Folha de S. Paulo


'Não herdei minha carreira', diz presidente do Casino

O varejo não se faz só de herdeiros. É assim que o presidente do grupo Casino, Jean-Charles Naouri, responde aos que criticaram o seu comando à frente do segundo maior varejista da França, e controlador do grupo brasileiro Pão de Açúcar, o maior da América Latina.

Desde que assumiu o conselho de administração da companhia em setembro deste ano, quando o empresário Abilio Diniz (herdeiro do grupo fundado por seu pai nos anos 40) deixou o GPA para concentrar os seus negócios na BRF, é a primeira vez que Naouri detalha o plano do Casino para o Brasil e para expandir sua atuação na África e na Ásia.

Na sede do varejista, em Paris, o executivo disse que o grupo tem ambição de abrir "milhares" de lojas de conveniência no país, como as lojas da bandeira Mini Mercado, avançar em diferentes formatos para atender as necessidades do consumidor e ser o número 1 em vendas pela internet, como é hoje na França.

Philippe Wojazer/Reuters
O presidente do Casino, Jean-Charles Naouri
O presidente do Casino, Jean-Charles Naouri

A CDiscount, empresa on-line do grupo Casino, mantém a posição de líder do varejo na internet à frente da Amazon, com uma política agressiva de preços e um sistema de entregas em que o cliente faz a compra pela internet e pode retirar em uma loja do grupo sem a cobrança de frete.

Hoje a Nova Pontocom, empresa brasileira formada pelos sites das Casas Bahia, Ponto Frio e Extra, é a segunda do setor. Perde para a B2W, que reúne as vendas das lojas Americanas e Submarino.

A seguir leia os principais trechos da entrevista concedida:

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BRASIL
O fato de ter crescimento menor no terceiro trimestre não nos preocupa. Acreditamos no pais, nos habitantes. Não estamos preocupados com resultados pontuais, não têm impacto em nossos planos. O que temos para o Pais é uma visão de longo prazo. Acreditamos no Brasil por motivos fundamentais. (...)

ESTRATÉGIAS E INFLAÇÃO
Para o varejo o que importa é manter os volumes vendidos elevados e ampliar a parcela de mercado, razão pela qual é importante acentuar a queda de preço dos produtos como elemento essencial para o cliente e para sermos competitivos.

Queremos que os clientes tenham várias opções de preços e custos. Uma delas por exemplo é mantermos a política de preços em hipermercados (atual campanha do Extra). Ser competitivo em preços é muito importante.

EXPANSÃO NO BRASIL
O conceito de proximidade, com lojas de mercados de vizinhança para atender as diferentes necessidades do consumidor, seja de 50, 100 ou 200 metros quadrados é importante. São Paulo é uma cidade ideal (para receber novos formatos).

O segredo é saber adaptar os novos formatos à cada realidade. E o GPA tem esse "knowhow" para encontrar formato de preço, política promocional, espaço para premium e ao mesmo tempo lidar com questões chave como logística para atender essa estrutura.

No Brasil, temos ainda o Assaí, imbatível nos preços, temos as lojas de vizinhança (Extra), o e-commerce (Novapontocom). Vamos continuar investindo nos mercados de vizinhança.

Estamos otimistas com o desenvolvimento desse tipo de loja. São quase 200 mini-mercados no Brasil e devemos acelerar o ritmo de abertura no Brasil. Na França são mais de 6.000 lojas de proximidade. Na Tailândia, 7.000.

CONSUMIDOR MODERNO
O consumidor de hoje é um consumidor moderno, exigente, quer e procura o formato que mais lhe convém. Na Franca, o que fazemos não é somente varejo, mas comércio de precisão, com lojas de conveniência, hipermercados, lojas de desconto.

EXPANSÃO MUNDIAL
Eu assumi o grupo em 1998 e decidi estender as operações para além da França. O mercado francês não crescia e era preciso encontrar alternativas para avançar. Fomos em busca de países de grande crescimento.

Hoje, estamos no Vietnã, na Tailândia, na Colômbia e no Brasil. Não somos como os outros grupos que só querem fincar bandeira. Temos um modelo de franquia na África e devemos ampliar nossa presença nesse formato primeiro. É uma forma de estarmos prontos para um dia ampliar a presença lá.

Não será em 2014 ou 2015, mas o sistema de franquia é uma etapa que antecede a etapa de nos fixarmos no pais, com nossas bandeiras e marcas próprias. Também temos plano para ampliar presença na Ásia, onde já estamos no Vietnã desde 1998.

DNA FORA DO VAREJO
Quando entrei no grupo, em 1998, o faturamento era de € 5 bilhões. Neste ano, fomos para € 55 bilhões. Não costumo olhar para trás, o que se coloca de fato são os desafios que estão pela frente.

De fato, não sou herdeiro de um grupo de varejo (fala discretamente sem fazer referencia direta ao empresário Abilio Diniz, mas em alusão a criticas que Naouri não vinha de uma família do varejo, como o brasileiro). Talvez isso seja um defeito. Mas não herdei, e sim construí minha carreira. Comecei sem um tostão e hoje estou à frente desse grupo que tem uma expansão mundial.

PRESENTE
Assumimos o controle financeiro e operacional (da Via Varejo) e começamos uma nova fase. Aceleramos o desenvolvimento do GPA e desbloqueamos a situação acionária na Via Varejo, nomeamos um novo presidente, assumimos o controle completo da Novapontocom e queremos conquistar a liderança no e-commerce (no Brasil, duas lojas do GPA começaram há poucas semanas a fazer a retirada de produtos comprados pela internet a exemplo do que ocorre na CDiscount na França )

A jornalista CLAUDIA ROLLI viajou a convite do Pão de Açúcar


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