Folha de S. Paulo


Grupo Hermes desiste do Comprafacil.com e quer leiloar marca

Com dívidas somando quase R$ 600 milhões, o grupo Hermes, dono do site Comprafacil.com, irá se desfazer do negócio de varejo online e se dedicar exclusivamente à venda por catálogos de utensílios domésticos, roupas e outros artigos, atividade exercida pela companhia desde a década de 1940.

Em entrevista à agência de notícias Reuters, o diretor de operações do grupo, José Luiz Volpini, afirmou que a estratégia faz parte da reestruturação da empresa, que entrou com pedido de recuperação judicial na véspera, no Rio de Janeiro.

"O e-commerce é que causou essa situação. Estamos descontinuando porque é negócio de capital intensivo: você compra [produto] para pagar em 90 dias, mas recebe [do cliente] em 12 meses", disse.

"A infraestrutura urbana no Brasil é péssima. O processo de entrega é complexo e corrói margens. É preciso escala muito grande para suportar coisas como essas", observou o executivo. "Estamos assumidamente dizendo que não é para o nosso tamanho".

Agora, a companhia deverá leiloar a marca Comprafacil.com, disse Volpini, acreditando no apelo do nome. O site, que registrou vendas anuais na casa de R$ 1,5 bilhão, continuará em operação até lá, mas com o estoque reduzido. Ativos físicos deverão ser leiloados separadamente.

Antes da decisão, o negócio de varejo online já havia sido ofertado a empresas como a Nova Pontocom, da ViaVarejo, segundo fonte do setor com conhecimento do assunto.

Sem citar potenciais compradores, Volpini afirmou que a administração espera uma venda mais fácil no cenário de recuperação judicial, que isenta interessados de lidar com riscos trabalhistas ou de sucessão.

A administração do sites de terceiros também será descontinuada pelo Grupo Hermes, que chegou a operar as lojas online de empresas como Som Livre, Ipiranga, Globo Marcas e Ambev.

Na semana passada, inclusive, a B2W, dona de bandeiras como Submarino, Shoptime e Americanas.com, anunciou ter vencido a concorrência para a operação da Ambev na Internet. Volpini, no entanto, negou que o fato tenha influenciado o pedido de recuperação judicial da empresa.

"A administração de lojas de terceiros nunca foi negócio expressivo no grupo", afirmou, destacando que sua representatividade na receita total "não passava de um dígito".

FUTURO

O processo de recuperação judicial será comandado por Marcelo Gomes, diretor-geral da Alvarez & Marsal, consultoria contratada pelo Hermes. Arthur Negri assume como novo presidente da empresa, no lugar de Gustavo Bach.

Durante o período de recuperação, os credores da empresa não poderão executar as dívidas por um prazo de 180 dias, durante os quais o Hermes irá apresentar "em juízo o seu plano de recuperação e liquidação de obrigações, visando sempre a continuidade dos negócios", disse o grupo, em comunicado.

Apresentando-se como a terceira maior empresa do Brasil em vendas por catálogos, a companhia teve faturamento anual de cerca de R$ 700 milhões com o negócio, segundo Volpini.

A intenção é dar foco às vendas diretas daqui para frente, tirando proveito de uma rede com 500 mil revendedores para fechar uma futura parceria na venda de cosméticos, mercado ainda pouco explorado pela empresa.

"O catálogo Hermes sempre teve bom resultado e o mercado de vendas diretas tem apresentado boas taxas de crescimento, mesmo com o fator internet, porque o Brasil tem expansão territorial enorme e muitos municípios com oferta de produtos razoavelmente restrita", disse Volpini.


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