Folha de S. Paulo


Burocracia é pior que crise ou inflação, indica estudo

Nem inflação mais alta, nem crescimento fraco. As maiores barreiras ao desenvolvimento de pequenos negócios no Brasil são o excesso de burocracia e as dificuldades logísticas.

É o que revela pesquisa com 1.429 empresários feita pelo Centro de Pesquisas em Estratégia do Insper, que incluiu uma pergunta exclusiva da Folha sobre os maiores empecilhos à expansão das companhias de menor porte.

Países criaram locais únicos de atendimento para reduzir a burocracia

Para 25,8% dos entrevistados, problemas como a papelada são mais nocivos do que aspectos negativos da conjuntura econômica.

Leonardo Soares/Folhapress
André Fernandes, da MV Engenharia de Alimentos, levou dois meses para receber fatura
André Fernandes, da MV Engenharia de Alimentos, levou dois meses para receber fatura

"É um resultado surpreendente", afirma José Luiz Rossi Júnior, pesquisador do Insper. "Mostra que há impedimentos do dia a dia que atrapalham demais as pequenas empresas e mobilizam recursos que poderiam estar indo para investimentos."

A enquete com representantes de negócios de pequeno e médio porte, feita com apoio do Santander, foi realizada em outubro e novembro.

Em segundo lugar entre os problemas apontados, aparece o aumento da taxa de juros nos últimos meses, apontada como principal barreira por 25,6% entrevistados.

Segundo Rossi Júnior, as pequenas empresas são mais dependentes de linhas de financiamento de curto prazo, como capital de giro, cujo custo é bastante sensível à elevação dos juros básicos.

"Embora a alta de juros recente seja conjuntural, eles partem de um patamar elevado", diz Júlio César Durante, consultor do Sebrae-SP.

Editoria de Arte/Folhapress

Durante ressalta que falta estrutura às pequenas empresas para lidar com problemas como o excesso de burocracia e a dificuldade de conseguir empréstimos.

"Empresas grandes têm departamentos jurídicos e tributários, as menores, não, e isso dificulta muito", diz.

DIFICULDADES

Ele afirma que uma parcela não desprezível do faturamento das pequenas empresas é destinada a cobrir os custos para cumprir com suas obrigações.

O empresário André Fernandes diz sentir isso no cotidiano de sua consultoria, a MV Engenharia de Alimentos, com 12 anos de mercado.

Ele conta que há complicações pequenas e frequentes como o fato de que certos bancos não aceitam o pagamento de determinadas contas ou a dificuldade em quitar uma obrigação atrasada.

Recentemente, Fernandes levou dois meses para receber uma ordem de pagamento feita por uma empresa espanhola para a qual tinha prestado serviços no Brasil.

"Isso atrapalha o negócio, a área financeira faz um planejamento contando com aquela receita", diz.

Fernandes afirma que há profissionais que o procuram para abrir um negócio e acabam desistindo. "Não raro são necessárias documentações diferentes, que precisam ser apresentadas em diferentes órgãos públicos".

Ana Paula Vironez enfrentou isso para abrir uma loja de tintas. O excesso de documentação e a lentidão dos processos fizeram com que a inauguração, ocorrida em novembro, atrasasse dois meses.

"Perdi o melhor período para minha loja se tornar conhecida antes do fim do ano", diz ela.


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