afirma Zancopé.

Em 2014, porém, ele prevê moderação no crescimento. Um incremento de 0,5% é o esperado.

Segundo o empresário, o motivo é que a safra nos EUA e no Brasil foi boa, o que fez os preços caírem um pouco ao longo de 2013. Além disso, com a necessidade de mais pulverização, a rentabilidade do agricultor fica menor. Com menor lucratividade, os investimentos em equipamentos serão menores.

"Ainda assim, será bom, porque vamos estacionar em um patamar elevado de produção", afirma.


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