Folha de S. Paulo


Visitas a sites pornô são rastreadas por centenas de companhias

Quase 900 milhões de internautas foram rastreados por centenas de companhias de internet e de publicidade ao visitarem sites pornô no terceiro trimestre de 2013. Os dados são da Ghostery, uma companhia que monitora o rastreamento online.

Os detalhes de rastreamento incluem informações sobre o endereço da página, a duração da visita e o número de cliques que o visitante registra no site.

Enquanto o debate sobre a privacidade digital continua a fervilhar, a preocupação quanto às centenas de milhões de internautas que visitam sites pornô se resume a uma questão: determinar se essas atividades são rastreadas e se, em última análise, poderão ser usadas para fazer o julgamento deles.

Os defensores da privacidade temem que detalhes sobre essas visitas a sites de orientação adulta possam ser incorporados a grandes dossiês de que empresas de internet, publicidade e dados criam sobre indivíduos, e que são usados para personalizar os anúncios e conteúdo que as pessoas veem.

Uma operadora de cartões de crédito, por exemplo, poderia optar por não direcionar anúncios a um internauta que visite sites pornográficos regularmente, por vê-lo como cliente de risco. Já uma companhia de jogos de azar poderia direcionar mais anúncios a pessoas que passem horas em sites pornô, considerando que elas têm maior propensão a se viciar em algo.

REGULAMENTAÇÃO

Embora algumas companhias afirmem que o comportamento dos visitantes a sites adultos não seja usado para determinar que anúncios os internautas recebem, as normas de privacidade de diversas empresas de internet e publicidade não rejeitam a prática explicitamente.

A regulamentação existente e as normas autorregulatórias do setor tampouco proíbem o rastreamento ou uso de dados relacionados ao interesse em entretenimento adulto.

"Como profissionais da privacidade, às vezes pensamos demais sobre as coisas, especialmente quando se trata de considerar de que maneira a tecnologia funciona. Mas o que realmente interessa aos usuários finais?", diz Andy Kahl, diretor de análise de dados da Evidon, a companhia de análise de dados e proteção à privacidade que é dona da Ghostery.

"Um internauta médio procura coisas na Internet sobre as quais ele não deseja que outras pessoas saibam."

A notícia surge depois de revelações de que a NSA (Agência Nacional de Segurança dos EUA) rastreou as visitas de seis muçulmanos a sites pornô, o que poderia ser usado para prejudicar suas reputações, de acordo com documento fornecido ao Huffington Post por Edward Snowden, o ex-prestador de serviços à NSA que denunciou irregularidades nos serviços de inteligência americanos.

De acordo com os dados da Ghostery, 869 rastreadores foram identificados em sites pornô no terceiro trimestre. A maioria dessas empresas também recolhe informações sobre as atividades das pessoas na web em geral.

INDÚSTRIA PORNÔ

A pornografia domina a web. Os sites pornô respondem por cerca de 15% da internet. Aproximadamente 25% das buscas online - ou 68 milhões ao dia - envolvem pornografia, de acordo com estimativas de analistas.

Os sites de conteúdo adulto cada vez mais dependem de publicidade para ganhar dinheiro, já que a receita com assinaturas caiu de US$ 20 bilhões em 2005 para US$ 10 bilhões em 2011. Dos mais de cinco milhões de sites desse tipo, estima-se que mais de 85% sejam bancados por publicidade.

Embora os sites pornográficos trabalhem há muito com companhias de publicidade especializadas em entretenimento adulto, recentemente vêm recorrendo às mesmas tecnologias e serviços usados na web convencional.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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